SUA ALTEZA REAL - Freenbecky

She's back.

— Dahyun voltou.

Estou na sala de jogos da casa de Nayeon, sentada no chão e encostada no sofá com um controle de Xbox nas mãos.

Na TV gigante à minha frente, um dragão agarra meu avatar, lady Lucinda, pela cabeça, sacudindo-a tão agressivamente que o corpo sai voando para fora da tela.

Ótimo.

Descanso o controle na barriga com um suspiro enquanto a tela fica branca.

— Aquela era minha última vida — resmungo, pegando a lata de Sprite zero ao meu lado.

Nayeon cutuca meu pé com o dela, suas unhas pintadas num roxo vívido.

— Becky, você me ouviu?

Do meu outro lado, Bambam se apruma, pegando o controle de mim e recomeçando o jogo.

— Ela te ouviu, Nay. Ela não se importa.

— Eu me importo — confirmei — porque gosto da Dahyun e é legal que ela tenha voltado. Só acho que isso não tem nada a ver comigo.

Cruzando as pernas, Nayeon endireita a coluna e olha para mim sobre os óculos. São novos, a armação verde-ácido brilhando em volta de seus olhos escuros.

— Becky — ela diz, e eu movo os ombros, desconfortável.

— Elas terminaram — eu a lembro enquanto me endireito também. —Acabaram. E eu e Sana somos...

— Um caso de verão que vai partir seu coração —

Nayeon completa, e fecho a cara para ela.

Nayeon tem batido nessa tecla desde que contei a ela sobre nós: que Sana é inconstante, que ela muda de ideia mais vezes do que muda a cor do cabelo, que eu sei como Sana é.

Sei que ela diz isso porque se importa comigo, mas, ainda assim, não é o que mais gosto de ouvir e, além disso, ela está errada. E talvez tenha um pouco de ciúmes.

Sana e Nayeon eram muito próximas alguns anos atrás, mas, conforme Sana e eu nos aproximamos, Nayeon acabou ficando um pouco de fora.

Nosso quarteto de amigos está em constante transformação.

O fato de Sana e eu estarmos juntas agora mudou mais ainda as coisas.

— Sana é meio excêntrica — Bambam reconhece enquanto seus dedos voam sobre os botões do controle.

Ele olha para mim, os cabelos ruivos sobre um dos olhos.

— Desculpa, becca, mas você sabe que é verdade. É uma das coisas que amamos nela, mas dá pra ver que isso pode fazer dela uma namorada ruim.

— Você não é exatamente um especialista em namoradas, Bambam — digo, e ele abre a boca fingindo ofensa, o olhar ainda grudado no jogo.

— Como ousa, Rebecca Armstrong? — Então seu rosto abre um sorriso.

—E, sim, justo. Mas sou um especialista em você e não quero ver seu coração esmagado. A Nayeon está sendo meio chata, mas ela não está vi necessariamente errada, o que em geral acontece com Nayeon, sejamos sinceros.

— Por que eu ainda te chamo pra vir aqui? — Nayeon resmunga, pegando a lata de refrigerante e bebendo um longo gole.

— Porque você me ama e quer apoiar meu vício em jogar — Bambam diz, e então solta um grito triunfante quando o dragão cai morto na tela.

Jogando o controle sobre o tapete grosso, ele se inclina sobre mim para alcançar o pacote de salgadinhos de queijo que foi parar debaixo do sofá.

— É um desperdício você ter esse videogame, Nayeon — ele diz. —Você nem joga.

Nayeon dá de ombros e eu pego um salgadinho do Bambam, com cuidado para não derrubar farelo no tapete. Não que Nayeon ou seus pais se importem. Mas a casa deles é tão bonita que sinto que eu devo me importar.

O pai de Nayeon trabalha para alguma empresa de petróleo em Houston, o que significa que sua família tem muito mais dinheiro do que a minha ou a do Bambam. Isso nunca foi um problema, mas ainda fico impressionada como piso lindo, as TVs enormes e como Nayeon tem seu próprio banheiro no quarto.

Agora ela me observa com os olhos semicerrados.

— Sana disse que você passou para aquele colégio sofisticado na Escócia.

— Quê? — Farelos cor de laranja voam da boca de Bambam enquanto ele leva uma mão à boca, e eu olho de um para o outro com o estômago embrulhando.

— Ela te contou isso? — pergunto, e Nayeon pega o pacote de salgadinhos de queijo de Bambam.

— Sim — Nayeon me diz. — Você não vai por causa dela?

Pego meu refrigerante de novo, mais para ter algo para fazer com as mãos do que por sede.
— Não — digo finalmente. — Não vou porque é cara.
Bambam solta uma risada debochada.

— Sei, porque uma bolsa de estudos não está à sua altura, ó lady Espertona.

— Exatamente — Nayeon concorda e eu apenas dou de ombros.

Fico incomodada que Sana tenha comentado sobre isso com a Nayeon, especialmente porque eu ainda não tinha contado para mais ninguém.

Mas apenas falo:

— Provavelmente já é tarde demais pra conseguir ajuda financeira. E, de qualquer maneira, foi uma ideia estúpida me inscrever. Eu só... queria ver se conseguiria passar. Eu não queria ir de verdade.

— Pois eu acho que isso é tudo mentira, Becca — Bambam diz, apontando os dedos do pé para mim.

— Você ficou falando da Escócia o ano passado inteiro.

— A gente viu Valente pelo menos três vezes durante as férias de inverno — Nayeon complementa, e direciono aos dois o que espero que seja uma expressão severa.

— As pessoas têm direito a mudar de ideia — digo, e observo enquanto eles se olham.

— Eu só estou dizendo — Nayeon finalmente diz antes de pegar o controle do chão e desligar o Xbox — que você não deveria abandonar uma grande oportunidade por causa da Sana.

— Não estou fazendo isso por causa dela — respondo, mas lá está aquele olhar entre Bambam e Nayeon de novo e, fechando a cara para os dois, eu pego o controle de volta e ligo o videogame.

Ainda tenho duas horas antes de precisar ir para casa e, quer saber? vou matar um dragão.

— Isso não é sobre a Sana, e, mesmo que fosse, quem se importa? A volta de Dahyun não muda nada.