Parte 11

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-Fique quietinha e talvez eu seja bonzinho com você. –A voz grave e nojenta diz em meu ouvido. Seu bafo de álcool e drogas batendo em meu rosto. Uma mão grande me impossibilita de gritar enquanto a outra me mantinha presa ao chão, como se seu peso não fosse o suficiente. O lado esquerdo do meu rosto raspava no chão enquanto eu tentava me soltar, eu já podia sentir o molhado do sangue cada vez que eu movimentava mais a cabeça. –Fique parada. –Ordenou.

De algum jeito era como se eu estivesse fora do meu corpo observando meu corpo aprisionado abaixo do homem grande e gordo, como se eu fosse apenas uma espectadora da atrocidade que eu sabia estar prestes á acontecer comigo, não pela primeira vez. Não sentia pânico, desespero ou nada que qualquer outra pessoa em meu lugar iria sentir, depois de tudo o que tive que passar durante os últimos anos, aquilo não era nada. Eu só podia sentir nojo e raiva conforme o homem começava á percorrer meu corpo preso.

-Esses olhos são inesquecíveis, foram eles que me fizeram vir até você sabe? –Algo dentro de mim clica. Uma lembrança não muito antiga vindo a tona. A cena não era muito diferente daquela. Um homem me prendia contra o colchão, sua boca percorrendo meu pescoço enquanto minhas mãos estavam presas por cordas na cabeceira da cama. Suas palavras eram tão nítidas em minha mente como se ele tivesse acabado de dizê-las. "Seus olhos são a coisa mais linda que já vi minha menina, foram eles que me fizeram querê-la".

No segundo que se passa estou de volta ao meu corpo, o som de desprezo que tentava sair de meus lábios se transforma em um alto rosnado. Meu corpo tremia de raiva e eu não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo comigo. Era como se algo feroz dentro de mim tivesse despertado, algo mortal, algo que eu não tinha idéia de que estava ali até aquele segundo. Repulsa e raiva percorriam minhas veias como fogo. Eu queria aquele homem fora. O fogo se tornou tão quente que todo meu corpo tremia. A dor me fez fechar os olhos com força e rosnar alto até que finalmente tudo se apagou.

Acordei confusa, algo duro e molhado se estendia por baixo de mim. Abri os olhos com dificuldade e vi várias arvores a minha volta. A floresta cobria tudo a minha volta, a terra onde eu estava deitada estava levemente úmida, quase como se tivesse chovido há poucos minutos, mas as arvores pareciam secas. Tonta olho em volta e em seguida olho para mim mesma, tentando ver algum machucado já que meu corpo estava todo dolorido, quase como se eu tivesse levado uma surra. Surpresa e espanto fluem por mim quando em vez de pele e carne olho para pelos brancos quase prateados. Assustada olho para o lado e vejo um corpo mutilado ao meu lado. Não havia chovido, eu estava na verdade deitada em uma poça de sangue, e os pelos brancos que cobriam meu corpo estavam manchados de sangue, pingando em um vermelho vivo.

As memórias vêem à tona e um uivo sai de meu focinho. Tão alto que tinha certeza de que poderia ser ouvido a qualquer lugar da floresta. 

Instituição Wolf Kimberley (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora