Capítulo 45: Minha melhor amiga.

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Manu já tinha pintado uma das paredes, então faltavam as outras três. Cada um de nós pegou uma, focando em fazer o melhor trabalho possível. Os jornais estavam espalhados pelo chão e os móveis amontoados no centro do quarto. Eduardo ligou uma música no meio da tarde, o que distraiu todos nós, fazendo até mesmo Bernardo relaxar um pouco.

—Deveríamos pintar nosso apartamento também. Aquele lugar é tão sem graça. —Eduardo afirmou, fazendo eu e Bernardo olharmos pra ler. —Tirando o quarto da Érika, que ela encheu de coisas pelas paredes.

—Quando vamos conversar sobre o fato de você esconder coisas de nós dois? —Bernardo indagou, pegando mais tinta com o pincel para passar na parede, enquanto Eduardo soltava uma suspiro de frustração. —Pensei que como amigos a gente contava as coisas uns para os outros. Mas então o Felipe escondeu por dias o que estava rolando com a Júlia e agora você está fazendo o mesmo.

—Em minha defesa, não estou saindo escondido com ninguém. —Eduardo ergueu as mãos para cima como se fosse inocente, o que fez a tinta pingar do pincel para os seus cabelos. Eduardo soltou um palavrão, tentando limpar a sujeira, conseguindo apenas piorar a situação.

—É, todo mundo sabe que você sai com a universidade inteira, cara. Isso não é segredo pra ninguém do mundo. —Rebati, vendo-o revirar os olhos como se aquilo fosse uma grande bobagem. —O que todo mundo quer saber, principalmente a maioria das garotas que você deixa de coração partido pelo caminho, é porque você nunca namora ninguém.

—Por que eu não quero? —Eduardo gesticulou com as mãos para o nada, como se aquela fosse uma coisa tão óbvia. —Eu sou obrigado a namorar agora?

—Você disse pro Eduardo que ele era obrigado a namorar? —Indaguei a Bernardo, vendo-o se virar pra mim e balançar a cabeça negativamente.

—Eu não, você disse? —Bernardo questionou, me fazendo balançar a cabeça negativamente na mesma hora. Eduardo bufou ao nos ver fazer isso, revirando os olhos como se fôssemos completos idiotas.

—Muito engraçado vocês dois. —Eduardo resmungou, voltando a pintar a parede, agora com movimentos um pouco agressivos e irregulares. —Quer saber, estou muito feliz por vocês dois terem arranjado namoradas, ou o que quer que seja essa relação esquisita que vocês tem. Mas isso não significa que eu queira encontrar uma Manuela ou uma Júlia por ai. Já me envolvi com alguém e, acreditem, foi uma merda. Não estou nem um pouco interessado em repetir.

—Espera, você gostou de alguém e levou um pé na bunda? —Bernardo indagou, se virando pra me encarar, como se aquela fosse a revelação do século.

—Não... quer dizer, sim. É complicado na verdade. Tinha uma garota que eu era apaixonado. Era nossa vizinha e praticamente minha melhor amiga. —Eduardo parou de pintar, erguendo a mão para esfregar o rosto, espalhando ainda mais a tinta pela testa e os cabelos, além de sujar as bochechas. —Fiquei anos ignorando o que eu sentia pra não estragar nossa amizade. Mas quando não aguentei mais, me declarei pra ela. Tipo, me declarei de verdade.

—E...? —Gesticulei com a mão para que ele prosseguisse, já que Eduardo tinha hesitado em continuar. —Ela te deixou na zona da amizade?

—Não, ela correspondeu. —Eduardo afirmou, com uma voz que soava magoada demais, como se ele ainda não tivesse superado aquilo.

—E onde está o problema nisso? —Bernardo indagou, trocando um olhar confuso comigo, antes de nos aproximarmos de Eduardo, vendo-o encarar a parede como se ela passasse a ser muito interessante.

