Capítulo 19: Vejo você na sexta à noite.

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Bernardo voltou no meio da tarde para devolver minha chave, com uma expressão tão animada que me deixou ainda mais curiosa pra saber o que ele havia feito pra Manu. Mas ele se recusou a me dizer de novo, murmurando sobre precisar ir. Manu havia saído mais cedo do mercado, então eu não tinha dúvidas de que ele iria buscar ela em algum lugar. Eram namorados que ainda não namoravam, mas eram.

Meus pensamentos estavam focados em Thiago desde que eu havia acordado. Estava tentando me decidir se deveria contar pro meu irmão sobre a aparição dele por aqui, ou apenas ignorar a existência de Thiago. Eu poderia mesmo fazer isso, se não tivesse certeza que em algum momento ia dar de cara com ele de novo e as coisas não iam ser bonitas. Mas também não queria deixar meu irmão preocupado. Da última vez as coisas saíram do controle entre ele e meu ex namorado.

—Terra chamando Júlia. —Levei um susto quando Diogo estalou os dedos na minha frente, soltando uma risada com a careta que eu havia feito. —Eu falando com você há um tempão e você nem estava prestando atenção.

—Desculpa, ando com a cabeça um pouco cheia. —Falei, esfregando a minha testa com força, enquanto via Diogo balançar a cabeça negativamente, antes de ir se sentar no mini sofá de descanso que havia ali na salinha. O uniforme do mercado todo amarrotado no corpo dele, já que ele passava a tarde toda mexendo com caixas de mantimentos. —O que você estava dizendo?

—Deixa pra lá. Não era nada importante mesmo. —Ele cruzou os braços, encarando um ponto fixo no chão. Me arrastei até aquele sofá, me jogando ao lado dele. —No que estava pensando tanto?

—No meu irmão. —Falei, soltando um suspiro pesado. —Estou com saudades de casa. Faz tempo que não consigo ir pra lá. Meu irmão sugeriu de vir pra cá nas férias dele, se eu quisesse. Estou começando a pensar que isso é uma ótima ideia.

—Você já parou pra pensar que no ano que vem ele vai estar aqui? Tipo, ele vai se formar no final do ano, certo? —Diogo comentou, provavelmente se lembrando das vezes que encontrou meu irmão quando ele veio pra cá me visitar, nos anos retrasados. Não me surpreende que Léo tenha se dado bem com todos os meus amigos, porque ele tinha um jeitinho encantador que derretia os corações de qualquer um. —Vocês vão poder morar juntos no ano que vem, se ele passar na mesma universidade que você.

—Nunca conversamos sobre isso, mas eu imagino que sim. —Concordei, pensando no quando eu iria gostar de ter meu irmão mais novo perto de mim. Um pedaço da minha casa mais perto. —De qualquer forma, talvez ele acabe aparecendo aqui nas férias dele mesmo. —Fiquei de pé, porque já estava dando meu horário de voltar para o caixa do mercado. —Podemos ir pra praia e fazer algumas coisas diferentes quando ele estiver aqui.

—Uma trilha não seria nada mal. —Diogo me observou caminhar até a porta, com as sobrancelhas se unindo. —Você está bem, Júlia? Parece um pouco preocupada.

—Estou ótima. —Menti, abrindo meu maior sorriso, porque mesmo falando do meu irmão, ainda não conseguia tirar Thiago da cabeça. Eu o conhecia bem o suficiente pra saber que aquele não seria nosso único encontro.

[...]

Não confiar em homens vai ser o meu lema número um a partir de agora. Nem mesmo naqueles que estão apaixonados pela sua melhor amiga, que também divide o apartamento com você. De primeiro momento, quando entrei no apartamento e o vi coberto de flores, um sorriso enorme se abriu nos meus lábios, porque tinha absoluta certeza de que Manu ia gostar muito daquilo. Mas depois, quando percebi que elas estavam literalmente por todo o apartamento, inclusive no meu quarto, mas no de Manu, eu sabia que havia algo de muito errado ali.

Eram rosas, girassóis, tulipas e todos os tipos de flores que eu podia imaginar, em vasos e buquês. Meu coração disparou quando joguei minha chave em cima da mesa, soltando minha mochila no chão antes de empurrar a porta do meu quarto e olhar ao redor, sem fazer ideia do que pensar quando vi que cada espaço disponível estava ocupado por uma flor diferente.

—Meu Deus! —Soltei uma respiração pesada, erguendo minha mão para esfregar meus olhos, apenas para ter certeza de que eu não estava sonhando.

Quando percebi que estava acontecendo de fato aquilo, me sentei na minha cama e fiquei parada ali, pensando no que faria com todas aquelas flores. Eu realmente deveria jogar Bernardo do oitavo andar desse prédio, por mentir descaradamente pra mim. E deveria jogar Felipe junto com ele, por fazer tudo isso, mesmo depois de tudo que eu havia dito pra ele.

Fiquei de pé, caminhando até minha escrivaninha quando vi que havia um pote de vidro enorme ali, com um laço vermelho chamativo. Estava cheio até o topo com jujubas vermelhas e roxas. Apenas jujubas vermelhas e roxas. Meu coração se derreteu quando eu o segurei, encarando o post-it verde que estava grudado ali, com uma letra que eu não conhecia, mesmo que eu já soubesse de quem era.

"Podemos discutir sobre seus doramas favoritos no nosso encontro? Assisti alguns, mas tenho certeza de que você pode me recomendar os melhores.
Pego você às 20:00 na sexta?"

Soltei uma risada incrédula, puxando meu celular do bolso. Não havia nenhuma mensagem de Felipe, mas abri o chat com ele, vendo as figurinhas que ele havia me mandado quando eu parei de o responder e o deixei falando sozinho.

Júlia — Um encontro.
Mas se depois eu não quiser mais nada, você vai parar de insistir, ok?
E avisa ao Bernardo que eu vou matá-lo.

Ele visualizou na hora, como se estivesse esperando uma mensagem minha.

Luiz Felipe — Não posso prometer isso, porque sei que não vai ser só um encontro depois que você sair comigo uma vez.
Bom saber que você gostou da minha surpresa.

Júlia — Vejo você na sexta à noite.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora