Meninas Malvadas.

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Tá bom, não em casa exatamente. Mas tem algo sobre estar aqui que fez com que eu sentisse, finalmente, que achei um lugar para ser ''bem eu''.

A Rebecca mais Rebecca de todas. Eu adoro de verdade ter aulas em salas que têm centenas de anos. E, por mais que eu não goste de correr —, alguém deveria correr se não está sendo perseguido por um urso? — preciso admitir, enquanto olho ao redor para as colinas se erguendo em direção às nuvens, que isso é, de longe, muito melhor do que a academia do Colégio Pecos.

Parando no caminho, eu coloco as mãos na lombar e respiro fundo, com o peito doendo tanto de correr quanto de ver quão lindo é isso tudo.

Do cheiro de chuva e das pedras sobre meus pés. De...

— Você não vai começar a chorar, né?

Eu me viro para ver Freen  se arrastando pelo caminho atrás de mim com um cigarro na mão. Ela está vestindo o mesmo casaco e a mesma calça de moletom que eles deram a todos nós para o "exercício diário", mas ela fica muito melhor nessas roupas do que eu.

— Não — respondo, mesmo que eu estivesse me sentindo um tantinho emotiva.

— Cantar, então? — ela diz, levantando uma sobrancelha. — Definitivamente não vai cantar, né?

— Sem cantar, sem chorar, só ficar parada aqui, cuidando da minha vida — respondo, me virando para observar a paisagem à minha frente.

Sinto uma vontade repentina de estar usando minhas botas de caminhada e meus jeans, com minha bússola em mãos. Eu poderia passar horas aqui, explorando os morros. E para isso que eu vim para a Escócia.

Freen dá um suspiro atrás de mim, e ouço o cascalho sendo pisoteado, então ela provavelmente está apagando o cigarro. Eu não sei porque não vou me virar para olhar, porque estou fingindo que ela não está aqui. Sou apenas eu, aqui, na Escócia, em comunhão com...

— Sério, tem certeza de que não vai cantar?

Estreitando os lábios, me viro para olhar para Freen, que se acomodou ao meu lado.

— Tenho — respondo irritada. — Na verdade, estou tentando aproveitar o silêncio.

Faço questão de enfatizar a última palavra, na esperança de que ela entenda o recado, mas Freen apenas cruza os braços sobre o peito e volta a parecer entediada.

— Esse nem é um dos melhores lugares nas Terras Altas, sabe. Glencoe, Skye... esses são lugares dignos de admirar.

— Bom, vou me certificar de visitá-los — digo, mal conseguindo não cerrar os dentes —, mas aqui é agradável também.

Freen ri de deboche.

— Você disse que é de onde mesmo?

— Texas.

— Ahhhh, isso, agora as coisas fazem mais sentido.

— O que isso quer dizer? — pergunto, e Freen dá um peteleco numa bolinha em seu uniforme.

— Só que você não está acostumada a paisagens como essa.

Tá bom. Bom, isso é verdade, mas ainda soa que foi dito com maldade, então me viro para longe dela.

Talvez, se eu não disser nada, ela vai embora? Certamente ser ignorada é um dos piores pesadelos de Freen.

Então observo e ignoro enquanto Freen fica parada ali e me olha, e eu posso praticamente ouvir as engrenagens de sua cabeça se movimentando em busca de algum tipo de comentário provocativo. Nós nos mantivemos fora do caminho uma da outra ao longo dessa primeira semana, mas definitivamente existe uma tensão fermentando em nosso quarto. Eu ainda não sei o que ela quis dizer com aquele papo de "não serei sua colega de quarto por muito mais tempo", e não me importei em perguntar.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyWhere stories live. Discover now