— Sim, verdade — Lorde Henry confirma. — Ele é terrivelmente chato, mas eu não acho o mesmo de todos os americanos.

E com isso ele dá uma piscada para mim e eu relaxo um pouco. Até agora, minha primeira impressão do Mundo de Freen não é tão assustadora.

Claro, estamos em um castelo, e, sim, eu acabei de conhecer um lorde, mas ele ainda é apenas... uma pessoa. Uma pessoa agradável que gosta de Freen e é acolhedor com americanos aleatórios em sua casa.

Então ele pergunta a Freen:

— Por acaso você já viu a Roseanne?

O sorriso de Freen se apaga um pouco, e ela endireita os ombros, jogando o cabelo para um lado.

— Não — ela responde. — Na verdade, eu não sabia que ela estaria aqui. Mas vai ser legal encontrá-la de novo.

— Ellis queria a casa cheia de gente jovem no fim de semana — ele responde. — Ela diz que isso nos mantém rejuvenescidos. De qualquer maneira, se você a vir, diga que minha esposa está procurando por ela, tudo bem?

Freen concorda com a cabeça e uma expressão suficientemente agradável, mas desconfio que há algo mais nessa história enquanto lorde Henry nos deseja uma boa tarde e sobe pelas escadas.

— Quem é Roseanne? — pergunto assim que ele está fora de vista, e Freen joga a cabeça para trás, se movendo em direção à porta de entrada.

— Neta do Lorde Henry — ela responde e, enquanto dois homens de dois metros de altura abrem a porta pesada para nós e eu a sigo para mais uma escada. — Não uma das americanas.

— Não era bem isso que eu estava perguntando, e acho que você sabe disso. Virando-se para me olhar, Freen coloca os óculos escuros no rosto, fazendo aquela expressão de avaliação que ela é tão boa em fazer.

— Dando uma de Nancy Drew, Armstrong?

— Apenas sendo enxerida, na verdade — respondo, e as bochechas de Freen formam covinhas quando ela tenta segurar um sorriso.

— Ninguém fala comigo que nem você — ela diz, e reajo com deboche.

— Francamente, Sarocha, eu acho que isso é noventa por cento culpa sua.

Freen ri, mas, quando descemos as escadas, ela estende a mão para pegar uma flor de um arbusto próximo, virando-a nas mãos com certo nervosismo.

— Rosé é uma garota com quem me envolvi — ela diz finalmente. — Não que alguém saiba disso. Ela tinha sido marcada a ferro para o Heng, só que isso não daria certo, obviamente. Mas — ela complementa, soltando algumas pétalas da rosa —, acho que eu também não tinha chance.

Ela diz com leveza, mas acho que há sofrimento de verdade nessas palavras, e sei como ela se sente.

Então dou um passo à frente, quase apoiando a mão em seu braço antes de pensar melhor no que fazer.

Em vez disso, eu pergunto:

— Freen, foi ela que partiu seja lá o que for que existe no lugar do seu coração?

Caindo na gargalhada, Freen me ataca com a rosa despetalada.

— Você é a pior — ela diz, mas então segura minha mão. — Vem, vamos para a praia.


Passamos quase a tarde inteira na praia, apenas caminhando e conversando. Nenhum assunto muito sério, mas fico levemente impressionada de como é fácil apenas... conversar com Freen. Como uma pessoa. Ela realmente escuta, para dizer o mínimo, e parece interessada.

Talvez seja só uma Habilidade Real, conseguir fingir interesse em qualquer pessoa e qualquer assunto, mas sinto que é genuíno.

A gente aproveita tanto a praia que quase nos atrasamos para voltar para o castelo, e então é uma correria para nos arrumarmos.

Tomo um banho, admirando o tamanho da banheira mesmo que a água quente não dure o suficiente para encher até o topo e, quando eu saio, descubro que alguém deixou uma mala preta com roupas sobre a cama. Atravessando descalça o tapete denso, eu abro o zíper.

Trinta minutos depois me olho no espelho, tentando reconciliar a Becky que gosta de jeans, tenis e pedras com a garota no vestido maravilhoso à minha frente.

Freen não estava brincando quando disse que poderia arranjar algo de última hora. O vestido é um tom escuro de verde-floresta, tão escuro que quase parece preto, e se ajusta ao meu corpo como se tivesse sido feito para mim. O verde faz com que meus olhos castanhos pareçam mais profundos, destacando fagulhas de ouro, e minha pele fica bonita contra o tecido luxuoso. Eu gosto até do pequeno laço quadriculado preso na cintura.

Virando de lado, seguro as duas laterais da saia para fora, incapaz de não sorrir para meu reflexo. Quem diria que eu gostaria tanto de um vestido?

Alguém bate à porta e eu me viro em direção a ela, soltando a saia antes que alguém me pegue posando como se estivesse prestes a fazer parte de um episódio de Pequenas Misses.

— Pode entrar! — chamo.

É Freen e, se eu pensei que meu vestido era bonito, não é nada comparado ao dela.

Ela está vestindo um tartã completo, o que poderia parecer ridículo, mas nela é quase absurdamente lindo. O roxo, o verde e o preto destacam perfeitamente sua pele branca e seus cabelos castanhos, e o cinto de veludo preto em sua cintura lhe confere um formato de ampulheta. Para completar, uma tiara de esmeraldas e diamantes está acomodada em seus cabelos.

Mas é o sorriso que ela abre quando olha para mim que faz meu coração de repente se agitar contra minhas costelas.

— Olha só, Armstrong — ela diz. — Você arrumada assim fica melhor do que eu imaginava.

Ajeitando a parte frontal da saia com as mãos, dou de ombros, me sentindo sem jeito de repente.

— Eu não acredito que você conseguiu achar algo que caiba tão bem em mim — digo, me virando para o espelho, porque, se eu estiver me olhando, não estarei olhando para ela, e isso parece ser o melhor a fazer agora.  — Quem aqui tem as mesmas medidas que eu?

Freen está de pé na entrada do quarto, com a mão na maçaneta, e ela levanta um ombro.— Ninguém. Eu adivinhei e enviei um e-mail para a Glynnis arranjar e mandar algo.

Eu me viro de novo, com a boca aberta um pouquinho.

— Você adivinhou?

Isso parece impossível. O vestido tem as medidas certas e cai muito bem em mim. Freen e eu podemos até nos conhecer melhor agora, mas eu não sabia que estávamos no nível de "saber suas medidas só de olhar" dessa amizade.

— O que posso dizer? Eu tenho um olho bom pra essas coisas — Freen responde, mas seu olhar não encontra o meu.

E então ela gesticula em direção ao corredor.

— Bom. Podemos ir?

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyWhere stories live. Discover now