Não há chance alguma disso acontecer aqui em cima com essas rochas e charnecas ao nosso redor e a temperatura do meu corpo despencando abaixo do normal, mas, se eu dormir, eu posso desaparecer um pouquinho, posso fingir que não estou vivendo esse pesadelo onde uma princesa metida me deixou presa no meio do nada depois de um ato pensado de revolta contra seus pais. Que são uma rainha e um príncipe, pelo amor de deus.

Eu me deito no chão pedregoso e estúpido, com o pulôver enrolado no corpo, e sinto a raiva borbulhar dentro do meu peito mais uma vez. Não sei muito sobre os pais de Freen, mas ela tem dois deles, certo? Ambos vivos, ambos ricos, ambos garantindo que ela tenha o melhor de tudo, não importa o que ela faça. Ela nem quer estar em Gregorstoun, enquanto eu passei meses lendo e pesquisando sobre o lugar, para então me inscrever para todas as bolsas que existem. Penso naquelas noites sentada na frente do computador, trabalhando em redação atrás de redação e, de repente, dormir é a última coisa na minha mente.

— Você é o pior tipo que existe, sabia disso? — Me sento num impulso, ainda agarrada à minha jaqueta.

Freen está sentada na beirada da jaqueta, seus braços ao redor dos joelhos, e agora ela olha para mim.

Pardón?

Deus, isso só me deixa mais enfurecida, esse paardóóón?

— Você. É. O. Pior. Tipo. Que. Existe — falo bem devagar, apontando para ela. — O que é tão difícil na sua vida? Ah, tadinha, você está perdendo um desfile de moda. Ah, não, seus pais querem que você tenha uma educação boa e interessante. Que pena, você tem pai e mãe, e ambos se preocupam com você.

Freen vira o corpo na minha direção com uma expressão esquisita no rosto.

— Você... não tem pai ou mãe?

Bom, essa não é uma conversa que eu queria ter esta noite.

— Não — digo, me virando para o outro lado.

Está silencioso, o único som é o do vento que continua com sua performance uivante, e então Freen pergunta:

— Qual?

Eu não sei se ela está perguntando quem eu ainda tenho ou quem perdi. Eu não me importo, para dizer a verdade. Apenas respondo:

— Minha mãe morreu quando eu era pequena.

Mais silêncio.

E então:

— Quão pequena?

Com um suspiro, me viro e fico deitada de costas, gemendo quando sinto as pedras machucando minha espinha.

— Dois anos.

A voz de Freen soa diferente quando ela diz:

— Isso é bem pequena mesmo.

— Sim.

Não conto mais nada para ela. O quanto dói ter uma mãe de quem eu nem consigo lembrar. O quanto eu amo meu pai mais do que posso dizer, o quanto Dara é uma madrasta incrível, mas que entrou em nossas vidas quando eu já era adolescente. O quanto eu penso que minha relação com meu pai poderia ser mais fácil se ele não tivesse que ter sido todas as coisas para mim por tanto tempo. Isso tudo é o tipo de coisa que eu nem consegui falar para meus amigos, e Freen certamente não é uma amiga.

Talvez ela também não seja uma inimiga completa, mas, ainda assim, esse tipo de coisa ela não vai tirar de mim. Coisas pessoais, coisas importantes.

— Sinto muito — ela diz finalmente e, quando eu olho para ela, ela também está deitada, de frente para mim.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyWhere stories live. Discover now