A abracei.

— Irei lá agora mesmo.

— Eu te acompanharia, mas não posso deixar o bar sozinho. Jacob teve que sair para repor as bebidas.

— Eu entendo, é perto, não se preocupe.
Nos despedimos e eu andei até a loja. Quando entrei, uma senhora baixinha de pele escura e vestido rosa me atendeu. Ela usava um belo chapéu de laço branco. Seus olhos brilharam quando eu entrei.

— Ora, é sempre bom receber uma moça tão bonita e elegante. Como se chama, querida?

— Arabella, muito prazer.

— Sou a Joana. — ela estendeu os braços. — O que deseja de minha humilde loja?

— Eu gostaria apenas de ver um vestido... mas confesso que não tenho como pagar por agora.

— Oh, não se preocupe com isso, encontraremos algo para você.

Ela me mostrou todos os vestidos da loja. Apenas sete ficaram bem ajustados ao corpo e, quando eu olhei no espelho, apenas um não havia me deixado tão... feia e pobre.

— Esse está lindo em você. — ela disse, tentando vender.

Encarei a saia marrom, percebendo que não havia ficado tão ruim assim com o contraste do cabelo ruivo.

— Como eu disse, não posso pagar agora. Voltarei para buscar depois.

— Querida, vá com ele, está deslumbrante! — ela disse, exasperada. — Faremos uma troca. Um vestido por outro.

Olhei com o coração partido para o azul turquesa. Era um dos meus preferidos, mas já estava escurecendo e eu não queria chamar tanta atenção à noite, já que estava sozinha e ainda havia um bom caminho até a floresta.

A senhora já o segurava com firmeza, como se fosse me matar se eu não aceitasse o acordo. Eu já nem podia mais ver onde ela havia escondido o meu chapéu.

Assenti, mesmo sabendo que o meu vestido valia muito mais que o dela.

Um vestido. Eu agora tinha um único vestido para usar na vila, e nem havia me agradado tanto assim. Se eu possuísse as agulhas e as linhas necessárias de costura eu poderia fazer algo muito mais bonito.

Saí da loja me sentindo enganada, e parei ao ver que a da frente vendia justamente o que eu precisava para realizar os desejos mais sensatos de meus pensamentos.

Era um pequeno comércio de tecidos, que também vendia os mais diversos artefatos para costura. Encantada, perdi um bom tempo escolhendo os mais belos panos e as mais delicadas rendas.

— São cinquenta moedas de prata, madame. — o homem disse, estendendo a mão.

Levei a mão ao pescoço, com vergonha de ter que devolver tudo que havia pegado. Senti um colar envolto à minha nuca, e me lembrei, no mesmo instante, que ele deveria ter um valor considerável.

O retirei do pescoço e entreguei ao homem.

— Não trocamos por objetos.

— Senhor, por favor, este colar é de ouro puro, vale muito mais do que as moedas!

Ele encarou as minhas vestes e sorriu, incrédulo.

— Não pense que sou bobo, moça.

— Papai, é de verdade! — a garota atrás do balcão disse, com os olhos arregalados ao ver a pedra de safira brilhar no centro do cordão.

— Tem certeza? — ele olhou desconfiado para a filha.

— Se não for, ainda assim é lindo. — os olhos dela brilharam. — Troque, papai!

O homem suspirou, se rendendo ao pedido da filha.

— Tudo bem, pode ir.

Não foi visto um sorriso mais largo que o meu, a milhas de distância. Já estava escuro, mas eu não me importei. Haviam boas fogueiras nas ruas que forneciam uma certa iluminação e eu me guiei pelo caminho que pensei ter aprendido.

Quando eu passei pela taverna e entrei pela floresta, percebi, então, angustiada, que eu não estava reconhecendo mais o caminho pelo qual havia entrado.

Meu coração começou a acelerar. Eu não podia me perder, não agora. O céu estava limpo, sem uma única lua para ajudar, e as fogueiras da cidade agora estavam distantes. O som dos morcegos, agora, não eram nem de perto mais reconfortantes do que a voz do Duque. Percebi que seria muito bom ouvir a voz dele agora.

Abracei meu próprio corpo, sentindo o vento frio começar a me envolver conforme eu andava pela floresta. Estava escuro demais. Após quase cair em um buraco, comecei a tentar voltar para trás, em uma tentativa de encontrar novamente a aldeia.

Parei quando vi um penhasco. Meu peito se apertou de uma forma avassaladora, enquanto a minha mente tentava associar que, se eu tivesse dado mais um passo, teria morrido lá embaixo.

Fechei os olhos, tentando afastar os meus medos. Eu iria ficar bem. Iria encontrar o caminho de volta. Só precisava me acalmar.
Gritei quando a mão de alguém tocou em meu ombro, me puxando para trás.

— Quer me enlouquecer, Arabella? — era a voz alta de Harry. Ele nunca havia gritado comigo antes, não daquela forma. — Sabe a quanto tempo estou te procurando?

— Harry...

— Eu não quero ouvir as suas desculpas. Aqui não é Beaumont, mulheres morrem todos os dias e sabe Deus o que poderia ter acontecido com você se eu não tivesse te seguido.

— Você me seguiu?

— Segui até a taverna e depois fui embora, pensando que voltaria cedo. Imagine o meu desespero ao chegar em casa à noite e não lhe encontrar. Estou a horas rodando por essa floresta e este não é o caminho que lhe ensinei. Você se perdeu. — ele parecia suar pela testa.

Me perguntei se foi assim que a mulher que ele amava havia morrido. Em uma viela escura ou perdida na mata durante a noite.

— Calma Harry, eu estou bem. — toquei em seu rosto, vendo-o se acalmar aos poucos.

— Você nunca mais sairá sozinha.

Arregalei os olhos, sentindo a minha empatia ir embora.

— E o que senhor vai fazer? Me prender? Está louco se pensa que irei ficar dentro daquela minúscula cabana até esse maldito acordo acabar!

— Se for preciso para te manter viva, sim!

— Ora Duque, não finja que se importa com a minha vida. Só está fazendo todo esse alvoroço porque sabe que, se eu desaparecer, você nunca irá recuperar as porcarias de suas terras!

— É isso mesmo que pensa?

Ele me encarou, parecendo magoado. Eu não esperava que ele fosse me olhar daquela forma.
Dessa vez, ele que foi o caminho inteiro sem conversar comigo.

Insensato AmorWhere stories live. Discover now