Capítulo 19

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Fernandez

Vi o nascer do sol, no alto do morro.

Eu não sabia o que fazer referente a toda essa situação.
Ela é amor da minha vida, a mulher da minha vida, mas se pra ela não da mais, não tem o que fazer.

Estou fazendo meu papel de homem, aceitar e deixar ela viver da forma que ela achar melhor.

Ascendi mais um baseado e comecei a fumar observando o sol bem fraquinho.
Ouvi barulho de moto, olhei pra rua e era o Vitin.

Observei ele descer da moto.

Eae, irmão. - se aproximou e se sentou ao meu lado - Como tu está? - me olhou e eu suspirei

Bem eu não to não...- passei a mão na cabeça - Bagulho é louco. - falei e dei outro trago

Descansou pelo menos um pouco? - neguei - Nem comeu? - neguei mais uma vez soltando a fumaça

Só droga por enquanto. - falei e sorri de canto - Não consigo comer, nem beber...era pra estar comemorando que eu to longe daquele inferno, mas sem ela não da. - falei olhando para o sol - Eu amo aquela filha da puta...to sofrendo.

Nunca vi tu assim. - falou me observando - Vambora. - falou se levantando - Bora que tua mãe está te esperando. - assenti e dei o último trago

Me levantei, joguei a ponta no chão e pisei.
Acompanhei ele até a moto e fui na garupa, o mesmo deu partida e foi cortando pelos becos, até chegar na casa da minha mãe.

Desci da moto e já fui entrando.
Na sala estava minha mãe, o Morales e a mina que ele tá pegando.

Bom dia. - sorri e minha mãe veio até mim

Bom dia, meu filho. - me puxou para um abraço - Fiquei sabendo do que aconteceu, tu está bem? - me soltou do abraço e olhou em meus olhos

Colfoi, toda hora alguém vai ficar perguntando se eu to bem? - falei bravo - Bagulho chato. - fui até o sofá e sentei - Eu e ela não estamos em uma momento muito bom, mas logo logo a gente se acerta. - minha mãe me olhou com dó

Você está destruído. - minha mãe falou, ri e revirei os olhos - Eu vou conversar com ela, sobre os dois. - se sentou ao meu lado e pegou na minha mão - Ela é como uma filha pra mim...tu sabe. - assenti - Não quero ver os dois nessa situação, me dói de mais.

Mãe, papo reto. - olhei pra ela - Não precisa falar nada com ela não, a gente conversou ontem, como dois adultos, ela não entendeu muito o meu lado, mas eu entendi o dela. - os olhos dela se encheram de lágrimas - No momento é ela lá e eu aqui, daqui uns dias a gente se acerta. - me levantei

Vai tomar um banho e vamos comemorar a tua liberdade. - Morales se pronunciou - Hoje é dia de baile. - levantou empolgado - Tu vai estar ao meu lado, chega de história triste.

Colfoi, parceiro. - falei sério - É lógico que eu vou estar presente. - sorri e fiz toque com ele

Tá solteira, hoje a noite é nossa...ou delas. - Morales falou e a mina cruzou os braços olhando pra ele - To brincando, amor. - sorriu e se sentou ao lado dela novamente - Deixa eu fica quieto né. - ri

Subi para o meu quarto e fui direto para o banheiro.

...

Ester

Olhei no relógio e já era quase sete horas da manhã.
Não dormi nada, passei a noite toda chorando.

Tentando entender o porque da minha vida sempre ter que ser tão complicada.
Me levantei e fui direto para o banheiro, tirei a roupa e entrei de baixo do chuveiro.

Tomei um banho bem demorado, desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha e coloquei outra em meu cabelo.

Sai do banheiro, fui até a minha cama e me sentei.
Demorei alguns segundos ali olhando para o nada.

Levantei e fui separar uma roupa, até porque hoje é sábado e não vou ficar o tempo todo dentro de casa.

Coloquei uma saia jeans e um cropped azul, calcei meu chinelo branco.
Sequei o meu cabelo com a escova secadora, penteei e passei um óleo reparador de pontas.

Passei um corretivo nas olheiras, espalhei, passei um gloss e penteei minha extensão de cílios.
Peguei meu celular e o meu cartão.

Estou me permitindo a comer fora hoje o dia todo.
Sai de casa, tranquei a porta e o portão.

Vi a Maya saindo de casa também.

Oi. - falou animada - Tudo bem? - se aproximou com o semblante preocupado

Oi, Maya. - sorri simpática - Hoje eu não estou muito não...tá indo aonde?

Ah, vou dar uma volta por aí e você? - falou me olhando

Estou sem destino hoje. - ela sorriu - Vamos fazer um tour pela favela então. - ela rapidamente concordou

Saímos andando pelos becos, cortando caminho para chegar na praça principal.

Quer me contar o que houve? Você está com uma cara de enterro. - ri e ela riu junto

Não...não quero falar sobre isso agora. - ela assentiu - Porque tu veio para o Rio? - perguntei entrando em outro beco, com ela ao meu lado

Eu sou completamente apaixonada por esse lugar desde pequena e nunca tive oportunidade de vir pra cá. - assenti - A vida sempre foi muito difícil pra mim, mas nunca desanimei e nem desisti.

Chegamos na praça e estava tendo futebol dos envolvidos.
Respirei fundo e fui para o outro lado com a Maya.

Escutei um boato ontem que o chefe ganhou liberdade, é o teu marido? - perguntou me acompanhando

Ex marido...- suspirei - Na verdade ele não ganhou a liberdade, ele fugiu. - me sentei em um banco de concreto e a mesma sentou ao meu lado

E ele te abandonou? - neguei rapidamente - O que aconteceu então? - perguntou curiosa - Desculpa, mas eu sou maria fifi. - rimos

Eu decidi terminar...ele prometeu que ia sair dessa vida e ao invés de cumprir a pena certinho, preferiu agir na emoção.- observei ele chegar com o Vitin - Minha vida sempre foi muito difícil também, Maya. Acontecia uma coisa boa e dez ruins, mas pela escolha que eu fiz. - suspirei e meus olhos encheram de lágrimas - A minha vida toda eu escolhi ele, passei por cima de muita coisa pra estar ao lado dele, mas ele não fez isso por mim.

Ela me abraçou de lado.

Eu sinto muito...-disse baixinho- Eu sei o quanto o amor destrói. - assenti segurando o choro - Não sei quanto tempo vocês tem junto, mas sei que se for pra ser mesmo para o resto da vida, logo logo vocês se acertam. - sorri assentindo e ela me soltou do abraço - Tá na sua cara o quanto você é forte, não deixa isso te destruir.

É...com quatorze anos já estava passando por muitas coisas, segui firmo por nós dois e hoje ele tinha que fazer essa escolha...ele tinha que escolher nós dois, mas...não foi como eu imaginava. - observei ele jogando bola

O mesmo percebeu que eu estava ali e ficou um tempinho me encarando.

Vamos sair daqui, ainda tenho que te mostrar muita coisa. - me levantei - Mas antes eu tenho que comer alguma coisa

Vamos, tem uma padaria muito boa perto de casa. - disse empolgada - Quero comer de novo o melhor bolo de chocolate. - sorri vendo a empolgação dela

Coração bandidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora