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Não... o campo não é infinito...


  Sei que eles têm aquele pedaço de terra todo e os espaços verdejantes quilométricos todos alinhados metricamente para a colheita. Sei bem, colhemos o que plantamos, mas o que acontece com a sua coleta nem sempre é culpa sua.

  Às vezes, um intruso vem para acabar com sua plantação, seja um desconhecido por ódio, um conhecido por amor, vingança, inveja, remorso, prazer, avidez, ganância, mas você é dono de pelo menos uma de suas cicatrizes.

  Em qualquer belo dia você pode estar andando pela sua plantação e sem querer acabar estragando-a, sendo de propósito ou não, você a pisou num momento aleatório, e se sentindo responsável, se ajoelhou na terra molhada para consertar seu pequeno erro, mas as raízes crescentes do solo vermelho prenderam suas pernas ao chão fronteiro à sua falha.

  Trinta horas se passaram e você se pergunta onde o sol se põe, a resposta deveria ser ''oeste'', mas não é.

  As raízes finas e numerosas que prendem suas pernas ao solo te injetam um veneno aos pés chamado ''passado'', fazendo você caminhar imóvel durante todas as suas inexatidões, ainda preso na frente daquele pedacinho de planta que você tentou reparar, mas seus furores o fazem ficar em cárcere por algo que você é tecnicamente responsável, característica essa que sua falha não o deixou ver por muito tempo.

  Mais trinta horas e você lá, parado, ainda encarando sua fração da fileira de plantas enquanto busca algo sem sentido num vazio preto e branco da sua mente, local esse que o veneno te faz rever a cada minuto.

  Dezesseis horas sem ver o oeste, mas finalmente vendo algo no vácuo, algo como um filme curto e cinza, fazendo você rever a maçã que você derrubou da árvore, o galho que você quebrou, e a formiga que você pisoteou. Sabe bem como é, acontecimentos imprevisíveis e supérfluos que poderiam ter sido facilmente revertidos se não fosse por culpa sua, exato.. você.

  Agora, o veneno das raízes paralisou seus pés na frente do filme, e enquanto sua mente via outra coisa, seus olhos viam seu erro mais recente em frente de si, suas retinas secas de tanto mirá-lo, seus ouvidos não aguentando mais os sons do seu passado, sua circulação em seus membros inferiores sendo cortada pela plantinha que você pisoteou, e um formigamento na planta de seus pés de tanto ficar de pé vendo seu próprio filme. Mas às vezes uma produção original não é algo bom. Produções originalmente egoístas, originalmente maléficas, originalmente perturbadoras, sua alma está ali, ainda sem ver o sol se pôr, num fundo cinza, e tentando guardar ao veneno o seu mais recente deslize.

  Por mais tempo discorrido, você pisca, sentindo suas pálpebras grudando em seus olhos por causa da secura, mas tendo novos arredores em seu meio externo e interno, finalmente se perguntando novamente onde o sol se põe, mas juntando com informações incorretas de mente alheia, por mais que seja a sua cabeça a criadora de todos esses tormentos.

  Na verdade, o único caminho não é o oeste, e sim... ao norte da maçã que você derrubou, ao sul do galho que você quebrou, ao leste da vida que você ceifou, e ao oeste do que te assombra há horas e te mata lentamente.

  Mas a solução pra isso não é somente o oeste, afinal... tudo o que vai pro oeste, uma hora chega ao leste novamente, assim como suas mãos, que vão uma para o leste e a outra para o oeste, prontas para pegar o que o seu solo chama de ''água'' as suas lágrimas e derramá-las sobre a plantinha pisoteada, tendo agora um solo somente vermelho, mas não mais úmido debaixo de si. Como resposta, o veneno para de ser emitido pelas raízes, as quais se contraem um pouco, demonstrando resistência ao seu alívio e querendo forçar seu sofrimento, mas logo você põe a mão em seu coração parado, o tira, e o planta ao chão próximo à plantinha, fazendo o solo ficar marrom, não mais vermelho, quanto menos encharcado, mas leve.

  De breve em breve, o filme cinza ganha cor, e as veias de seu coração ainda ligadas ao seu corpo voltam a pulsar, porém você sente dor, e decide tirá-lo do solo e reposicioná-lo em seu peito para parar de sofrer. Com isso, aquele egoísmo e sadismo da planta ferida enfraquecem, vendo já que você não quer se martirizar, quanto menos remoer o passado, e assim, as raízes se desintegram e as folhas verdes voltam a se mover, e enquanto você esboça um sorriso emotivo, você diz a seguinte frase: ''O sol se põe para a direção de seus fracassos e a sua agonia te persegue desde a primeira vez, mas jamais irão te pegar se você correr rapidamente para o leste, pois seu renascimento te espera lá, e sua plenitude reinará até que você cometa o mesmo erro de acreditar em sua mente desusada outra vez.''

Quatro metades.. duas inteiras (Shoto Todoroki x Oc)Where stories live. Discover now