QUATRO

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• Olívia Shelby •

Às horas passaram rápido demais e quando percebi já eram quase cinco da tarde.

Meus familiares começaram a chegar no casarão e não pareciam estar nada felizes. Provavelmente tinham mais o que fazer.

Arthur não estava nada empolgado para reunião, deu para perceber assim que me ignorou completamente e se jogou no sofá para tentar cochilar.

Polly e Finn chegaram depois e me cumprimentaram sem antes me perguntar sobre o que se tratava a reunião.

Ada não viria, afinal, ela tentava se manter longe de tudo que envolvia os Shelbys.

Charles, pela primeira vez na vida, não chegou atrasado e falou com todos, tentando não fazer contato visual com nenhum deles.

Meu pai nos chamou após alguns minutos de espera.

— Tommy, porque nos chamou aqui? — Perguntou Arthur bufando.

— Eu vou ser direto quanto a isso. — Colocou as mãos em cima da mesa e continuou. — Charles perdeu duzentas mil libras enquanto apostava em um dos cassinos em Londres.

Por um momento, eu quis tirar o meu irmão dali e sair correndo, mas era tarde de mais.

Polly lhe atirou a bolsa que segurava e o olhou furiosa.

— Onde estava a merda da sua cabeça quando eu lhe disse que era estritamente proibido apostar em Londres!? — A morena exclamou como se lutasse contra a vontade de mata-lo ali mesmo.

Meu irmão cambaleou para trás e pegou a bolsa enquanto olhava 'pro chão ainda quieto, envergonhado.

— Como vamos pagar essa quantia? — Ela se virou para o meu pai tentando se recompor. — Afinal, de quem era o cassino?

Ele se irritou ao lembra a quem ele estava devendo e suspirou procurando por um cigarro.

— Bill Smith.

Finn que antes olhava tudo chocado e pensativo, arregalou os olhos diante do nome dito.

Arthur respirou pesadamente e colocou sua pistola em cima da mesa de meu pai para não fazer nenhuma besteira.

Bill Smith, um homem conhecido e respeitado desde que conseguiu o antigo posto de seu pai como líder de sua família e dono da firma mais famosa da Inglaterra. As vezes o comparavam com meu pai e diziam que por trás daquele sorriso gentil, possuía alguém tão frio e calculista quanto Thomas Shelby.

Apesar de ser muito novo para o cargo, com somente vinte anos, administrou os negócios da família Smith muito bem e com perfeição.

— Estamos fudidos. — Arthur passou a mão pelos cabelo e andou até Charles para pegar-lhe pela gola da camisa. — Tem idéia no que acabou de nos meter?!

— Arthur. — Meu pai o chamou. — Não é hora pra isso, temos assuntos mais importantes pra resolver.

Meu tio o soltou com brutalidade e caminhou até uma das cadeira que havia ali.

— Os Smith nos devem. — Finn disse.

— Oque? — Perguntei confusa.

— O irmão mais novo do Bill comprou alguns lotes de ópio conosco à sete meses e está nos devendo cento e cinquenta mil libras. — Completou.

— Por que nunca cobramos essa dívida? — Direcionei ao meu pai que analisava a todos nós.

Após a pergunta todos ficaram em silêncio e atentos as palavras de meu pai que suspirou antes de proferir.

— Bill Smith é estranhamente parecido comigo. Quando o vi pela primeira vez, ele tinha doze anos de idade e já se interessava pelos negócios e assuntos que particularmente uma criança comun não daria a mínima. — Se recostou sobre a cadeira. — Eu nunca cobrei essa dívida porque ele é tão inteligente quanto você, Olívia. E tão ardiloso quanto Charles. Nunca achei vantajoso para nós brigar pelo dinheiro.

Polly pareceu pensativa e Arthur bufou novamente ao ouvir a história. Mas eu e meu irmão ouvíamos atentamente a tudo.

— Quando Edgar morreu e Bill tomou seu lugar na firma, eu soube que os Smiths nos dariam trabalho por que ele é exatamente como vocês dois. — Se dirigiu a nós. — Mas, a dívida deles não vem ao caso no momento.

— Como não? A quantia é quase a mesma. — Charles exclamou.

— É justamente por esse motivo que o fato de quem deve a quem primeiro não importa. As duas famílias estão quites de certa forma, mas como tem muito dinheiro envolvido então haverá uma guerra para ver quem fica com ele. — Completei e meu pai assentiu.

— Mas então oque faremos?

— Isso quem vai decidir é Charles. — O mais velho de olhos azuis respondeu.

— Oque? — Meu irmão e todos os outros ficaram confusos.

— Você nos colocou nisso. Você tira.

Thomas Shelby enlouqueceu de vez. Todos nós olhamos espantados pra ele que, óbvio, fez pouco caso do julgamento alheio.

Meu irmão era inteligente, mas também era imaturo e impulsivo. Quando o assunto é brutalidade e lógica, eu confiaria a vida a ele, mas isso...

— Não pode estar falando sério. — Quem disse foi Arthur ainda um pouco chocado.

— Estou.

Olhei para Charles, e nem ele pareceu acreditar no papel que deveria desempenhar.

— Vamos lá, filho. — Pegou um  cigarro para acender. — Qual sua brilhante idéia?

Pude ver o coração dele saltar pela boca a qualquer momento ao despejarem tanta pressão sobre o coitado.

Ele engoliu em seco e andou de um lado para o outro enquanto ainda recebia de todos, inclusive meu pai que o analisava com o cigarro na boca, total atenção.

Ele normalmente tinha boas idéias quando estava bêbado e sozinho, mas não tínhamos tempo para isso.

Depois de alguns minutos só ouvindo os passo irritantes do meu irmão, ele arregalou os olhos.

— Um evento!

Oque?

— Seja mais específico. — A mais velha entre nós disse.

— Um evento beneficente no nome da instituição Grace Shelby. Precisamos de um evento grande para convida-los e então conhece-los. — Dizia enquanto tentava organizar os próprios pensamentos. — Eles terão de vir a Birmingham, e como diz o ditado "Mantenha seus amigos por perto, e os inimigos mais ainda." Pelo menos nos dará tempo.

— Não vamos usar nada em nome da mamãe para limpar a bagunça que você fez!  — Exclamei incrédula.

— Tem idéia melhor?! — Rebateu.

— Mesmo que eu concorde com Olívia, não temos opção. — Meu pai disse. — Faremos o tal evento.

Isso não vai ser nada bom.

Gêmeos Shelby | Peaky BlindersWhere stories live. Discover now