VINTE UM

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•Olívia Shelby•

Desde do Garrison, eu não havia visto Bill e talvez fosse melhor assim. Ele passou todas as informações do acordo e do casamento pela secretaria dele e sequer as informações foram dirigidas a mim, e sim ao meu pai.

O que me deixou um pouco irritada, afinal sou eu quem vai casar.

Alguns dias haviam se passado e o Smith pediu que nos casássemos o quanto antes. Eu de fato não entendi a urgência daquilo, certo que talvez ele estivesse sendo malvisto em Londres por não ter uma esposa, mas será que um homem influente como ele deveria se importar com tal opinião alheia?

Minha vida estará arruinada daqui a três dias. Vestido branco, padre e o beijo, é só isso que preciso fazer. Pelo que me disseram, não vai ser um evento muito grande, só querem que seja algo simbólico, algo que talvez alguém comente pelas ruas ou publique nos jornais.

Farei o possível para descobrir o porquê dele ter me escolhido como pretendente. Não faz o mínimo sentido. Nossas família nunca foram aliadas ou sócias, muito pelo contrário e recentemente, como todos gostam de nos lembrar, o alcoolismo do meu irmão gêmeo levou à queda da família Shelby e por isso terei que me casar.

Charles anda bem estressado ultimamente, ele chegou de manhã cedo a alguns dias atrás com a mão sangrando, muito provável que tenha socado alguém. Quando perguntei o motivo, ele desconversou e se trancou no próprio quarto.

O drama familiar anda bastante presente.

— Senhorita Shelby? — Ouço batidas na porta e vejo uma das empregadas segurando uma caixa branca nas mãos. — Chegou hoje cedo e foi endereçado a você.

— Quem entregou?

— Um moreno, nunca o vi por essa bandas, era jovem, acho que da sua idade e tinha um sotaque diferente.

Olivier, pensei.

— Certo, obrigada. — Caminhei em sua direção para pegar a caixa, deixando-a voltar a seus afazeres. — O que vocês, Smiths, estão aprontando?

Abro a caixa e vejo tecido. Muito tecido. Tiro a peça dali e a examino bem. Um vestido branco e comprido que vai até os tornozelos, não é chamativo e sim delicado. Se eu não soubessem para que foi destinado jamais diria que é um vestido de casamento.

É lindo.

Um longo vestido de cetim que não possui mangas, e sim pequenas alças com tule.

Dentro da caixa, há um bilhete.

Para: Uma garota fácil de irritar
De: Um cara que gosta de irritá-la

Sorri sem perceber pela intimidade do pequeno cartão, eu não tinha me esquecido do nosso último encontro, um conturbado encontro que havia me deixado bastante confusa.

Eu ainda o odiava, mas parte de mim estava curiosa e queria descobrir mais do que quer fosse. Só espero no me arrepender de querer investigar.

Olhei para o vestido em minhas mãos e meus olhos brilharam com uma ideia. Tirei os sapatos e o que cobria meu corpo.

Ao vestir aquilo e me olhar no espelho, eu me senti muito bonita. Fiquei receosa com aquele sentimento de... Pertencer.

Que idiotice.

Tudo aquilo era uma grande idiotice e eu era a idiota obrigada a participar de tudo aquilo. Mas por mais que eu me sentisse boba, eu não consegui tirar aquele vestido por um bom tempo. Não consegui parar de me olhar nele.

Não tinha caído a ficha sobre aquilo, sobre nada daquilo. Até que eu pus o maldito vestido.

— Eu vou me casar. - Sussurrei, tentando acreditar, de fato. — Eu vou me casar. — O sussurro veio precedido de um arfar, uma respiração perdida para suportar a informação. Suportar o desespero que ela causava.

Arranquei o vestido do meu corpo. Não era capaz de danificá-lo nem se eu quisesse. Não o dobrei sobre a cama, mas não pude deixá-lo jogado ou amassado.

Andei de um lado para o outro tentando acalmar os nervos. Eu ia me casar e a cerimônia seria daqui três dias.

Vasculhei pelo quarto alguma garrafa de vodka ou whisky pela metade, mas a faxina que eu havia feito a alguns dias tinha sido pra valer, desde então álcool algum tinha entrado naquele quarto. Olhei pela janela, e o céu estava laranja pelos raios de sol que pintavam o horizonte para ir embora.

Tudo estava me irritando, eu não queria olhar para a peça de cor branca que estava em cima da cama e não ter uma bebida por perto me irritava ainda mais. Fitei o vestido uma última vez antes de bater à porta do quarto rumando para qualquer lugar.

As empregadas não me deixariam ficar bêbada, e se eu conseguisse despistá-las e Thomas Shelby chegasse, seria bem pior.

Não tinha carro por ali, decidi andar até Small Heat. Decisão nada sábia, afinal o condado de Cheshire não é o que eu chamaria de perto. Mas eu precisava extravasar.

Seria uma hora de carro até Birmigham e a pé, eu não fazia a mínima idéia.

Não sabia por quanto tempo eu estava andando e honestamente, eu não me importava. Não me importava se meus pés doíam e estavam roxos, não me importava se minha garganta estivesse tão seca quanto a própria areia que estava no chão. Continuei caminhando.

Na esperança de achar um bom pub, com boa bebida e ninguém para me incomodar.

As casas começaram a aparecer. A estrada de terra desapareceu e deu espaço para tijolos de pedra que calçavam as ruas. Não havia ninguém na cidade, claro, era tarde da noite.

Small Heat sempre fora o mesmo bairro vagabundo de Birmigham. Acho que a única coisa que posso dizer que talvez nunca mude por aqui é esse lugar, isso é bom. Sempre gostei da fumaça e do barulho de metal se chocando com outros, da lama que nunca desaparecia e dos mesmo rostos que vi a vida toda.

Trilhei preguiçosamente até um pub qualquer.

Infelizmente, não o alcancei. Fui arrastada para longe do meu destino quando uma mão pressionou contra minha boca, abafando meus gritos.

Que merda estava acontecendo?!

Gêmeos Shelby | Peaky BlindersWhere stories live. Discover now