Gêmeos Shelby | Peaky Blinders

VINTE QUATRO

•Charles Shelby•

Eu não sei o porquê, mas sinto culpa.

Aquele maldito tocou na minha irmã e a machucou. Além das marcas roxas e vermelhas em sua pele, deixou sequelas e cicatrizes que não são possíveis de ver e sim sentir.

E eu não podia sentir aquelas sequelas. Não podia pedir que passasse a dor estava sentindo para mim e muitos menos entendia o que estava passando. Era essa a pior parte.

Ver a minha irmã definhando em traumas e vingança e não poder fazer nada para aliviar.

O Smith adiou o casamento para que Olívia se recuperasse. Ele não tinha a visitado desde quando a tivera resgatado e não sei se ele a ligava para perguntar se está bem. Seria bom se ele ligasse, ela pode não admitir isso, mas ele tem algum efeito bom sobre ela.

Alguns dias se passaram desde o acontecido e a minha irmã voltou a beber. Talvez para esquecer dos momentos de desespero, talvez para tentar se matar através do álcool.

Não faço a mínima ideia do que se passa naquela cabeça loira agora. E isso me deixa preocupado.

Olívia sempre foi fácil de ler, para mim pelo menos. Eu lembro de todas as vezes em que fazia algo de errado quando éramos criança e sem dizer uma palavra sequer, eu já sabia o que estava acontecendo e a ajudava a se livrar dos problemas.

Aquela época era tão mais fácil.

— Como você está? — Kate perguntou ao entrar na sala de estar.

Desde o acontecido, Kate visita a minha irmã semanalmente para conversar e ver se está tudo bem. Talvez tenha sido um pedido de Bill, mas eu não duvido que seja somente um gesto de gentileza da garota.

Ela não citou o nosso último encontro e foge toda vez que faço a menção de tocar no assunto.

— Será que meu humor mudou desde a última vez que passou aqui? — Perguntei-me ironicamente e a vi rolar os olhos. — Acho que não.

— Entendi, seu mal educado. — Colocou sobre a mesa de centro uma pequena vasilha de tampa azul. — Passei na padaria antes de vir aqui.

— 'Tá trazendo comida para mim agora? — Abri a vasilha de vidro e o cheiro de bolo de ovos serpenteou pelo lugar. — Já está entrando no clima.

— Que clima?

— O de quando nos casarmos. — Eu nunca tinha sido tão direto sobre as minhas intenções com ela. Vê-la congelar diante da frase foi até um pouco engraçado.

— Não sei por que continuou insistindo em vir aqui. — Bufou e caminhou até a porta. Levantei do sofá no qual estava sentado e a segurei pelo pulso. — Tchau, Charles.

— Sabe o porquê você continua vindo me ver toda vez que passa para falar com Olívia? — Ignorei a despedida e as tentativas de se soltar. — Porque, mesmo que não queira admitir, você gosta de mim e se preocupa comigo.

Permaneceu calada ainda na tentativa de largar o próprio pulso do meu agarre.

— Você gosta de mim desde que me encontrou todo ferrado naquele maldito beco. — Continuei. — E eu 'tô apaixonado por você.