Capítulo 7: Que garota folgada!

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A praia da Joaquina era sempre lotada de surfistas, o que chamava a atenção de muitas pessoas. Fiquei a maior parte do tempo os observando, antes de ir dar um mergulho. Quando voltei, Bernardo estava tocando violão, enquanto Felipe estava cantando "Cedo ou Tarde" do Nx Zero. Ele olhou pra mim quando me aproximei, exibindo um sorrisinho provocativo que me fez revirar os olhos.

Mas me sentei ali com eles, observando a atenção de Bernardo no violão enquanto tocava, antes de erguer a cabeça e franzir a testa em confusão. Olhei na direção que ele estava olhando, vendo Manu e Diogo rindo juntos enquanto brindavam com um churros. Nós três trabalhávamos no mesmo mercado, então foi natural que nós duas nos aproximássemos do estudante de Ed Física até nos tornarmos amigos.

O problema é que os sentimentos de Diogo por Manu foram muito maiores do que só amizade, mesmo que pra ela não. Só que parece que Bernardo já sacou isso e está morrendo de ciúmes. Consigo saber disso perfeitamente pela forma que ele observa Manu, como se estivesse perdendo alguma coisa.

—Obrigado, obrigado! —Felipe ficou de pé, fazendo uma reverência exagerada para as pessoas ao redor, sorrindo de forma doce pra elas quando riram e bateram palma. Isso me fez revirar os olhos, porque ele parecia não se cansar de ser presunçoso e o centro das atenções.

—Ei, Manu, o que acha de aprender a surfar? —Indaguei, assim que Diogo voltou pro mar e Manu veio se juntar com a gente. —Estou louca pra aprender, mas não quero passar vergonha sozinha.

—A Melissa vai no meu lugar. Surfar não me parece muito legal. —Comentou, fazendo Felipe soltar um grunhido de incredulidade, levando a mão ao peito enquanto e encarava.

—Assim você me machuca, Manu. Surfar é uma arte e é incrível. —Ele pegou a própria prancha, pronto para voltar para o mar. —Deveria dar uma chance.

—Tenho certeza que pra vocês, é sim. —Ela bateu no ombro de Felipe quando ele passou por ela com uma expressão de falsa indignação. —Mas vou passar essa, obrigada.

Ele riu e correu para o mar. Eduardo não demorou um segundo para segui-lo, assim como Érika. Como percebi que estávamos sobrando, resmunguei ao puxar Melissa pra sairmos dali, deixando Manu e Bernardo sozinhos de novo. Talvez minha amiga pudesse acalma-lo depois do momento de ciúmes que teve em relação a Diogo minutos atrás.

—Érika, como uma boa amiga, sua obrigação é me ensinar a surfar. —Afirmei, vendo a garota se virar pra mim e soltar uma risadinha baixa, ajeitando a prancha embaixo do braço. Os cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo alto, enquanto seu rosto estava mais bronzeado do que normalmente já era.

—Como uma boa amiga, vou te ajudar com Felipe, assim como você quis dar uma de cupido com Manu mais cedo. —Ela piscou pra mim, enquanto meu queixo caia com a audácia daquela criatura. —Edu ajuda a Melissa. Felipe a Júlia. Como estamos todos encaminhados, eu vou pro mar.

—Que garota folgada! —Eduardo resmungou, arrancando uma gargalhada de Melissa. Isso o fez se virar pra ela e erguer as sobrancelhas, antes de abrir um sorriso muito largo e estender a mão pra ela. —Pronta pra aprender a surfar, senhorita?

—Prontíssima! —Ela pegou a mão dele, soltando uma risada ao acompanhá-lo para dentro da água, me deixando sozinha ali com Felipe. Resmunguei um "traidores" que arrancou um sorriso de Felipe e me fez lançar um olhar de aviso pra ele. Iria matá-lo afogado se ele citasse aquele encontro de novo.

—Apesar de eu ser a última pessoa que você deseja como professor, vão vai querer ficar de vela com aqueles dois. —Felipe gesticulou com a mão na direção que Melissa e Eduardo agora estavam, dentro da água. —Espero que você não se importe do meu amigo estar interessado na sua amiga.

—Na verdade, não. Espero que ela aproveite bem. —Afirmei, porque era verdade. Eu não era uma maluca que desejava secretamente o mal para os amigos.

Manu tinha TDAH e eu via toda a dificuldade que ela tinha de lidar com isso, então eu tentava ajudá-la sempre que sentia que ela precisava, mas não queria pedir. Diogo já havia chamado ela pra sair várias vezes, mas Manu nunca aceitava, então eu sempre saia com ele e tentava apresentar a ele várias pessoas que eu conhecia, porque odiava vê-lo frustrado com o fato de ela não olhar pra ele.

Com Melissa era a mesma coisa. No ensino médio podíamos ser amigos de quase toda a turma, mas na universidade você definitivamente não vai se dar bem com a maioria da sala. Então ela era meu porto seguro lá. Nós duas ajudando uma outra. Eduardo olhou pra Melissa assim que a viu na praia com Diogo e eu sabia que ia rolar alguma coisa ali. Mas eu não me importava nem um pouco com isso.

Me virei pra Felipe, ajeitando meus cabelos úmidos e cheios de areia. Deveriam estar parecendo um ninho de rato, mas Felipe me encarava como se eu estivesse linda, o que era um pouco desconcertante. Ponderei sobre o que eu ia falar pra ele, porque não queria que isso resultasse em outro momento desconfortável entre nós dois. Se eu estivesse certa sobre Manu e Bernardo, eu e Felipe ainda iríamos conviver muito juntos.

—Olha, foi babaca da minha parte citar o Edu na nossa discussão no banheiro. Só queria que você soubesse que eu sinto muito sobre isso, mesmo que eu ainda seja muito contra a encontros. —Afirmei, tentando ser o mais sincera e clara possível com ele. —Eu nunca estive interessada no seu amigo de fato. Eu o olhei de primeira sim, mas nunca pensei em tentar qualquer coisa com ele. Foi só aquele momento que você vê alguém e pensa "Nossa, essa pessoa é muito bonita!" e nada mais além disso.

Ele mordeu o lábio, balançando a cabeça que sim, enquanto me observava como se eu fosse um mapa do tesouro e ele quisesse me desvendar por completo.

—Já que você resolveu ser sincera, vou ser sincero com você também. —Falou, me fazendo engolir em seco, sentindo meu corpo reagir aquelas palavras na mesma hora. —Gostei de ficar com você, Júlia. Gosto dessa sua coisa de não ser a favor de encontros? Não, porque eu quero sair com você e quero ficar com você de novo. Então quando você resolver cair fora dessa parada de não querer encontros, me dá um sinal, porque ainda vou ser o primeiro da fila a querer te levar em um.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora