O veado não está à vista em parte alguma, e Freen levanta a mão para tirar o cabelo molhado dos olhos, seu peito arfante enquanto ela varre a paisagem com o olhar.

Então ela diz:

— Sabe de uma coisa? Na verdade, nosso animal nacional é o unicórnio, não o veado. Acabei de lembrar.

Batendo os dentes de frio, eu a encaro.

— Bom, quem sabe um desses não aparece.

Depois de conseguir sair do rio, nós começamos a caminhar.

E caminhar.

Não tenho ideia da direção em que estamos indo, para falar a verdade, já que eu não estava prestando tanta atenção assim à nossa localização enquanto estávamos no carro. Não que isso fosse ajudar, já que não me lembro se o colégio fica ao leste ou ao oeste de onde estamos agora. Parece estupidez, mas eu estava contando que teria uma bússola e um mapa, e também uma barraca, e todas as outras coisas que você precisa para sobreviver em um acampamento.

Nós subimos outro morro, e Freen para ao meu lado, olhando para suas calças enlameadas.

— Pelo menos agora nós realmente temos a aparência de quem esteve em perigo — ela diz, e eu viro para ela.

— Nós estamos em perigo.

O sol está se pondo lentamente atrás das nuvens e, com a umidade, é como se o frio estivesse se entranhando mais profundamente na minha pele. Estamos em um morro no meio de lugar nenhum e, meu deus do céu, é assim que eu com certeza vou morrer, tudo porque uma princesa mimada queria se vingar da mãe.

— Eu achei que você tinha desistido de querer ser expulsa — digo com os dentes batendo de frio.

— Eu desisti. Minha mãe foi muito clara quando disse que eu não poderia ser expulsa. Mas! — Ela levanta um dedo. — Isso não sou eu causando problema. Isso é o colégio não sendo um lugar seguro pra mim.

Ela abaixa a mão e dá de ombros.

— Muito diferente, óbvio.

Juro que se Freen pudesse usar o cérebro para outra coisa que não fosse inventar uma série de esquemas, ela provavelmente dominaria o mundo, mas estou com raiva demais para ficar impressionada.

— Você entende que isso não é só sobre você? — pergunto a ela, cruzando os braços para me esquentar.

Freen está em pé na minha frente e ela cruza os braços também.

— Não seja tão dramática — ela responde no meio daquela tremedeira toda, e eu quase não consigo resistir à vontade de avançar e estrangular essa garota.

— Não seja tão dramática? — digo. — Você realmente está me dizendo isso? Você, a garota que está disposta a derrubar uma instituição de cem anos de idade só porque não gosta de morar longe de casa?

Freen revira os olhos, colocando as mãos na cintura.

— Tá bom, mas, antes de qualquer coisa, por que você se importa? Sou eu que tenho ancestrais que estudaram aqui. Sou eu que tenho uma família que praticamente construiu esse lugar.

— Então por que você está querendo acabar com ele? — rebato. — A dra. McKee é uma pessoa legal, e ela ama Gregorstoun. Ou ela é apenas mais um dano colateral no seu chilique sem fim?

— Agora você está parecendo meu irmão — ela murmura.

Solto uma risada de deboche.

— Heng? Imagino que ele tenha uma medalha própria de esquemas exageradamente dramáticos.

Freen torce o nariz empinado.

— Não, não o Heng. Jackson, meu irmão mais velho. Ele está sempre falando como eu dificulto as coisas pra mim mesma, que eu sou minha própria pior inimiga. Pura lorota, claro.

— Na verdade isso parece o oposto de lorota pra mim — respondo. — E então franzo a testa e continuo. — Se por lorota você quer dizer "bobagem", o que imagino que seja.

Freen faz uma expressão que parece algo entre uma olhada de canto de olho e um sorriso de canto de boca.

— Você está se inteirando do linguajar, pelo menos — ela diz, e sacudo a cabeça, irritada.

— O que eu estou me inteirando é de queimaduras de frio e provavelmente tuberculose ou alguma outra doença terrível.

Inclinando a cabeça para trás, Freen dá um suspiro em direção aos céus e joga a jaqueta no chão e senta em cima.

— A gente não vai morrer aqui — ela insiste, cruzando as pernas. — No máximo, vamos dar um susto neles, minha mãe verá que esse não é nem de longe o lugar em que eu deveria estar, e então eu sairei da sua vida. — Ela me olha de canto de olho. — Não é isso que você quer?

Ah, cara, agora ela me pegou. Sem mais Freen? Um quarto todo para mim ou, céus, até mesmo dividir o quarto com uma colega que não está sempre a cinco segundos de alguma maluquice arrogante? Isso parece maravilhoso. Sem a Freen, e eu poderia ter o tipo de experiência em Gregorstoun que eu desejei esse tempo todo. O que eu havia planejado quando saí de casa.

Mas não acho que seja assim tão simples quanto Freen está tentando dizer que é. Na verdade, eu acho que esse pequeno esquema dela só vai tornar a vida de todo mundo no colégio mais difícil, então não me deixo abalar. Em vez disso, eu me sento ao lado dela, na ponta mais distante.

— Na verdade eu estou meio que me acostumando com você — digo a ela.

Estou tentando ser leve, mas não consigo ser tão indiferente com toda a tremedeira e o fato de que meu nariz decidiu se rebelar contra o frio se entupindo completamente.

— Ah, isso é ridículo — ouço Freen dizer e estou prestes a perguntar "Qual parte?" quando ela se mexe sobre a jaqueta, coloca o braço ao redor dos meus ombros e me puxa para junto de si.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyWhere stories live. Discover now