— Eu não sei de onde veio seu gene nerd — ela diz — mas é dos fortes.

Dou de ombros.

— Talvez da minha mãe?

E o rosto de tia Hyu imediatamente se transforma numa expressão simpática.

— Claro — ela diz. — Sua mãe era super inteligente no colégio. Até demais para ter se casado com meu irmão, era o que eu pensava, mas gosto não se discute.

Sorrio, pois não quero que ela se sinta desconfortável, algo que pode acontecer quando você menciona pais mortos, já aprendi isso. Até mesmo com outros membros da família. Então eu suavizo meu tom, cruzo as pernas e digo:

— E ser boa no colégio significa conseguir bolsas, o que significa dinheiro, e você sabe que eu curto isso.

Tia Hyuna ri.

— Disso você gosta.

Pegando uma das quase cinco mil almofadas decorativas no sofá, essa num tom ligeiramente diferente de branco – tia Hyu adora o visual monocromático – ela a aperta contra o peito.

— Então não é o colégio. Um garoto?

Eu quase dou uma bisbilhotada no celular de novo, mas consigo evitar.

— Nenhum garoto — digo, o que é verdade se levarmos a pergunta de tia Hyu ao pé da letra.

Percebo que ela está prestes a insistir, mas então, graças a Deus, Helena e Callum começam a se pegar de novo e a atenção dela é desviada.

— Sinto falta do Dawn — ela diz com um suspiro e, beleza, esse é o fim do papo.

Enquanto levanto, guardo o celular no bolso e aponto para a caixa de biscoitos vazia na mesinha de centro.

— Ah, olha só. Acabou o biscoito. Vou sair e comprar mais.

Com o foco de volta na televisão, ela concorda distraída e acena na direção da cozinha.

— Tem uma nota de vinte naquela tigela de sal do Himalaia perto da porta de entrada.

Eu ando até a tigela que ela mencionou e pesco a nota de vinte do mar de moedas e elásticos de cabelo.

Assim que a guardo no bolso, olho de novo para a tigela, segurando-a brevemente e, depois de um segundo, tocando-a cuidadosamente com a língua.

— Isso não é sal de verdade — grito para ela. — Provavelmente é só um quartzo rosa.

— Nerd! — ela grita de volta, mas eu sorrio, coloco a tigela no lugar e saio pela porta.

Está quente do lado de fora – bem quente, na verdade – e o céu é de um azul intenso sobre o horizonte.

O condomínio de tia Hyu fica numa nova comunidade que foi construída para recriar a experiência de viver numa pequena cidade, então, seguindo uma calçada com tijolos vermelhos, há uma pequena praça com uma farmácia, alguns restaurantes e um punhado de lojas.

Faço um caminho que passa pelo chafariz e deixo minhas mãos deslizarem pela grade de ferro forjado, os anéis fazendo um ruído prazeroso. Acho que meu pai se sente mal porque não fomos a lugar nenhum nesse verão, mas minha madrasta teve que trabalhar e meu irmão pequeno não tem nem um ano ainda, então esse não parecia o melhor ano para as férias da Família Armstrong. Mas não me arrependo.

Ganhei a chance de estudar mais para a prova AP de Ciências Ambientais do próximo ano, e ainda pude passar tempo com a tia Hyuna, que claramente precisa de mim.

E tem a Sana.

Quando piso no capacho, ativando as portas automáticas da farmácia (mais uma loja de uma rede qualquer, mas com uma entrada de tijolos vermelhos e toldo listrado para parecer mais bonita do que é), meu celular vibra de novo no bolso, e me atrapalho com as mãos para pegá-lo.

SUA ALTEZA REAL - FreenbeckyKde žijí příběhy. Začni objevovat