Capítulo 54

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No primeiro andar da base que outrora foi ocupada pela OF, uma árvore grande emergia do pequeno jardim rodado de crianças. Assistir seus netos brincando na única amostra de terra que viram durante anos trouxe muito mais do que pesar aos olhos cansados da mulher, que sentou num banco desocupado no lado esquerdo, enquanto a nora ensinava o bebê a dar os primeiros passos.
     Ela ainda sentia aquele pendrive queimar dia e noite na sua mente, o objeto que descidiu deixar a si mesma parecia tentador em momentos como aqueles, que não tinha a mínima idéia sobre qual seria o próximo passo. Um beco se saída. Isso foi o que encontrou quando fechou os olhos e analisou racionalmente todos as cartas da mesa. Aquele pendrive parecia sua melhor e pior opção, mas não dava pra seguir o plano de uma Natasha que já falhou e olhar aquele conteúdo como ums espécie de salvação. Poderia realmente evitar as mesmas falhas? Ou passaria tempo demais tentando? Ela parecia quebrada naquele vídeo, e não queria que aquela pessoa definisse suas escolhas. Repetia isso a si mesma para controlar a vontade de ir até o quarto, pegar o objeto e ver o que tem dentro.

-Está evitando o meu pai? -a pergunta fez a mulher sentada contrair os músculos, assustada. -Você estava distraída.

-Não deveria estar treinando os agentes, Alisson?

-Oliver está cuidado disso. -respondeu. -Aidan queria fazer uma tarde de pais e filhos.

-Mas você está aqui.

      A mulher sentou, dando de ombros.

-Você também.-suspirou. - É melhor deixar os dois ter esse momento.-contestou. -Evitando meu pai, ou a gente?

-Não estou evitando ninguém. -mentiu. -E quanto a você? Evitando o seu pai? -devolveu.

-As perguntas dele. -respondeu, encarando os sobrinhos brincar. -As perguntas sobre o que eu fiz durante todos esses anos já começaram.

-E qual é exatamente o problema? -enrugou a testa, fitando o rosto inexpressivo da filha.

-Não me entenda mal...-mordeu o canto dos lábios, como se calculasse as palavras. -Mas não tenho muito o que dizer a ele.

-Não estou estendendo...

-Minha vida? Ah, claro: eu usei o dinheiro que vocês deixaram para viajar o mundo, não estudei, não casei, não tive filhos e nem um emprego fixo. Talvez devesse contar da briga com a Natalia, quem sabe deixe as coisas mais emocionantes. Ou a parte que a Jessica usou o meu sangue pra fazer toda essa merda.-ironizou.

-Só porque Aidan teve filhos, casou e arrumou um bom emprego não significa que a vida dele tenha sido melhor.

-Você se ouviu?

-Está com inveja do seu irmão? -sussurrou Natasha, preocupada.

-Não! Eu só...-pausou. -Eu nunca tinha pensando no quanto as outras pessoas avançaram e eu fiquei...aqui...

-Você é extremamente nova ainda, Alisson.

-Eu sei.

-Então qual é o problema?

-E se...eu não tiver isso? Quer dizer...eu nem sei se quero!

-Está com medo de dizer ao seu pai que não casou, não teve filhos, e nem pretende que isso aconteça? O seu pai entenderia isso...-analisou. -Mas é você quem parece pensar nisso como algo ruim. Você não teria uma vida "inferior"  a dos seus irmãos só porque descidiu não passar por essas coisas.

-Não quero ser a tia sozinha e deprimida no canto das festas de natal.

-Tirou isso de algum filme? -riu.-Não consigo te ajudar se não contar qual é realmente o medo.

B.M ConsanguineoWhere stories live. Discover now