— Bella, quanto a isso, precisamos conversar.

Limpei as mãos cobertas de terra no avental e me levantei, erguendo o chapéu de sol para que eu pudesse olhá-lo.

— Não acho que precisamos, mas se é o que deseja, pode dizer!

— Eu não posso ser o seu marido, não de verdade. Não sou o que você deseja.

— Ora Harry, não precisava me dizer isso. Sei em que pé estamos.

— Eu imaginei que pudesse ter pensado sobre o que ocorreu aquele dia na árvore...

— Foi apenas um beijo, não irei criar caso por isso.

— Bella...

— Sei que não significou nada. — me virei para sair, com a cesta de flores que havia colhido. Ele segurou em meu braço e procurou o meu olhar.

— Não quero magoá-la.

Assenti, tentando fazer o meu melhor sorriso e enfiar para dentro o nó que estava formado em minha garganta.

— Não se preocupe, está tudo bem.

Não estava. Voltei para dentro e busquei um pouco de água em um balde para a égua, que tinha retornado para casa voluntariamente quando a chuva da noite passou, tentando não pensar sobre os sentimentos insensatos que vinham rondando o meu coração.

Nos últimos dias, a situação havia se invertido. Harry estava me evitando. Nos tratávamos educadamente e ainda dormíamos juntos, mas ele havia criado uma muralha de travesseiros entre a cama, que agora havia secado, todas as noites, o que era um empecilho ainda maior que o coelho.

Na noite passada, porém, eu me peguei o observando enquanto ele dormia e cheguei à conclusão de que estava perdida. Perdida em uma situação absurda na qual eu gostava dele e me imaginava sendo a sua esposa de verdade.
Eu estava completamente e irrefutavelmente atraída por ele, mesmo sabendo que não deveria. Que era uma insensatez e uma tolice sem medida.

Agora, eu compreendia porque beijos só eram dados debaixo da intimidade e do selo de um casamento confirmado. A regra deve ter sido criada quando a primeira tola, igual a mim, se apaixonou.

Bella — a égua — relinchou feliz pela água e me encarou, como se me acusasse por saber que eu havia mentido para o dono dela.

— Eu te prometi que iria te ensinar a cavalgar. — a voz de Harry apareceu atrás de mim. — Ainda gostaria de aprender?

— Não precisa. Não quero dar trabalho.

— Não é trabalho algum. Acho que tenho uma sela guardada, irei buscar. — ele fez uma pequena reverência.

Reverência!
Não podia ficar mais estranho do que já estava.

Alguns minutos depois, ele retornou, colocando a sela na égua.

— Primeiro deve aprender a subir.

— Ela é muito alta. — olhei, um pouco assustada.

— Por isso o apoio. Coloque os pés aqui. — ele apoiou a mão em minhas costas. Engoli uma saliva, sentindo meu corpo estremecer.
Isso ia ser difícil.

— E agora?

— Pegue o impulso.

Tentei e falhei.

— Um impulso forte. — ele sorriu. — Quer que eu a ajude?

— Não, não, eu consigo! — pulei com a maior força que eu conseguia, só para impedir que as mãos dele voltassem a me tocar.

Insensato AmorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora