Perdedoras.

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Freen e eu somos declaradas as perdedoras da corrida de barcos por "conduta antidesportiva", o que, honestamente, parece justo. A gente se deu muito bem, a meu ver. Sem instrumentos de tortura, nem masmorras, nem mesmo detenção. Nossa punição é começar a arrumar o equipamento para o Desafio e, como organizar material de acampamento é uma das minhas coisas favoritas da vida, eu não me importo.

Estamos sozinhas, eu e ela, em nosso quarto, com várias barracas e peças de equipamentos espalhadas à nossa frente. Nosso trabalho é colocá-las em vários pacotes separados.

— Você já fez algo assim antes? — pergunto a Freen.

Já anoiteceu e, como não há nenhuma lâmpada, estamos na meia-luz. É quase aconchegante.

— O que, acampar? — ela responde, pegando uma das bússolas e fazendo uma expressão confusa.

— Acampar, fazer caminhadas, atividades ao ar livre em geral...

Isso me garante um olhar enviesado, e ela joga a bússola no chão, contra uma sacola com estacas.

— Eu já saí pra atirar.

— Você vê alguma arma por aqui? — gesticulo com a mão, exibindo o equipamento que temos na nossa frente.

Com um suspiro, Freen se levanta do chão, limpando as mãos na parte de trás da saia.

— Não sei pra que isso tudo. Não é como se a gente fosse ficar no meio da natureza selvagem tanto tempo assim. Eles não deixariam. Imagine os processos se alguma coisa acontece com alguém? — Ela cruza os braços sobre o peito, rindo de deboche.  — Isso tudo meio que faz parte do espetáculo, um pouco de "ah, olha que colégio interessante eprogressista nós somos!", e aí eles podem colocar isso em panfletos, ao lado de "a instituição de ensino escolhida pela realeza".

Olho para ela. Ela está de pé ao lado da porta, o queixo levantado, mas há algo além da arrogância de sempre em sua expressão.

— Isso te incomoda de verdade, não é? — pergunto. — Fazer parte do material promocional.

— O quê? — Ela olha para mim, estreitando os lábios de leve.

— É só que essa é a segunda vez que você menciona o fato de eles usarem sua família como publicidade — digo, voltando a contar estacas de barracas. — Então está claro que isso te incomoda, eu entendo.

Freen ainda está em pé no mesmo lugar com os braços cruzados, mas agora ela está me observando com uma expressão esquisita.

— Nada me incomoda — ela diz finalmente, antes de se virar para sua pilha de equipamentos, e eu levanto uma sobrancelha.

— Nada?

— Bom, nada além de você neste momento, eu acho.

Ah, certo, estamos de volta à Freen que eu conheço e detesto.

Sacudindo a cabeça e murmurando um "que seja", volto a arrumar as coisas em pilhas. Uma barraca, seis estacas, duas bússolas, duas garrafas térmicas...

— E, mesmo que eu estivesse "incomodada", o que eu não estou — Freen diz repentinamente —, não é como se houvesse algo que eu pudesse fazer. Isso só... faz parte.

— Do quê? — pergunto. — Ser feita de manequim?

Freen ainda não está olhando para mim, mas seus movimentos são bruscos enquanto arruma os equipamentos.

— Dificilmente me fazem de manequim — ela diz. — É só que é irritante e um pouco brega que as pessoas queiram que você seja uma propaganda ambulante simplesmente por causa da sua família. Acontece que eu acho que sou uma pessoa interessante tendo ou não uma coroa na minha cabeça.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyWhere stories live. Discover now