Capítulo 34

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       Natasha adentrou o refeitório com passos lentos, claramente analisando a quantidade de guardas que havia ao redor do salão, e espiou discretamente o corredor por onde sabia que deveriam sair. O curativo nas suas costas já não era mais necessário, e mesmo que os pontos ainda estivessem lá o buraco da incisão feita por Nolan estava quase fechando. O ex médico tinha se encarregado de cortar apenas o necessário para retirar o chip, e desde então a mulher vem carregando ele debaixo do sutiã. Pensava que seria necessário escapar no mesmo dia, pois o governo poderia perceber que o objeto foi retirado, mas quando viu que tudo permaneceu na mais perfeita paz, percebeu que seria melhor esperar que seu corpo se recuperasse mais. O governo tinha colocado uma peça mais ruim do que esperava, contando que naquela profundidade seria impossível retirar.
   Mas a sua ansiedade não podia esperar mais pela janela perfeita. Conseguiram os materiais que precisavam, e não havia mais motivos para esperar.

-É hoje? -Gaia estava ansiosa, e nem entrou na fila para pegar comida.

-É. -respondeu Nolan, surgindo pelo lado esquerdo. -Como vamos fazer isso?

-Conseguiu as armas? -questionou.

-Afiadas, como você pediu. -explicou.

-Vamos precisar de uma distração.

-Tipo uma briga de prisioneiros? -indaga Gaia.

-Confusão geral!-propôs Nolan.

-Não. -negou. -Se a prisão inteira começar a brigar, todos os guardas vão vir aqui e ou vamos ser mortos, ou desmaiados por bombas de gás e tiros. -explicou. -Hoje em dia, toda prisão tem protocolo pra esse tipo de situações. Mas eles não vão usa-los se apenas uma pessoa reagir. Eu vou ser a distração.

-Você sozinha? Contra um bando de guardas? -Nolan franziu a testa.

-Exatamente. Por apenas uma pessoa, eles não vão considerar importante o suficiente para trazer bombas.

-Eles vão atirar em você antes que possa fazer alguma coisa.

-A vantagem das armas elétricas, é que você consegue ver o caminho dos raios. -explicou. -Mas pra facilitar, você...-apontou Nolan. -Vai usar a sua faca pra cortar aquele cano ali...perto da fila do refeitório. -A sala vai encher de água rápida, uma comoção vai ser gerada e os guardas virão verificar o que houve.

-E esse é o seu momento. -conclui Gaia, sem ao menos perguntar como ela sabia que aquele cano era de água.

       Natasha tinha passado muitos anos reunindo informações.

-Como pretende abrir as portas...? -Questiona o médico.

-As portas tem senha ocular. O problema maior vai ser quê, assim que ela for aberta a prisão inteira vai lutar pra passar primeiro pelo buraco. -sorriu. -E a gente vai deixar que isso aconteça, saiam da frente e concedam passagem. Quanto mais pessoas estiverem na frente, mais guardas serão derrubados. Muitos vão conseguir fugir, e quando estiverem do lado de fora, não corram na mesma direção do rio. Enquanto estiverem preocupados capturando as pessoas, nós vamos encontrar uma forma de ultrapassar os muros e sair.

-Ok. -Gaia estava nervosa. -É muita coisa...

-Vai dar certo. -Nat tocou o seu ombro, e e pela primeira vez abriu um sorriso sincero.

-Vou garantir que ninguém interfira na sua briga. -diz Nolan, mesmo que fosse óbvio que ninguém ali moveria um dedo para ajudar Natasha.

-Faça um grande furo naquele cano, e continue furando o máximo que conseguir. Precisamos que a água se espalhe rápido.

-Entendi. -confirmou.

       Natasha viu o sujeito partir na direção que tinha indicado, e soube que em breve o plano seria iniciado. Ela apoiou o corpo na mesa e cruzou os braços, sentindo aquela antiga sensação de formigamento chegar as suas mãos, como se depois de anos elas soubesse que voltariam a ação. Gaia também estava tensa, mas não se atreveu a dizer uma palavra quando viu a concentração no rosto a outra. O melhor que ela poderia fazer naquele momento era ficar quieta.
     O som de algo espirrando se fez presente, e o tempo começou a passar enquanto a água escorria fortemente pelo buraco, afastando as pessoas que não queriam ser molhada. Gaia se afastou junto com os demais, certa de que ja não era mais uma boa idéia permanecer ali no centro.
     O buraco foi ficando melhor, na medida que Nolan perfurava o cano com força e surpreendia aqueles que estavam ao redor, certos de que ele tinha ficado louco. Natasha ergueu os pés, quando água atingiu o centro do salão e avistou os guardas surgindo no final do corredor que dava acesso ao refeitório. Ela subiu na mesa, e pulou soltou sobre os móveis para se aproximar da entrada.
     As pessoas estavam se afastando da água, e consequentemente sedendo espaço para a briga que iria acontecer em minutos. Nolan deixou de perfurar o cano e encarou a cena que iria se desenrolar. Eles sabiam das capacidades da mulher porque tinham ouvido falar, mas sinceramente nunca pode ver com os seus próprios olhos para crer.
     Era um grupo mais grande do que Natasha planejou, e os doze guardas adentraram o salão ao mesmo tempo, encarando o local onde o ex médico estava. Aquela equipe não teve tempo de ir na direção do problema, porque antes mesmo que pudessem perceber Natasha saltou de cima da mesa sobre o pescoço do sujeito mais próximo e o derrubou. Todo mundo demorou a entender o que estava acontecendo, e os presos foram os primeiros a ficar surpresos.
     A mulher caiu no chão como um gato, e com uma das mãos apoiadas deslizou as pernas nas águas e aplicou uma rasteira em dois guardas. Os demais não tardaram em reagir, sacando suas facas da cintura, já que armas de choque e água não eram uma boa combinação.
     Natasha sorriu, sentindo a adrenalina fazer seu coração bater mais rápido e uma empolgação percorreu cada célula do seu corpo. Esticou as pernas no chão e impulsionou o corpo pra cima, bem a tempo de desviar de uma facada em direção ao seus tronco. Assim que esteve de pé iniciou uma sequência de movimentos elegantes para desviar das investidas dos oponentes. Ela segurou o braço de um, torceu e fez a mão dele esfaquear o próprio colega, pulando no ar e acertando um chute na mão de outro que tentou atingir suas pernas. Um deles tentou atacar pelas costas, mas se viu bloqueado quando a mulher segurou o seu braço, colocou sobre o ombro e quebrou. O grito de dor não incomodou Natasha, que abaixou para desviar de outro golpe e socou a barriga do homem a sua frente repetidas vezes até que ele soltasse a faca. Ela rolou pelo chão para alcançar a faca perdida e girou a lâmina nas mãos assim que se pôs de pé, totalmente encharcada pela água que já tinha tomado totalmente o lugar.
    Os guardas se alinharam ao redor, claramente recuperados do primeiro ataque falho, enquanto os olhos atentos da mulher analisava a postura de cada um.  Ela usou da água como um recurso, deslizou pelo chão com os joelhos dobrados e cortou os tendões na parte traseira da perna de um dos guardas, tirando oficialmente mais um da disputa. Ninguém esperou que ela se recuperar, e Natasha precisou levantar rapidamente, tomar impulso na parede e desferir um chute giratório no rosto de dois. Pegou mais uma faca perdida no chão, girou a lâmina nas mãos e lançou o objeto em direção a barriga de outro cara.

B.M ConsanguineoWhere stories live. Discover now