Capítulo 58: Vou denunciar ele.

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Felipe pareceu surpreso com as minhas palavras, como se fosse impossível qualquer sentimento que eu pudesse ter por ele. Mas tão rápido quando a surpresa veio, ela se desfez no rosto de Felipe, quando ele abriu um sorriso enorme que fez meu coração chegar a garganta.

—Não achei que fosse ouvir isso de você tão cedo. Pensei que... Pensei que até conseguir fazê-la gostar de mim, levaria muito mais do que tudo que eu fiz. —Os dedos dele envolveram meu rosto, acariciando minhas bochechas com tanto carinho, que parecia esperar que eu fosse me quebrar. —Eu também estou apaixonado por você, Jujuba. Estou sentindo isso a tanto tempo, mas tinha medo de dizer e você se afastar como no início.

—Alguém aqui não tem tanta confiança em si mesmo. —Sussurrei, cutucando o peito dele com a ponta do dedo. Felipe riu, negando com a cabeça. Mas meu coração já estava explodindo dentro do peito, porque dizer aquelas coisas pra ele tirou um peso enorme de dentro de mim. —Me desculpa. Eu só estava tentando resolver as coisas.

—Eu desculpo você. —Afirmou, beijando o canto dos meus lábios e depois o outro. —Se você prometer nunca mais me afastar ou me deixar no escuro.

—Eu prometo. —Abri um sorriso que chegava a doer, me sentindo praticamente sem fôlego ao olhar para Felipe ali na minha frente, sabendo que Thiago já não estava mais entre nós dois. —Obrigada por ter ficado do meu lado.

—Sempre, Jujuba. —Sussurrou, antes de deslizar a mão para a minha nuca e então me beijar, me fazendo esquecer de todos os problemas naquele mesmo instante.

Meus lábios se abriram para receber os de Felipe, enquanto eu sentia o calor se espalhando pelo meu corpo. Todas as minhas células reagindo a proximidade dele e ao seu beijo, como se ele fosse tudo que eu precisasse. Meus olhos se fecharam e eu me agarrei a ele, suspirando ao sentir seu gosto tomar conta da minha boca.

Tínhamos percorrido um longo caminho até ali. Não fazia ideia de que no momento que entrasse naquele banheiro com Felipe, as coisas iam chegar aonde chegaram. Tinha tentado fugir dele e evitar qualquer tipo de relacionamento. Mas agora não conseguia imaginar outra coisa a não ser ficar com ele.

Felipe e eu nos afastamos com o som da porta se abrindo. Escondi meu rosto na garganta dele, sentindo os braços dele me apertando contra si. Pelo silêncio que veio seguido do som da porta se fechando, tive certeza de que era meu irmão mais novo ali. Talvez a paciência dele em esperar pra falar comigo tenha se esvaído muito rápido.

—Bom ver que vocês dois estão bem um com o outro. —Léo murmurou, me fazendo afastar o rosto de Felipe e me virar para encara-lo.

Léo estava parado no corredor de entrada. Um roxo no olho e um um curativo no início da testa. Estava com a expressão cautelosa. As mãos enfiadas no bolso da calça, que estavam sujas de grama e terra. Provavelmente dos momentos que rolou no chão com Thiago. Se antes ele estava irritado, agora ele parecia envergonhado.

—Podemos conversar, Juju? —Indagou, soando um pouco incerto. Meus lábios se comprimiram e eu balancei a cabeça que sim, deixando Felipe se afastar de mim, quando entendeu que precisávamos ficar sozinhos também.

—Vou estar no meu apartamento. —Felipe sussurrou, beijando minha testa, antes de caminhar até a porta, desviando de Léo no percurso.

Encarei meu irmão com as sobrancelhas erguidas, me perguntando se ele iria pedir desculpas pela explosão de raiva, se iria me dar um puxão de orelha por eu ter escondido tudo ou as duas coisas ao mesmo tempo. De qualquer forma, acho que eu não estava preparada para nenhuma delas.

—Vou denunciar ele. —Falei, antes que Léo falasse primeiro. Ele iria sugerir aquilo em algum momento, então eu ia poupar o trabalho dele. —Não vou ficar quieta dessa vez. Já entendi que não importa se eu ficar em silêncio ou não, isso só vai deixar Thiago mais confiante pra continuar fazendo o que faz. Estou cansada disso. Quero que ele pague pelo que me fez passar.

—Isso é ótimo, Juju. Ele não merece ficar impune depois de ter estragado sua vida duas vezes. —Léo se aproximou, parando a alguns metros de mim, com a cabeça baixa. —E os nossos pais?

—Vou precisar contar a eles também. Sei que não posso esconder mais isso deles, apesar de que a última coisa que eu queria era deixá-los preocupados. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua, sentindo o nervosismo deixar minha boca seca. —Eu também não queria deixar você preocupado, Léo. Sei que não tem desculpas para o fato de eu ter escondido e ter tentado resolver isso sozinha. Eu só estava pensando no melhor pra todo mundo.

—E esquecendo o que era melhor pra você mesma. —Léo completou, balançando a cabeça negativamente, como se estivesse me chamando de bobona mentalmente. —Tudo bem, Juju, não me importo de estar aqui pra te proteger sempre que precisar.

Léo abriu os braços, como se me desse a oportunidade de decidir se estava chateada ou não com ele. Soltei uma risada sem graça, fechando os olhos e indo para os braços dele como uma criança chorona que precisa do colo dos pais. Ele me apertou em um abraço caloroso, deixando um beijo no topo da minha cabeça.

—Ainda estou muito chateado com você, mas não posso estar mais feliz por ver você bem e disposta a dar queixa contra ele. —Léo afirmou, me fazendo soltar um suspiro pesado e assentir.

Sabia que as próximas semanas iam ser tensas e esquisitas. A universidade inteira não demoraria para estar falando sobre a briga dos rapazes no campus. Eu precisava ir dar queixa contra Thiago e ainda falar com meus pais. Não queria contar tudo isso a eles por ligação, mas não teria outra forma. Léo não me deixaria esperar até as férias e eu também não aguentaria até lá. Só queria tirar o restante desse peso das minhas costas. Mas pelo menos Felipe estaria do meu lado, assim como meu irmão.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now