Capítulo 31

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Ester 

Acordei com a minha cabeça latejando e meio tonta ainda.
Me sentei na cama e tentei raciocinar o que tinha acontecido ontem. 

Passamos a virada do ano em Copacabana e depois voltamos para a favela. 
Levantei da cama e fui para o banheiro. 

Uma dor no corpo imensa, sem contar que parece que ainda está tudo girando. 
Tomei um banho bem demorado e aproveitei para lavar o meu cabelo. 

Sai do banheiro enrolada na toalha e com outra na cabeça, fui direto para o guarda-roupas. 
Coloquei um shorts preto de pano e um top. 

Penteei o meu cabelo e passei um Body Splash da Victoria Secrets . 
Estendi as toalhas dentro do banheiro, calcei um chinelo, peguei meu celular e sai do quarto. 

Desci as escadas e vi a Maya e o Vitin dormindo no mesmo sofá. 
O Pedro estava dormindo no tapete e no outro sofá estava a Maisa e o Marido dela. 

Não sei em qual momento eu deixei o Pedro dormir aqui, eu realmente estava muito louca. 
Que farra foi essa. 

Fui direto para a cozinha e peguei um remédio para dor de cabeça, tomei e me sentei na cadeira. 

Parece que a minha cabeça vai explodir de tanta dor, apoiei meus braços na mesa e deitei a cabeça na minha mão. 

Que cachaça foi essa! 

Bom dia.- ouvi a voz do Pedro 

Bom dia. - respondi ainda com a cabeça baixa - Tem que ir comprar pão. - olhei pra ele com os olhos lacrimejando de dor 

Tá tudo bem? - neguei de leve  - O que tu tem? - passou a mão no meu cabelo 

Só ressaca mesmo. - suspirei - Muita dor de cabeça

Então bora pro postinho. - neguei - Vai ficar sentindo dor?

Eu já tomei remédio...daqui a pouco melhora, eu só preciso comer alguma coisa. - ele assentiu - Vai na padaria pra mim? 

Tu quer o que de lá? - Pedro falou com um semblante preocupado e mais uma vez passou a mão pelo meu cabelo 

Não sei, qualquer coisa. - me levantei - Só não trás nada gorduroso. - ele assentiu - Vou ficar deitada, quando tu chegar me da um grito. - falei saindo da cozinha 

Passei pela sala e o pessoal ainda estava dormindo na mesma posição. 
Subi as escadas e entrei no meu quarto. 

Me deitei na cama cheia de dor. 
Nada de um dia produtivo hoje, só ficar de cama e dormir. 

...

Acordei com alguém me chamando. 
Abri os olhos e vi que era o Pedro. 

Demorei um pouco, mas trouxe pra tu. - mostrou uma bandeja cheia de coisas - Come alguma coisa e depois tu volta a dormir. 

Me sentei na cama de vagar e ele colocou a bandeja no meu colo. 
Comecei a comer o pão com mortadela e queijo. 

Pedro se sentou na beirada da cama e ficou me olhando. 
Estávamos bem, na verdade melhor que a uns dias atrás. 

O remédio fez algum efeito? - neguei - Então bora pro postinho. - Neguei de novo - Para de complicar as coisas, loira. 

Tu sabe muito bem que eu não gosto de ir no médico. - falei com a mão na boca  - E como tu veio parar aqui? Eu não lembro nada de ontem 

A gente voltou do baile e ficou resenhando aqui na nossa...na tua casa. -assenti - Tu subiu pra dormir e o pessoal começou a deitar, aí eu deitei no chão mermo e dormi. 

Não lembro de nada sobre ontem. - ele sorriu - Passei vergonha? 

Pediu pra voltar comigo umas dez vezes. - abri mo olhão - Relaxa, eu não aceitei não. - ri - Tu não tava boa. 

Não estava boa mesmo, porque eu nunca que ia pedir pra voltar. - falei e tomei um gole do meu suco de laranja - Tu não quer? - ele negou 

Mas tu sabe, que o que é dito bêbado é pensado sóbrio né? - fiz cara de deboche - Tá doida pra voltar, só não tá sabendo pedir. - passou a mão no meu queixo e eu ri - Tu é foda

Terminei de comer quieta, apenas trocando alguns olhares com ele. 

Papo reto, eu sou mo bonzinho contigo. - falou me observando - Tu só me pisa, o tempo todo. - ri da cara dele - To falando sério, Ester. Vou te começar a tratar do jeito que tu gosta, papo de bandido mermo, aí vamo vê o que vai ser. 

Aí, Pedro! - falei ainda rindo - Para de loucura meu. - ele ficou me encarando sério - Cara...- coloquei a mão na boca, engolindo o pedaço de pão - Tu é maluco, só pode! 

Maluco é tu...não me quer mais e quando me vê com outra fica fazendo cara feia. - se levantou 

Eu? - ri alto - Tá maluco? - continuei rindo 

Tu ri né filha da puta, mas na ceia ficou me encarando de cara fechada. - neguei - Eu não to doido não, Ester. Eu vi, por isso que eu fui atrás de tu. 

Meu Deus...tu é completamente maluco. - me arrumei na cama - De verdade, tá vendo coisa. 

Fala que tu não me ama, então. - parou ao meu lado e eu fiquei encarando ele - Fala 

Tu sabe que eu te amo ainda. - falei como se fosse óbvio - Cara...a gente esteve juntos a dez anos, não foram dez dias não. - tirei a bandeja de cima de mim - Tu acha que é assim? Claro que não, tudo é um processo. 

Se tu me ama, porque a gente não tá junto, Ester? - falou alto e eu fechei a cara 

Para de gritar, tá pagando de louco? - falei séria - A gente não está mais junto, porque tu fez uma promessa pra mim e não cumpriu, simples! 

Que promessa? - perguntou 

Que tu ia sair dessa vida. - ele suspirou de nervoso - E eu acreditei, porque eu te amo e quero ver sempre o melhor pra ti, mas tu não enxerga isso, cara! - falei sincera - Caiu na onda do teu irmão aí e fugiu daquela porra de lugar, faltava um mês pra tua audiência, não tinham provas concretas...tu podia ganhar a liberdade, limpar teu nome. - falei com os olhos cheios de lágrimas - Mas não, agiu na emoção e ferrou comigo também! 

Já te falei que a minha intenção nunca foi te envolver nesse meio. - se aproximou mais da cama - Eu fugi por causa de você, pra te proteger. - neguei - Claro que foi, Ester. Tu é a minha vida, se acontecesse alguma coisa contigo e eu naquela porra, eu...eu ia morrer me sentindo culpado! 

Tu não pensou em mim, Pedro. - me levantei ficando de frente pra ele - Tu pensou só em você e isso que me dói! - ele passou a mão no rosto nervoso - Eu to contigo pra tudo, cara...estive ao seu lado nos melhores e piores momentos e quando eu virei as costas tu fez isso comigo! - limpei a lágrima que escorria - Teu irmão me mandou no corre lá no Paraguai, pra que assim eu não soubesse de nada...uma puta sacanagem! 

Eu só penso em você, em nois dois. - se aproximou e colocou as mãos no meu rosto - Pô, loira...meus dias estão sendo um inferno sem você ao meu lado, cara. - acariciou o meu rosto 

Vai embora, Pedro. - tirei as mãos dele do meu rosto - Eu to morrendo de dor, por favor. - me sentei na cama e apontei para a porta - Esse assunto a gente já discutiu milhares de vezes e nunca muda em nada. - ele assentiu e saiu sem dizer nada 

Me deitei na cama com o coração apertado mais uma vez, as lágrimas rolaram e eu só respirei fundo. 

Estava tendo mais uma crise e não tinha ninguém...

Coração bandidoWhere stories live. Discover now