12-pov: Liz Carter.

196 31 70
                                    

— Elizabeth — A voz da mulher ecoou não delegacia. Quando ouvi aquele nome, foi como se a minha alma saísse do corpo.

Sim, o meu nome era Elizabeth e a única pessoa que me chamava assim era minha mãe. Esse era o nome da minha vó. E desde que ela foi embora, e eu comecei a entender tudo, pedi para ser chamada de Liz, sempre foi assim. Os meus documentos estão como Liz.

Senti a mão encostar meu ombro e virei devagar — Desculpe, você deve estar confundindo.. — Coloquei meu casaco, estávamos prontos pra sair, era quinta-feira à noite e precisávamos patrulhar uma área mais afastada do Central Park, onde recebemos denúncias de que uma gangue de drogas se reuniria ali.

— Elizabeth, sou eu, sua mãe.

Ao ouvir aquela frase, senti meu corpo tremer e a minha visão escurecer. Ela era alta, vestia um longo vestido preto e um casaco vermelho que intensificava ainda mais a cor do seu batom. Seu estava cabelo preso em um rabo de cavalo, e suas mãos cobertas por luvas. Ela sorria admirada comigo e eu percebi que realmente nós éramos parecidas.

— Carter, vamos. — Ouvi a voz de Jacob me chamar, mas não consegui me mexer. — Carter?

Senti meu corpo caindo nos braços de Jacob, que me segurou rapidamente e da minha boca saiu — Vai embora.

— Elizabeth, me da uma chance de conversar com você, de te conhecer.. — As mãos dela alisavam meu rosto, que a essa altura estava vermelho, de raiva e das lágrimas que ali caiam.

— VAI EMBORA. — Gritei e vi dois policiais a acompanharem até a outra sala.
Jacob me guiou até a sala de Olívia, que me puxou, me abraçando.

— Ache alguém para substituir ela e saiam agora. Não podemos perder a chance de pegar essa quadrilha. — Olivia falou pra Jacob que assentiu e saiu dali. — Querida, eu.. eu sinto muito.

Deixei as lágrimas rolarem e indignada disse — Por que ela está aqui? Por que ela me procuraria depois de quase 20 anos? Ela não tem esse direito, Liv. Tira ela daqui. — Afundei meu rosto do ombro de Olívia que me abraçava forte.

Depois de me acalmar e certificar que a mulher já tinha ido embora, Olívia pediu pra que um policial me levasse pra minha casa. Insisti em ficar e voltar pro trabalho, mas ela insistiu. No caminho liguei pra Oliver sem adiantar o que tinha acontecido, ele me encontraria na minha casa em alguns minutos.

Entrei em casa e tomei um longo banho, senti mais lágrimas rolarem enquanto eu me vestia.
Eu não sabia lidar com todo aquele peso. Minha mãe era a Melissa, ela esteve comigo desde sempre. Que direito aquela outra tinha de querer saber de mim agora? Depois de tempo?

Me senti fraca, incapacitada. Eu tinha um dos trabalhos mais difíceis, e não consegui lidar com aquele drama.
Ouvi alguém bater na porta e logo fui atender.

— Oi Lili, o que aconteceu? — Oliver falou me olhando, sabia que meu rosto estava vermelho e não teria como negar nada.

Ele entrou e eu não demorei para abraçá-lo. O conforto do seus braços me acalmaram, era até engraçado como mesmo em silêncio, ele me ajudava tando.

— Ela está aqui, Oli. Ela veio me procurar. Ela atrapalhou um dos maiores casos que eu estava investigando.

— Quem é ela, Lili?

— Minha... mãe — A frase saiu da minha boca e eu senti novamente lágrimas descendo pela minha bochecha.

Oliver ficou surpreso depois de ouvir aquilo e ele me abraçou ainda mais forte.

— Katherine te procurou? — Fazia tempo que eu não ouvia aquele nome e doeu ainda mais.

— É ela foi até a delegacia.. eu não sei como ela descobriu onde eu estava. Eu me senti tão fraca, Oli. — Falei limpando meu rosto.

— Eu sinto muito Lili... Você já ligou pros seus pais?
Claro que eu tinha esquecido de ligar pra eles.

— Droga, eu esqueci, provavelmente a Liv já contou pra eles... meu celular está desligado. — Falei vasculhando o mesmo na minha bolsa.

Oli pegou seu celular e me entregou. Disquei o número do meu pai.

Papai, é a Li.

— Li, meu amor. Como você está? Sua tia Liv nos ligou... Eu sinto muito querida. — Senti a voz do meu pai enfraquecer cada vez mais.

Agora tá tudo tudo bem. — Sorri de lado vendo Oli me trazendo uma xícara de café.

Iremos até aí amanhã cedo. Ok?

Tudo bem. Não se preocupem. Amo você.

Eu e Oli ficamos conversando. Ele tentava me distrair, me fazendo rir e fazendo carinho em meu rosto. Consegui limpar a mente pelo resto da noite. Logo adormeci em seu colo.

Na manhã seguinte, Oli me avisou que precisava ir pro escritório pra uma reunião urgente, e então nos despedimos.
Voltei pra delegacia. Senti os olhares dos outros policiais, mas ignorei.

— Carter, como você está? — Jacob se aproximou de mim.

— Olha Jacob, me desculpa por ontem... Eu não sei o que dizer, eu não esperava que isso fosse acontecer, principalmente aqui.

— Sinto muito por você ter passado por isso. Desculpe por não te ajudado mais. Eu espero que fique tudo bem, entre você e.. aquela mulher.

— Não pretendo ver ela novamente. Mas obrigada por ter me segurando ontem e ter me ajudado... — Sorri fraco — E então como foi ontem?

— Conseguimos pegar a maioria da gangue, menos o chefe. Nenhum dos integrantes quer nos dizer. Passei a madrugada aqui e nada. Também descobrimos que essa gangue pode estar ligada aos assassinatos do Brooklyn, no mês passado.

Combinamos que eu interrogaria os presos de ontem, para que Jacob pudesse tirar o dia de folga. Fazer o que eu amo me faria esquecer de drama de ontem.

Claro que eu também tinha esquecido de ligar pra Sofia e avisa-lá sobre ontem.
Liguei pra ela e marcamos de nos ver à noite.

Sai para encontrar com meus pais, que me esperavam na minha casa.

Vi os olhos do meu pai se encherem de lágrimas depois do nosso longo abraço.

— Li, sinto muito por você ter passado por isso sozinha. Eu sempre quis te proteger caso um dia ela voltasse. Ela disse que nunca voltaria... me desculpa filha.

— Papai, nada disso é culpa sua. Não se preocupa — Falei limpando suas lágrimas.

Nos tranquilizamos, e aproveitamos o dia juntos.
Mas eu ainda tinha medo de encontrar com aquela mulher de novo... ela foi embora, quando eu tinha 7 anos, alegando não querer "aquela vida" de mãe, esposa. Ela simplesmente sumiu.

Entre o distintivo e o coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora