Capítulo 55: Reitoria.

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Júlia me ajudou a ficar de pé, enquanto tocava meu rosto dolorido. Ela parecia perdida entre atender de mim ou de Léo, que ainda estava olhando para Thiago com uma expressão furiosa. Se eu soubesse que Thiago ia chamar Júlia daquela forma, não tinha tirado Léo de cima dele antes.

—Você está bem? Talvez seja melhor ir no hospital. —Júlia murmurou, com os lábios tremendo enquanto chorava. Balancei a cabeça negativamente, sendo incapaz de falar alguma coisa. Só consegui passar o braço ao redor da cintura dela, a puxando mais para perto de mim. —Felipe, o Thiago...

—Eu o que? —Thiago grunhiu para Júlia, empurrando os rapazes que estavam o ajudando a ficar de pé. Ele estava todo ensanguentado no rosto, com marcas roxas e vermelhas, além de um pouco inchado. —Você deveria me agradecer, Felipe. A Júlia era uma idiota fraca quando namorava comigo. Se não fosse por mim, ela continuaria sem graça e fácil. Eu deixei ela prontinha pra você.

Fiz menção de ir pra cima dele de novo, mas todo mundo me segurou, assim como  seguraram Léo, que soltou um palavrão e fez menção de ir pra cima dele. Júlia estremeceu de horror na minha frente, como se ouvir aquelas coisas dele fosse demais pra ela, mas ela também não parecia surpresa, o que me deixou mais furioso ainda.

—Se eu fosse você, calava a boca. Sua cara já está estragada o suficiente. —Eduardo exclamou, lançando um olhar mortal pra cima de Thiago. —Mesmo que você mereça apanhar muito mais.

—Vocês são ridículos. —Thiago riu, fazendo uma careta ao passar a mão no rosto, tentando limpar o sangue que escorria do seu nariz. Mas ele apenas o espalhou mais ainda. —Vou denunciar cada um de vocês por isso.

Júlia hesitou na minha frente, parecendo assustada. Manu se aproximou de nós, envolvendo Júlia em um abraço para que ela não olhasse mais para Thiago. Queria bater nele mais ainda, ao mesmo tempo que só queria abraçar Júlia e deixar claro que aquilo não era culpa dela e que iria ficar tudo bem. Mas eu nem tinha mais certeza se tudo ia mesmo ficar bem.

—Você pode fazer o que você quiser. —Bernardo se aproximou de Thiago, lançando um olhar duro aos amigos dele quando eles fizeram menção de impedi-lo. —Mas antes, vamos todos dar uma passada na reitoria. Acho que você tem algumas coisas a contar pra eles e nós também.

—Eu não vou fazer nada! —Thiago retrucou, dando um passo assustado para trás quando Eduardo parou ao lado de Bernardo e abriu um sorrisinho pra ele.

—Você vai. Se não for por boa vontade, vai ser arrastado. —Eduardo deixou claro, inclinando o rosto para perto de Thiago. —E esse não é um bom momento pra você testar a gente, cara.

Thiago hesitou, olhando ao redor, percebendo quantas pessoas estavam ali e presenciaram tudo. Sabia que a gente poderia se ferrar por ter batido nele da forma que foi, porque muitos devem ter gravado e isso já deve estar rodando por aí. Mas Thiago também falou sobre Júlia e não negou nenhuma das acusações que fizeram sobre ele. Principalmente a da armação contra mim. Se íamos nos ferrar, ele também ia.

[...]

Pela segunda vez no dia eu estava na sala da reitoria. Dessa vez meus amigos estavam comigo, além de Júlia, Léo e Thiago. Eu e Júlia estávamos sentados na frente da mesa, nossos amigos estavam sentados em um sofá perto da porta e Thiago o mais afastado de nos possível, porque Léo ainda estava olhando-o como se fosse o matar.

—Eu sinceramente não sei o que fazer com vocês. Absolutamente nada justifica violência! —O reitor exclamou, olhando para cada um de nós como se estivesse incrédulo, depois de ouvir o que cada um de nós tinha a dizer sobre a briga. Não foi nenhuma surpresa pra nós que ele já tivesse ficado sabendo quando chegamos aqui.

—Eu não vou ficar parado enquanto um dos seus alunos ameaça o bem estar da minha irmã. —Léo afirmou, erguendo o queixo, com a cara fechada. Estava com um curativo na sobrancelha, porque fomos obrigados a passar na enfermaria antes de ir até ali. Não parecia nem um pouco mais calmo do que antes. Apenas mais irritado.

—O senhor nem estuda aqui, pra começo de conversa. —O reitor bufou, indignado. —Além de ser menor de idade.

Léo deu de ombros, como se não estivesse nem aí com isso. Júlia fechou os olhos ao meu lado, apertando as mãos no colo. Tinha parado de chorar, mas estava visivelmente abalada com aquilo. Não precisava de muito para saber que estava se sentindo culpada pela situação. Meu coração estava apertado de vê-la desse jeito e eu só queria puxa-lá para perto e a abraçar.

—Eu quero abrir um B.O contra eles. —Thiago deixou claro, se encolhendo na cadeira quando todos olhamos pra ele com expressões assassinas. —Fui agredido várias vezes, por cada um deles.

—O senhor pode fazer o que quiser depois que sair dessa universidade, mas espero que saiba que todas as acusações que fez contra o colega sobre a venda de drogas, agora estão sobre o seu nome! —O reitor apontou para Thiago, que ficou pálido e se inclinou pra frente na cadeira.

—Como assim pra mim? Eu não vendo drogas!

—E onde arrumou as drogas que colocou no armário dele? —O reitor indagou, e Thiago ficou sem palavras, abrindo e fechando a boca sem saber como se explicar. —Se você vende ou se você usa, eu não estou nem aí. Você invadiu um dos nosso prédios, violou o armário de outra pessoa e colocou drogas lá dentro, fazendo uma acusação falsa depois, que poderia ter gerado sérias consequências a ele. Isso é muito sério, além das acusações feitas a você em relação a sua ex namorada. Não tenho outra alternativa a não ser o desligar de qualquer ligação com a universidade.

—Mas... —Thiago olhou com raiva para todos nos, mas ficou quieto quando o reitor ergueu a mão.

—O senhor também não será mais bem-vindo dentro das delimitações da universidade. Se aparecer aqui, vamos chamar a polícia. —O reitor prosseguiu, e eu não pude deixar de ouvir e ver o alívio que veio de Júlia, quando ela abriu os olhos e soltou um suspiro que fez seu corpo todo relaxar.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Where stories live. Discover now