36- pov: Liz Carter.

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Sexta à noite, o clima da cidade estava agradável. Ainda em clima de comemoração com o pedido de casamento, o que na verdade seria renovação de votos dos meus pais, curtimos a última noite em grande estilo. Saímos pra jantar no restaurante que nós conhecíamos desde sempre. Era pequeno, mas muito aconchegante. Ali, vivemos bons momentos.
Era perto da casa dos meus pais, por isso fomos caminhando.

Chegamos e como já era tarde, demos boa noite aos meus pais, enquanto Chris e Oli continuaram na sala.
Sofi foi comigo pro meu quarto.

— Posso usar seu sabonete pra tirar a minha maquiagem? Meu querido noivo acabou com o meu. — Sofi falou enquanto entrávamos no quarto.

— Hurrum, tá la no banheiro. — Falei pegando um pijama da mala.

Esperei ela sentada na cama, enquanto mexia no celular vendo qualquer mensagem aleatória.

— O que é isso? — Sofi parou na porta do banheiro com um remédio na mão — Você voltou a tomar esses remédios de dormir, Liz?

— O sabonete não estava nessa necessarie, Sofi.
— Responde a minha pergunta. — O tom de voz dela mudou. — Não tomo sempre, só quando preciso. — Dei de ombros.

— Mas esse é o mais forte, como conseguiu? — Ela franziu a testa.

— Eu guardei daquele tempo que eu precisei. — Joguei meu celular de lado, e a encarei.

— Você sabe que não pode beber enquanto toma esses remédios, não é? Pode causar efeitos colaterais, não brinca com a sua saúde. — Ela falou séria.

— Obrigada doutora. — Soltei um beijo no ar pra ela.

— Não estou brincando, Liz. Eu lembro de como você ficou da outra vez. — Ela guardou o remédio no bolso da calça.

— Já entendi, Sofia. Eu não tomo todos os dias ok? Não precisa confiscar como se eu fosse uma criança.
— E por que precisa agora?

— Sofi, você sabe no que eu trabalho não sabe? E mesmo de folga, minha mente não descansa.

— Ta bom. Mas eu não vou deixar isso com você. — Ela me olhou, séria, e saiu do meu quarto.

Fui pro banho e resmunguei por não ter tomado o remédio antes. Eu precisava dele dormir, não sempre, mas eu queria esquecer os problemas e apenas ter uma noite de sono.
Deitei e como previsto, não dormi nada. Percebi o barulho de chuva do lado de fora e então levantei e abri a cortina.

Peguei o cobertor e me sentei no sofá embutido à janela que tinha no cantinho do quarto, onde havia também um baú embaixo, e uma estante de livros ao lado. Felizmente aquele baú tinha muita utilidade, como guardar vinho e uma xícara. Ri porque Mel nunca tirou, ela sabia que eu as vezes bebia de madrugada.

Com a cabeça encostada na janela, observei a chuva cair do lado de fora, enquanto eu pensava sobre o rumo que a minha vida está tomando. Em certa hora, lágrimas escorreram nas minhas bochechas. Eu não sei o que está acontecendo comigo.
O momento de reflexão foi interrompido quando alguém bateu na porta.
Rapidamente enxuguei as lágrimas.

— Posso entrar? — Sofi abriu.

— Claro. — Sentei mais pro lado, deixando um espaço pra ela sentar. — Vinho?

— Você não acha que já bebeu demais? — Ela disse sentando e se cobrindo com o cobertor.

— Não. — Debochei — E você tirou meu remédio, então preciso de algo forte.

— Me desculpa ter sido grossa. Mas você sempre faz isso, Li. — Ela fixou o olhar em mim.

— Isso o que? — Perguntei sem tirar os olhos da chuva.

Entre o distintivo e o coração.Where stories live. Discover now