—Ela foi embora, basicamente. Eu me declarei, ela correspondeu. Ela deixou claro que sentia o mesmo. Então na manhã seguinte, ela foi embora e nunca mais voltou. —Ele se virou para nós dois, dando de ombros, com uma expressão frustada. —Eu simplesmente acordei na manhã seguinte e ela tinha ido embora. A família toda dela tinha ido embora. Ela não me mandou mensagem ou me deu qualquer explicação, mesmo que eu tivesse tentando entrar em contato com ela umas mil vezes.

—Cara... —Abri a boca para dizer algo, porque não estava esperando ouvir aquela história de Eduardo.

—Não importa. Vocês queriam saber porque eu não me envolvo com ninguém. Bem, um dos motivos é esse. Ela me fez acreditar que tínhamos alguma coisa e então foi embora sem dizer uma palavra, como se eu fosse insignificante. Como se as coisas que eu disse pra ela não valessem nada, sendo que pra mim era muito sério! —Afirmou, soltando uma risada sarcástica, como se aquilo ainda o deixasse furioso. —E o meu pai que traiu minha mãe na maior cara de pau dentro da nossa casa? É, ótimo exemplo de como um relacionamento pode ser. Muito obrigado, mas prefiro evitar essa merda.

—Quanto tempo isso faz? —Bernardo indagou, porque Eduardo estava irritado naquele momento, como se tudo tivesse acontecido no dia anterior.

—Eu tinha 18 quando aconteceu. —Ele deu de ombros, ignorando nós dois para voltar a pintar.

—Faz cinco anos e você ainda não superou? —Soltei sem querer, vendo Eduardo se virar na mesma hora, com uma expressão tão furiosa que eu dei um passo para trás, com medo de levar um soco na cara.

—Eu já superei, seus babacas! —Ele praticamente rosnou as palavras, fazendo eu e Bernardo trocarmos um olhar demorado, antes de cairmos na risada. Eduardo ficou ainda mais furioso com isso, fechando a cara por completo. —Viu porque eu não conto nada? Porra, vocês são tão babacas e insensíveis!

—Insensíveis? —Eu e Bernardo rimos ainda mais ao repetir ao mesmo tempo a palavra, vendo Eduardo bufar e voltar a pintar a parede na força do ódio.

—Cara, você claramente não superou o que aconteceu. Se tivesse superado, não ia ficar puto de raiva só de contar a história pra gente. —Bernardo afirmou, mas Eduardo o ignorou e continuou a pintar. —Olha, sentimos muito por isso. Mas você já parou pra pensar que talvez tenha acontecido alguma coisa pra família dela ter se mudado e ela não ter te dito nada?

—Tipo o que? —Eduardo se virou e cruzou os braços na frente do peito. —Porque pra mim não parece existir uma explicação lógica para alguém dizer que ama você e então sumir do nada, sem nenhuma palavra. Na verdade, tem sim uma explicação lógica, ela era uma excelente mentirosa!

—Que merda. —Soltei, vendo-o concordar com a cabeça. —Desculpa, não queríamos rir da sua cara. É só que... foi mal cara. Você nos pegou de surpresa.

—Tudo bem, melhor rir do que chorar, né? Prefiro ser um babaca com as garotas, do que deixar que elas sejam assim comigo. —Afirmou, fazendo eu e Bernardo trocarmos outro olhar demorado. Mesmo que ele falasse que tinha superado, estava óbvio que não tinha.

—Quer saber, vamos esquecer isso. Tenho certeza de que você era bom demais pra ela. —Bernardo afirmou, dando um empurrão de leve no ombro de Eduardo, que soltou uma risada baixa. —Vamos pensar positivo. Vou me resolver com a Manu. O Felipe e a Júlia vão criar vergonha na cara e se assumirem e você vai continuar destruindo o coração das garotas por aí.

Eduardo soltou uma risada alta dessa vez, empurrando Bernardo para longe. Cada um foi para a sua parede, onde voltamos a pintar, com o clima muito mais leve do que antes.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now