Capítulo 53: Eu vou mata-lo.

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Manu me levou para o quarto dela e ficou me abraçando até que eu estivesse mais calma. Fiquei feliz por ela não me questionar por nada, porque tinha certeza que eu também não saberia explicar o que estava acontecendo naquele momento. Eu não sabia o que estava fazendo. Eu só queria que Felipe ficasse bem.

Quando amanheceu deixei o quarto de Manu e voltei para o meu para me arrumar para as aulas da manhã. Léo ainda estava dormindo, o que me deixou aliviada. Eu não precisaria explicar a ele o porquê do meu rosto estar todo inchado por eu ter passado a noite chorando.

Fui pra aula sem falar com Felipe ou vê-lo. Queria falar com ele mais do que qualquer outra coisa, mais tinha medo de desabar se tentasse fazer isso. Ele deveria estar pensando no que iria falar na reitoria para tentar reverter a situação. Eu estava esperando por algum sinal de Thiago de que ele havia resolvido tudo.

Passei a manhã toda em um estado horrível, a ponto de Melissa ficar preocupada comigo. Tive que repetir pra ela que estava bem, umas 10 vezes, até que ela me deixasse em paz. Ignorei as mensagens de Léo também, com medo de piorar ainda mais as coisas. Eu estava no meio de uma corda em que Thiago e Felipe ocupavam as pontas opostas. E a corda estava arrebentando para o lado de Felipe.

Thiago — Já fiz o que você queria.
Você tem até a noite pra terminar com ele.
E não tente tirar com a minha cara, Júlia.

Apaguei a tela do celular ao ver a mensagem de Thiago, sentindo um nó imenso se formar na minha garganta. Felipe ia até a reitoria agora, no horário do almoço. Sabia disso porque tinha mandado mensagem para Bernardo perguntando. Então eu logo descobriria se Thiago realmente resolveu a situação.

Abri a porta do apartamento, vendo a sombra do meu irmão na cozinha quando passei pela porta, antes de seguir para o meu quarto. Um buraco se abriu no meu estômago quando vi que ele estava vindo atrás de mim. Não precisava nem olhar pra ele pra saber que ele não estava nem um pouco feliz.

—Você vai falar por conta própria ou vou poder tirar minhas próprias conclusões? —Léo indagou, segurando a porta do meu quarto quando fiz menção de fechá-la. Olhei pro rosto dele, vendo sua expressão tão séria, como se ele estivesse furioso comigo. —A Manu me contou.

Soltei a porta, deixando que ele a empurrasse para o lado e entrasse no quarto atrás de mim. Virei as costas e joguei minha mochila no chão, antes de me sentar na cama e esconder o rosto entre as mãos. Não sabia se ficava constrangida, irritada ou aliviada. Estava uma mistura das três coisas. Uma confusão de dentro para fora. Eu odiava Thiago mais do que qualquer coisa no mundo por ele me colocar nessa situação. Odeio pensar nele e queria tanto que ele simplesmente sumisse, morresse e me deixasse em paz.

—Eu só estava tentando resolver as coisas, Léo. Eu só não queria que Felipe sofresse por causa daquele babaca! —Afirmei, finalmente tendo coragem de encarar meu irmão. —Ele me ameaçou e eu não dei ouvidos. Então isso aconteceu!

—Por que não me contou? Por que não me falou antes? Eu teria te ajudado. Teríamos dado um jeito nisso, Júlia! —Exclamou, falando tão alto que eu tinha certeza de que o prédio todo podia ouvir, o que me fez encolher um pouco. —E aí você pretendia voltar pra ele? Pretendia fingir que estava tudo bem?

—Não, eu não... eu não ia voltar com ele. Eu não sabia o que fazer! —Afirmei, sentindo um nó se formar na minha garganta quando vi meu irmão apertar as mãos em punho. —Eu só estava tentando resolver as coisas, sem arrumar problemas pra você como foi da última vez. Eu não sabia o que ia fazer, eu só fiz o que estava ao meu alcance.

—Você é minha irmã, Júlia. Eu vou me meter em problemas sem pensar duas vezes se isso for pra manter sua segurança! —Rebateu, erguendo a mão para puxar os cabelos para trás, soltando uma respiração pesada. —O que ele fez? O que diabos ele fez e falou pra você? Como ele te ameaçou?

—Ele me disse pra terminar com o Felipe e voltar com ele, ou ele iria dar um jeito de acusá-lo de vender drogas a ponto de ele ser preso. —Soltei uma risada fraca, vendo a expressão do meu irmão hesitar quando ouviu aquilo. —Ele disse que era muito fácil fazer isso, ainda mais com ele sendo negro. Ele fez isso quando me pegou sozinha no banheiro do prédio que eu tenho aula. Ele ainda me beijou a força. —Senti as lágrimas vindo de novo, o que me fez apertar os olhos fechados e engolir um soluço. —Eu tentei o ignorar, Léo. Eu tentei deixar isso pra trás. Mas eu deveria ter acreditado nele. Eu deveria ter dado ouvidos ao que ele disse.

Abri os olhos, me assustando ao encontrar Bernardo e Manu na porta do meu quarto, ouvindo toda a conversa. Minha melhor amiga parecia preocupada comigo, enquanto Bernardo parecia tão puto quanto meu irmão.

—Que filho da puta! —Bernardo exclamou, enquanto eu ficava de pé, me dando conta de que aquilo estava saindo do meu controle muito rápido. —Ele é seu ex? Onde ele tá?

—Eu não sei, ele... —Olhei para meu irmão, parando de falar quando o encontrei com aquela mesma expressão determinada que estava no seu rosto quando brigou com Thiago a primeira vez. A mesma expressão furiosa e sem controle que estava no seu rosto quando bateu em Thiago.

—Eu vou matá-lo dessa vez. —Léo sussurrou, virando as costas e saindo do quarto muito rápido, sem que eu tivesse tempo de impedi-lo.

—Melhor você ficar com ela. —Bernardo murmurou para Manu, antes de ir atrás do meu irmão. E eu tinha a leve impressão de que ele não estava indo atrás dele para impedi-lo e sim para ajudá-lo.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now