29.2

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Rachel.

Jason me joga por sobre o ombro e me leva até o meio da pista de dança. Já está bêbado, e não consigo parar de rir. Acho que somos melhores amigos agora. É como se nos conhecêssemos há vários anos, e não como se tivéssemos sido obrigados por Hera a ensaiar para um papel de casal em uma peça.

Ele me bota no chão e cruzo os braços, tentando parecer séria e falhando miseravelmente. Jason faz uma reverência exagerada.

—A srta. Elizabeth Bennet me dará a honra dessa dança? —estendeu a mão para que eu segurasse.

Levo a minha mão até a boca, forçando uma expressão incrédula.

—Mr. Darcy quer dançar comigo?

Jason gargalha, e vejo Leo fazendo o mesmo por cima do ombro dele. A noite está sendo mais divertida do que eu imaginava, e o clima entre todos nós não ficou nem de longe tão constrangedor quanto pensei que ficaria. Percy estava sendo gentil, até abriu a porta do carro para mim quando cheguei com Leo. Mas Annabeth não estava ali, e pelo que ouvi de Piper e Hazel, os dois andavam meio brigados.

E ele definitivamente não estava legal, apesar de se esforçar para parecer.

Danço até meus pés doerem, fazendo pequenos intervalos apenas para pegar uma dose de bebida ou outra. Talvez eu já até estivesse meio bêbada quando me sentei no balcão, ao lado da morena de olhos multicoloridos. Ela estava absolutamente fabulosa naquele vestido, os cabelos lisos perfeitos caindo em cascata nas costas, brilhando ao refletir as luzes coloridas piscantes.

—Eu não aguento mais. —anuncio.

Piper vira o rosto na minha direção. O batom vermelho que destaca seus lábios é praticamente a única coisa que consigo ver com clareza.

—Já? —acho que ela sorriu.

—Já?! Estamos aqui desde às dez, e são quase três.

A morena bebe um gole de água direto do gargalo de uma garrafa pet, estalando os lábios.

—Você não me conhece. Geralmente fico até quase seis.

—Deve ser a única então, creio que suas amigas não sejam assim.

—Definitivamente não são. —ela confirmou. —Mas Jason é.

—E vocês estão juntos? —finalmente faço a pergunta que vem me atormentando desde o início da noite, quando vi os dois de beijo no corredor que levava aos banheiros.

Piper demora para responder, desviando o olhar.

—Sim e não.

Arqueei minhas próprias sobrancelhas, vários pensamentos fluindo ao mesmo tempo. Teorias, especulações, mas preferi não compartilhá-las. Em vez disso, pedi por uma resposta vinda dela: 

—Como assim?

—Devia perguntar para ele. —disse, dando de ombros.

—Talvez eu queira saber de você. —me debrucei sobre o balcão em direção à ela. —Costumo valorizar mais o ponto de vista feminino.

Piper ri pelo nariz, balançando a cabeça.

—Você era líder de torcida. Quando virou feminista?

—Eu cresci. —respondi com um sorrisinho.

—Percebi. —ela me encara, dando outro gole na água. — Nós meio que estamos juntos, mas sem compromisso. —deu de ombros.

—Jason gosta de você. —pontuei, porque era verdade. Era algo bem óbvio e muito fácil de perceber.

—Eu sei. —fala baixo, voltando a desviar o olhar. —Mas um relacionamento não é o que eu quero. Nunca foi. E de qualquer maneira, quando eu terminar a faculdade, meu plano é ir morar na França. Em Paris. Não quero ter nada que me prenda aqui.

A fala dela me faz erguer as sobrancelhas. Eu não a conhecia muito, mas aquilo era a cara de Piper, e meio que não me surpreendia tanto. 

 —Mas você já falou com ele sobre isso?  —pergunto depois de um certo tempo.

Piper nega com a cabeça, mas fala:

—Sobre a parte do relacionamento, sim. Sobre Paris, não.

—E porquê?

—Porque talvez eu não consiga realizar esse sonho. —deu de ombros novamente.

Em partes, acho que eu a entendia. Sempre foi meu sonho ser atriz, e é claro que as pessoas sempre falam do meu talento, mas sempre tive um certo receio quanto a conseguir construir uma carreira. Ser bem-sucedida no ramo. Hollywood não é fácil, e a indústria da moda também não deve ser.

—Eu acho que… —parei, procurando as palavras certas, que demoraram um pouco para vir. —O medo é algo que as pessoas criam dentro da própria cabeça. Não é real. Os outros não se importam em fazer com que nós sintamos medo. Eles simplesmente estão lá, esperando pelo show, e nada mais.

Piper pareceu estar novamente interessada, apoiando o queixo no punho fechado ao também se inclinar mais na minha direção.

—O que você quer dizer com isso?

Balanço a cabeça de um lado para o outro.

—Eu tô bêbada e talvez não esteja fazendo sentido. —passo uma mão pelos cabelos. —Mas acho que pessoas como você e eu têm pensamentos muito negativos a respeito de si mesmas. Não são os outros, somos nós. Se tivéssemos um pouquinho mais de autoconfiança, talvez pudéssemos ser honestas com quem realmente amamos.

Ela fica um tempo em silêncio, parecendo refletir, então assente. 

—Faz sentido, Rach. — então desvia o olhar.

Antes que eu pudesse mudar de assunto, sinto dois braços envolvendo minha cintura, e Leo beija minha bochecha.

—Acho que já quero ir embora. —ele diz perto da minha orelha.

—Eu também. —digo, tocando a mão dele. —Tá tarde. —olho para Piper que me observa pelo canto do olho enquanto bebe mais um gole d'água. —Foi bom falar com você, McLean.

Dessa vez, eu vi seu sorriso.

Red - (au percabeth)Where stories live. Discover now