Capítulo 2: Bandeira vermelha.

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Não sei em que momento da minha vida me apaixonei por historia, só sei que tinha certeza que queria estudar isso assim que saísse do ensino médio. Eu só não imaginava que a universidade ia sugar minha alma, com provas e trabalhos um atrás do outro, que sequer me davam a chance de respirar ou pensar. E não havia nada pior do que uma prova em plena sexta feira.

—Como foi? —Melissa indagou, assim que saímos da sala de aula, depois da pior prova da minha vida. Nós duas entramos juntas na nossa turma de historia e nos tornamos amigas imediatamente. —Acho que confundi algumas datas. Isso é um saco.

—Só mais uma buraco pra ir mais fundo ainda no poço. —Ela fez uma careta ao me ouvir e eu soltei uma risada. Eu não era uma pessoa negativa. Muito pelo contrario, eu era a mais positiva dos nossos amigos, mesmo quando as coisas não estavam do meu lado. —Escuta, você ainda não disse se vai comigo e com a Manu no barzinho. Diogo já deu pra trás.

—Desde quando a Manu vai em barzinho? Isso não é nem um pouco a cara dela. —Melissa ergueu as sobrancelhas, enquanto eu mordia o lábio para conter o sorriso, dando de ombros como se não soubesse a resposta. 

Mas eu sabia, porque Bernardo havia chamado Manu pra ir até lá. Minha melhor amiga e colega de apartamento havia se aproximado de Bernardo porque ambos faziam química e ela precisava de aulas de cálculo. Foi eu quem deu a ideia dela pedir as aulas pra ele, porque além dele ser o melhor aluno de química, eu tinha quase certeza que Bernardo tinha uma quedinha por ela. Acho que eu estava certo no final das contas, porque ele está se empenhando muito em mante-la por perto.

—Bernardo e os amigos dele vão tocar lá à noite. Eles nos chamaram pra ir assistir, então... —Umedeci os lábios com a língua, saindo do prédio de historia com ela. Ainda precisava correr pra almoçar e então passar algumas boas horas atrás de um caixa de supermercado, atendendo pessoas gentis e outras nem tanto. —Você sabe que eu não nego uma boa noite animada.

—Bom, aproveite por mim então. Tenho coisas pra fazer, então não posso ir. —Melissa afirmou, me fazendo fazer um biquinho triste com os lábios. Primeiro Diogo caindo fora e agora ela. Só esperava que a noite fosse realmente animada, porque eu estava mesmo precisando de uns segundos de sossego depois de uma longa semana. Mas dessa vez não tinha pretensão alguma de ficar bêbada.

[...]

O barzinho estava super lotado quando chegamos, Manu parecia super ansiosa, além de um pouco dispersa. Tinha quase certeza que isso era por causa de Bernardo. Os dois não tiveram um bom começo quando ela entrou na universidade dois anos atrás, mas pelo visto haviam superado isso super rápido com as aulas extras de cálculo.

Quando entramos, Bernardo e os dois amigos dele já estão no palco, tocando "Mulher de Fases". Bernardo está tocando guitarra, enquanto um guri loiro está na bateria e outro de pele negra está tocando baixo e cantando. Meus olhos se interessam na mesma hora pelo baterista, que parece estar flutuando a medida que toca no ritmo da música.

A doída tá me beijando a horas. Disse que se for sem eu não quer viver mais não. —Comecei a cantar junto com eles, porque quase todo mundo no bar estava fazendo isso, animados demais. Manu riu ao meu lado ao me ouvir cantar, enquanto uma guria loira saída de trás do palco e corria na direção da Manu ao meu lado, dando um abraço apertado nela. Mas o que mais me chamou atenção, foi quando o refrão começou e Bernardo começou a cantar. —É impressão minha, ou ele tá cantando pra você?

Manu ficou constrangida ao me olhar o que me fez abrir um sorriso enorme, porque ela também havia notado isso. A loirinha que parecia não ter mais de 16 anos se virou pra mim assim que me ouviu, sorrindo com a mesma intensidade que eu estava sorrindo.

—Ele com certeza está. —Ela estendeu a mão pra mim. —Prazer, Érika, fã número um do casal.

—Júlia. —Soltei uma gargalhada antes de dizer meu nome e apertar a mão dela. —Acho que estamos com um problema aqui, porque eu sou a fã número um do casal. Já notou como ele a olha?

—Tenho certeza que isso vai acabar em namoro. —Érika afirmou, enquanto Manu soltava uma risada baixa e escapava até o bar, nos deixando sozinhas.

—Guria, gostei de você. —Afirmei, recebendo um sorriso muito maior de Érika. —É irmã do baterista? Você estava lá no canto do palco.

—Infelizmente sim. —Ela soltou um muxoxo, me fazendo soltar outra gargalhada. Segurei a mão dela e a puxei na direção do bar, onde Manuela estava pedindo alguma coisa.

—Não corre que não adianta, Manuela.

Ela me mostrou a língua, enquanto eu piscava pra ela. Depois que ela fez nossos pedidos, encontramos uma mesa pra nos sentarmos, onde eu pude observar melhor os três sobre o palco. O trio estudava química, mas estavam dois semestres à frente de Manu. Não conhecia nenhum deles de fato, além de vê-los pela universidade de vez em quando. Bernardo era o melhor aluno de química, além de ser o camisa 10 do time do curso. Eduardo, o baterista e irmão de Érika, era o mais quieto dos três, porque eu quase não o via em lugar nenhum e ele tinha um ar quase angelical.

Mas tinha Luiz Felipe, tocando o baixo e cantando, olhando pra mesa onde estávamos. Era o mais alto dos três, com a pele negra e os olhos escuros. O sorriso era discreto nos lábios, mas ele soava um tanto presunçoso também, como se fosse uma estrela do rock. Não o julgo por isso, ele tinha muito talento, além de ser absurdamente lindo.

Desviei os olhos quando ele me encarou, como se sentisse que estava sendo observado, o que era engraçado já que todos os olhos do bar estavam nos três. Foquei meus olhos no baterista, porque não gostava de troca de olhares e Luiz Felipe estava longe de ser o tipo de cara com que eu ficava. Sua personalidade sovava como uma bandeira vermelha.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now