-LIMITAÇÕES-

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Narra Kamari


*(De manhã cedo...)*


  Enfim... vou voltar pra escola.. com saúde... em partes... Eu acordei mentalmente, mas não tão fisicamente, tanto que uns segundos depois de me perguntar o que diabos estava acontecendo no ambiente que eu estava, senti um toque constante e uns pequenos agitos insistentes em meus ombros.

Shoto: Kamari.. Kamari, Kamari acorda. - falou num tom calmo mas meio agitado aparentemente, e então eu acordo lentamente abrindo meus olhos, mas eles estavam meio secos, o que era estranho ao meu comum.

Kamari: Hmm..? Que foi..? - forcei o fechar de meus olhos novamente e os esfreguei com meus punhos.

Shoto: Está quase na hora de irmos pra aula, mais ou menos cinquenta minutos, o pessoal está se arrumando, recomendo que se levante rápido. - disse meio alvoroçado enquanto se separava de mim e arrastava a cadeira de rodas pra frente do sofá, e eu ainda bêbada de sono quase não prestei atenção no que ele falou.

Kamari: Ahh.. por que essa pressa toda..? - disse meio rouca e tirando o cobertor das minhas pernas.

Shoto: É que eu acho que talvez você precise de ajuda com algumas coisas pra se arrumar, então pensei que demoraria.

Kamari: Ah... tá.. - me movi um pouco mais lentamente para ir até a cadeira de rodas, e logo o Todoroki vai empurrando o móvel até o elevador - (boceja)... Caramba.. eu tô com muito sono...

Shoto: Quer que eu te ajude com isso?

Kamari: Ah.. pode ser.. - péssima escolha... sabem por quê? É porque ele simplesmente esfriou sua mão direita e a pôs em minha nuca, me fazendo me arrepiar imediatamente, junto com minhas orelhas e cauda, além de que eu me endireitei tão rápido e tão forte que quase estalei a coluna - A-a-a-ahh~... t-t-tira a mão.. - falei num fio de voz, e então o bicolor faz o pedido e eu me curvo suspirando aliviada.

Shoto: Melhorou? - perguntou com simplicidade enquanto saía do elevador.

Kamari: Poderia ter me avisado disso antes.. mas melhorei. - então ele abriu a porta do meu quarto e adentramos nele, e em seguida ele trancou a porta - Ok... me pergunto por onde começo.. - pus minha mão em meu queixo - Aliás.. por que você não se arrumou ainda? - disse olhando pra trás, mas depois vejo que ele estava totalmente pronto, me deixando bem confusa - Eh?

Shoto: Na verdade eu me arrumei antes de te acordar.

Kamari: Suspeitei que meus olhos estavam secos demais. Enfim.. vou ir tomar banho, já volto. - falei me levantando com cautela da cadeira de rodas com o auxílio da minha cauda.

Shoto: Deixa que eu te ajudo. - disse se acercando de mim e pondo suas mãos em minhas costas e em minha barriga, mas...

Kamari: A-a-ahh~.. sua mão ainda tá fria..

Shoto: Ah, desculpa. - retirou a mão direita do meu ventre, e eu suspiro novamente - Vai precisar de ajuda quando estiver lá?

Kamari: Hã? Lá?

Shoto: Lá. - apontou pra casa de banho, ''Ahh.. foi pra disfarçar..''

Kamari: Ué... na verdade eu acho que consigo sozinha mesmo, obrigada. - respondi com um pequeno sorriso no rosto.

Shoto: É que se fosse o caso eu poderia chamar a Mina ou alguma outra menina pra te ajudar, eu não seria tão adequado para esse papel. - ''Que respeitoso..''

Kamari: (pequena risada) Tá tudo bem, eu posso sozinha, é só eu ir me apoiando em tudo.

Shoto: Bom.. já que você acha assim, tudo bem.

Kamari: Pode me soltar, já firmei minha cauda no chão. - ele concorda com um sonido e me solta devagar, ''Ai... não pensei que fosse doer tanto só tocar a bota no chão...'', eu então respirei fundo e fui andando até o banheiro para então fazer todo o processo de limpeza corporal e de me vestir, ou pelo menos até fechar a blusa branca do uniforme, e depois eu saí - Ufa.. pronto. - falei suspirando e saindo do cômodo - Mas.. poderia me dar uma aju.. da...? - disse pausadamente na hora que eu vi o meu bicolor favorito sentado na borda da minha cama e com dois pratos com dorayakis, um ele estava comendo e o outro estava ao seu lado, e quando me ouviu, o heterocromático me observa calmamente.

Shoto: Claro, que ajuda? - deixou seu prato de lado um pouco, e então eu andei até me sentar ao seu lado no colchão.

Kamari: Ah, era só pra me ajudar a atar a gravata, ainda não sei direito dar o maldito nó. - falei com um sorrisinho sem graça enquanto pegava as fitas vermelhas e as enrolava um pouco em meus indicadores.

Shoto: Tudo bem. - se posicionou mais virado para mim e pegou as duas fitas da gravata para começar a amarrá-las - Primeiro.. você pega a maior fita e passa por baixo da outra, e depois por cima, e o nó que você criar com isso vai servir pra terminar o segundo nó, entendeu? - explicou de maneira direta e terminando o seu trabalho, e eu concordo que entendi - Então.. tente agora. - desfez o nó e deixou as fitas soltas novamente, e logo comecei a seguir os passos que ele havia me dito.

Kamari: Hmp, a técnica do 'eu te ensinei, agora se vira'.. muito esperto Shoto Todoroki. - disse num tom um pouco brincalhão enquanto terminava de atar a gravata - Assim?

Shoto: Uhum, aprendeu. - então vesti e abotoei a jaqueta do uniforme, e logo depois eu me sentei na cadeira de rodas e nós descemos pra sala de novo enquanto eu comia meus dorayakis.

  E... assim foi o tempo todo de aulas, aulas teóricas normais, nos treinamentos eu fiquei de fora na parte física mas pelo menos me liberaram pra usar minhas asas e treinar coordenação motora, até o final da tarde, e consequentemente das aulas também, a não ser por uma coisa que aconteceu depois da sala ficar vazia e somente comigo e com o Shoto nela.

Shoto: Quer ajuda com a mochila? - se ofereceu ficando ao meu lado.

Kamari: Não precisa, obrigada. - peguei minha mochila e a segurei em meu colo, mas antes de nós sairmos da sala de aula, uma voz nos interrompe.

Aizawa: Vocês dois. - apareceu no marco da porta e logo entrou no salão - Por favor, fiquem aqui por um tempo, preciso dar um comunicado a vocês. - fechou o portão e se sentou numa cadeira próxima a nós - Bom.. primeiramente pra você, Mitsubuji... e é que foi tomada uma decisão de que... você não vai poder participar de missões extraescolares, e para sair para qualquer outro lugar fora do perímetro do território da escola você precisará de acompanhamento. - após essa notícia, eu fiquei bastante chocada e ao mesmo tempo um pouco tensa.

Kamari: Ah? O quê? - falei com epifania.

Aizawa: Aceite, é para um bem maior.

Kamari: Mas como vou me desempenhar com os trabalhos daqui?

Aizawa: Seus treinamentos não serão abdicados.

Kamari: Do que vai adiantar tudo isso se eu ainda sou um alvo dos vilões?

Aizawa: A proteção da escola vai te deixar mais fora disso.

Kamari: Eu estou sendo.. praticamente presa, nem ao menos posso participar dos treinos por causa da minha condição e agora nem mais posso ajudar com as missões? - disse com um tom mais alto.

Aizawa: Só estamos tentando mantê-la segura. - falou também numa voz mais séria.

Kamari: Eu não posso fazer isso, eu quero ser uma heroína, não posso simplesmente deixar tudo de lado por isso, está me privando do que eu almejo ser..!

Aizawa: Você já morreu uma vez e não vou deixar isso acontecer de novo!! - falou num tom mais alto e assertivo, o que me assustou um pouco, e ao ver minha expressão, o professor deu um profundo suspiro e pôs sua mão cobrindo boa parte de sua face - Escuta.. você sabe o que aconteceu, Mitsubuji, sabe as consequências repercutidas em você, não posso deixar isso acontecer com outra pessoa. A Liga dos vilões parou de brincar faz muito tempo, entenda que quem fica mais em risco é você aqui, por isso quero garantir a segurança de que.. nem a Liga tenha coragem de invadir aqui por sua causa e nem pela causa de ninguém. A qualquer canto que você for terá alguém pra te proteger, só entenda que estamos fazendo o melhor pra você, mesmo que enxergue isso como um castigo. - após sua explicação, eu fiquei meio comovida pela razão de tudo aquilo, mas ainda sim triste pelo que deveria ser feito, e então eu abaixei meu olhar um pouco.

Kamari: ... Sim senhor.. - disse um pouco decaída, e logo senti a mão do Shoto em meu ombro talvez tentando me acalmar.

Aizawa: Todoroki, confio em você para deixá-la o mais segura possível, precisa-se de estabilidade nesses momentos.

Shoto: Sim senhor.

Aizawa: Podem ir agora. - o bicolor então começou a empurrar minha cadeira para fora da sala e logo para fora da escola, mas quando estávamos andando no caminho pros dormitórios, eu comecei a derramar algumas lágrimas junto de uns pequenos soluços, e ao ouvir, o heterocromático para seu andar e fica na minha frente um pouco abaixado e com uma expressão preocupada.

Pensamentos de Aizawa: ''... Eu também me arrependo dessa decisão, Mitsubuji...''

Shoto: Kamari, o que foi? - perguntou numa voz suave enquanto colocava sua mão em minha bochecha, e eu não respondo, somente o olho por uns segundos e seguro sua mão mais contra minha face - .. Vamos terminar de chegar nos dormitórios pra falar sobre isso, tá bem?

Kamari: (funga).. Tá.. - ele então seca minhas lágrimas e voltamos a nos encaminhar pro prédio. Ao chegarmos e entrarmos na sala já indo direto pro elevador, o pessoal viu a minha feição e uns questionaram o porquê daquilo, mas eu expliquei superficialmente que era um problema pessoal e que não tinham que se preocupar comigo, e depois fomos pro meu quarto, e tranquei a porta, para então me dirigir até minha cama e me sentar lá, assim como o bicolor.

Shoto: Pronto, pode falar agora.

Kamari: ... Bem... eu acho esse novo sistema bem injusto comigo, sei que nem sempre conseguimos o que queremos mas.. isso meio que me impactou, mesmo sabendo que isso é pro meu bem.. eu.. não consigo aguentar ficar como antes, e sim.. também sei que sou um alvo cobiçado mas... - fui interrompida pelo Shoto, quem posicionou seu indicador na frente dos meus lábios, e foi somente nesse momento que eu olhei diretamente em seus olhos, me deparando com sua feição calma e séria.

Shoto: Por que você está se contradizendo? - perguntou certeiro.

Kamari: .. Ah... como assim?

Shoto: Por que tantas reviravoltas na sua fala? Você começa falando sobre o que você pensa mas depois fala o contrário, por quê?

Kamari: Oh... bem.. é que na verdade.. eu não quero estar certa sobre isso. - ele retirou seu dedo de meus lábios.

Shoto: Por quê?

Kamari: Eu sei o porquê da tomada de decisão do Aizawa e tudo, mas... ao mesmo tempo... eu sinto que a minha 'eu' de antigamente vai aparecer de novo.. eu vou precisar ficar isolada de tudo de novo, solitária, tudo isso por minha causa que sou uma presa pros vilões. - abaixei mais o meu olhar e apertei meus punhos - ... E-eu... não quero ficar trancafiada de novo depois de tanto tempo.. eu nem penso sobre a Liga nisso, eu só quero.. continuar livre... não inclui o fato de eu ser um alvo, eu não quero passar por tudo aquilo agora.. - terminei minha fala com um tom direto e sério, e uns segundos de silêncio se passaram, até que o bicolor se assenta mais perto de mim e vai se inclinando até sua testa se recostar em minha clavícula, me deixando bem confusa e desnorteada ao mesmo tempo.

Shoto: .. Eu também queria estar errado sobre algumas coisas..

Kamari: Hm? Como assim?

Shoto: Queria estar errado sobre quando eu disse que você realmente é um alvo cobiçado dos vilões, queria estar errado sobre quando deixou claro pra mim o quanto você sofreu, queria estar errado sobre quando você morreu.. tudo isso.. não queria que tivesse acontecido nada disso, mas... eu infelizmente estava certo. - ele então circundou meu tronco com seus braços, aprofundando mais seu rosto onde estava - Por isso que te digo agora que tudo pelo que você está passando é necessário pra te manter segura, por mais que tanto você quanto eu saibamos pelo que você passou no passado, aliás.. o professor me confiou você, então.. tudo o que eu não posso fazer é falhar no meu objetivo, que é o mesmo desde quando realmente nos conhecemos...

Kamari: .. Shoto..

Shoto: Porém.. não recomendo que fale sobre isso só pra mim.

Kamari: Por quê?

Shoto: Todos aqui são sua família, e apesar de eu ter te ajudado desde o início e ter ganho sua confiança mais cedo, todo mundo sabe como te ajudar de alguma forma. Ainda mesmo sobre a condição de você passar a maioria do tempo aqui, eu e todos vamos poder te proteger do que for, e... eu fico ainda mais tranquilo em saber disso, já que eu vou poder ficar mais próximo de você pra te cuidar também.

Kamari: (pequena risada) Que sensível, mas é só que eu não queria reviver todo o meu passado físico, não quero mais ficar isentada do mundo mas.. já que vai fazer bem pra todos eu faço o que for. - disse com um sorriso no rosto enquanto acarinho seus cabelos um pouco, mas o sorriso que eu esbanjei era falso, pois nada iria me tirar o fato de que eu seria ''presa'' novamente.. Apesar de ter minha família por perto, a sensação de não poder explorar ao seu redor é ainda bem agoniante pra mim, mas... o que me resta é fingir que aceito a conclusão.

Shoto: Você quer.. ir lá pra sala pra poder conversar com todos?

Kamari: Hmm... tudo bem, vamos lá. - e bom... foi assim por um longo tempo, nós dois descemos e eu contei a todos sobre a minha situação do acordo feito e minha condição emocional sobre aquilo.

Mina: Ui.. realmente concordo que é injusto com você. - falou inflando um pouco suas bochechas.

Iida: Mas por mais que seja injusto, não negaremos que é extremamente essencial para a sua segurança. - disse fazendo movimentos estranhos com os braços.

Tokoyami: Pelo menos podemos passar um tempo a mais com você não é?

Sero: É verdade, ainda que hoje é o seu primeiro dia da fisioterapia, alguém pode te levar até lá.

Kirishima: Eu vou eu vou eu vou. - falou animadamente e levantando sua mão - Podemos ficar intercalando de pessoa pra pessoa até você terminar todo o tratamento, assim todos ficamos próximos e você ainda fica segura. - explicou de maneira gentil e solidária, e eu não pude evitar dar um pequeno sorriso.

Kamari: (pequena risada) Tudo bem, é perfeito pra mim, faço o possível pra poder tranquilizar vocês. - ''Mesmo que eu não aceite...''


*(Final de Novembro... De madrugada...)*


Narra Shoto


  Ela... está diferente... Ela tem ficado muito mais tempo no quarto.. tem tocado muitas músicas no violino ultimamente, e conheço bem que se ela toca repetidamente é porque isso a acalma, então.. ela ainda está aflita por causa daquilo... o sorriso dela tem mudado bastante desde a nossa conversa, parece mais forçado talvez... ... Vou resolver isso depois...


*(Final de Novembro... À noite...)*


Narra Kamari


  Eu havia acabado de sair da fisioterapia, dessa vez eu havia saído com o Kirishima novamente, aliás... deu tempo de eu sair com praticamente todo mundo da sala, até o Bakugo se ofereceu pra ir, e o Mineta também mas.. o Shoto pediu pra ir junto só por precaução de.. vocês sabem..
  Mas nesse meio tempo... estava cada vez mais difícil fingir o meu sorriso, até porque aquela sensação de isolamento não iria mais sumir, está enraizada em mim desde que eu era criança, sei o que é estar afastada de tudo, mesmo que todos estejam lá comigo... não sei porque me dói tanto.. mas dói...
  Mas bem... depois de um tempinho todos nós estávamos jantando, até que eu reparo numa coisa bem peculiar.

Kamari: Pessoal, alguém sabe onde tá o Shoto? Ele sumiu igual no meu aniversário. - questionei olhando pros lados.

Sero: Ele saiu mais ou menos no horário que você estava fazendo a fisioterapia, ele não disse pra quê, mas só disse que voltaria logo. - ''Que mania é essa de sair do nada e não contar pra ninguém..?''. Enfim.. passou-se mais um tempo e eu decidi ir pro meu quarto me arrumar pra dormir, apesar de não estar com nem um pingo de sono, mas na verdade eu só queria passar um tempo sozinha e pensando comigo mesma. Cheguei no meu quarto e fui tomar banho, o qual demorou um pouco mais do que o normal por causa da minha mobilidade, mas pelo menos eu consegui sair completa do banheiro já com um roupão, só que quando adentro na parte principal do meu quarto, eu me deparo com algo no mínimo... inesperado.

Kamari: A-ah..!? Shoto? - falei com um pouco de susto e puxando um pouco o tecido para cobrir um pouco mais o meu busto, já que a bata era a única coisa que eu estava usando além da minha roupa íntima então... é... Mas apesar das circunstâncias, ele somente me olhou com calma enquanto se levantava da cadeirinha que estava sentado.

Shoto: Oi, como vai? - perguntou tranquilamente e se sentando na lateral da minha cama.

Kamari: Como.. como você entrou? Eu não tranquei a porta? - perguntei apontando para a entrada e soltando um pouco o pano do roupão que eu havia segurado.

Shoto: Não, você nunca tranca, e a chave está do lado de dentro da porta. - ''Eu preciso parar com esse hábito..''

Kamari: Ah.. então.. o que faz aqui?

Shoto: Primeiramente, perdão eu ter entrado aqui do nada, minha intenção não era invadir, só queria conversar. - andou até mim com uma sacolinha de papel lacrada na ponta - Aliás, trouxe isto pra você. - estendeu sua mão com o dito objeto, e eu o peguei ainda com uma feição de dúvida, até que eu reparei num adesivo que havia na lateral da sacola.

Kamari: Ah..? São.. mochis..?

Shoto: É, é que eu lembrei que naquele seu livro sobre períodos, eu li que doces liberam uma substância mais parecida com dopamina no organismo feminino, então... pensei que isso poderia te deixar mais tranquila. - explicou docilmente, e eu até dei uma pequena risada.

Kamari: Obrigada, mas acalmar de quê?

Shoto: É sobre isso que eu quero conversar. - se pôs em cima da cama até ficar com as costas apoiadas na cabeceira, e então ele meio que me chama para me sentar também pondo sua mão num espaço que tinha em sua frente, então eu lentamente fui até ele me apoiando nas bordas da cama e me sentei aonde ele havia sinalizado, mais especificamente entre suas pernas, e obviamente eu fiz aquilo com um pouco de nervosismo, mas de qualquer jeito eu peguei a sacola e a abri, para então comer um mochi - Tem.. ficado cada vez mais difícil esconder não é? - após essa frase, eu levei um pequeno susto e ao mesmo tempo fiquei confusa por aquilo.

Kamari: Hm? Como assim..? - perguntei apreensiva.

Shoto: O seu sorriso.. tem sido mais difícil mantê-lo não é? - ''O quê...?''

Kamari: (engole o mochi)... Como sabe disso..? - disse numa voz um pouco culpada, mas ainda receosa.

Shoto: Eu te conheço bem, sei quando seu sorriso é espontâneo ou não, apesar de eu nem sempre saber o que você está sentindo, eu sei quando tem algo te incomodando, se lembra quando eu te disse isso não lembra? - quando ele falou isso.. eu fiquei em choque.. Não imaginava que eu poderia ter fingido tão mal.. ou que ele observasse tão bem.. e então eu abaixei meu olhar e fiquei em silêncio por uns segundos.

Kamari: ... Lembro... foi pouco tempo antes da prova das licenças... Mas... por que que.. você tocou nesse assunto?

Shoto: Eu reparei que aquele acordo do Aizawa incomodou muito você, ao ponto de chegar a passar quase a tarde toda isolada no quarto, só quero que fale pra mim o que está acontecendo.

Kamari: Aonde exatamente quer chegar..?

Shoto: Bem... eu quero.. que você fique calma de verdade apesar disso.. - disse numa voz tranquila enquanto colocava suas mãos em meus ombros e começava a massageá-los que nem aquela médica da I-Island fez daquela vez, e como eu não estava esperando eu imediatamente me arrepiei um pouco, mas depois relaxei totalmente o meu corpo e até cheguei a abaixar minhas orelhas e me recostei no torso do bicolor e fechando levemente os olhos.

Kamari: Hmm... onde... você aprendeu a fazer massagem..? - falei numa voz bem lenta e um pouco rouca por causa do meu desmaio mental do nada.

Shoto: Bom.. confesso que enquanto você estava em coma, pra eu tentar preencher o meu tempo eu li mais alguns dos seus livros de medicina e aprendi assim, pensei que fosse só pra passar o tempo mas.. ao menos agora tem alguma utilidade.

Kamari: Ah.. continue lendo esses livros..

Shoto: Mas bem... pode me contar o que você está sentindo por causa daquele acordo?

Kamari: Ah é. Então.. eu sinto como se basicamente estivessem me mantendo em cativeiro, só o que veio à mente era a imagem de eu quando era pequena encostada numa parede lá de casa.. chorando por não ter ninguém pra me ajudar, e mesmo que vocês todos estejam aqui pra me ajudar... eu não sei o porquê de eu sempre achar que eu vou ficar sozinha... - abaixei mais o tom da minha voz ao final da frase.

Shoto: .. O que eu posso te dizer disso é que eu suponho que o seu passado é uma espécie de bolha que ainda te afeta muito. Apesar de eu e todos da sala termos te ajudado nesse quesito da sua vida, o passado ainda é o passado.. e da mesma forma que você não esqueceu do que você passou... eu também não esqueci do que eu passei... - desacelerou um pouco seu tom de voz, e então parou de afagar meus ombros e percebi que ele levou sua mão até cobrir a cicatriz em seu olho com um olhar meio balançado com as lembranças. Com isso, eu somente deixo a sacola ao meu lado e me viro pra ficar ajoelhada de frente pro heterocromático, para então segurar seu rosto com minhas mãos e me acercar dele para deixar um leve amparo em seu olho esquerdo - Ah? - após o meu feito, eu somente soltei a face do bicolor e fiquei o observando calmamente - A-ah.. por quê? - após o questionamento, eu esbocei um simples sorriso.

Kamari: Bom.. passado é passado mas... o presente ainda é o presente não é? - falei com simplicidade e vendo o que eu deveria ter pensado esse tempo todo, tanto que depois disso, o heterocromático também desenhou um sorrisinho em sua face, e logo foi se acercando de mim para beijar levemente a cicatriz em minha bochecha e depois a que há em meu olho, para então se afastar mais do meu rosto ainda sorrindo e com uma de suas mãos com a ponta de seus dedos em minha face, e claro.. o rubor.. não podia faltar..

Shoto: Acho que eu deveria dizer isso.

Kamari: Hmp, mas você é o psicólogo da história aqui, eu posso também descobrir a resposta pro que eu preciso com o que falou. - o bicolor somente deu uma pequena risada e me fez ficar sentada de costas para ele novamente, e então ele me abraçou relativamente forte pelo torso, só que... lembram que eu falei que o roupão era a segunda única coisa que me cobria? Então... o agarre dele acabou predominante demais em meu peito - Hmm~.. Shoto.. - acabei soltando um pequeno grunhido já que a área era sensível por causa do estado em que estava.

Shoto: Ah, o que aconteceu? A minha mão direita está fria? - perguntou um pouco alertado, mas num tom inocente, ''Meu Deus.. como eu disfarço isso?''

Kamari: A-a-am.. s-sim.. acho que foi isso.. - falei num tom extremamente tímido e com um rubor gigante sendo formado em meu rosto.

Shoto: Ah, desculpe. - enfraqueceu um pouco o seu agarre.

Kamari: S-s-sem problema..

Shoto: Hm? Você.. continua tensa. - ele então pôs novamente suas mãos em meus ombros e começa a massageá-los de novo, de certa forma me relaxando apesar do de antes. Uns segundos calmos se passaram, até que o silêncio foi interrompido - Posso.. fazer uma coisa? - ''Depende.. se essa 'coisa' não for atingir um ponto sensível meu pode à vontade''

Kamari: Ah.. pode.. - ele então soltou meus ombros e foi saindo de trás de mim e me deitando na cama já que eu estava apoiada nele, mas logo o bicolor se agacha e parece abrir a gaveta de baixo da minha cama, e daí ele fica de pé com o estojo do meu violino em mãos, e em seguida retira o instrumento e o posiciona, para tocar uma música que me surpreendeu muito...

Quatro metades.. duas inteiras (Shoto Todoroki x Oc)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora