UM

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• Charles Shelby •

O plano era curtir a minha folga sem confusões ou brigas. Mas, parece que a sorte não estava do meu lado.

Após anunciar que não tinha a quantia pela qual apostei naquele cassino de merda, alguns homens ameaçaram se aproximar de mim como forma de me intimidar. Oque eu fiz? Corri. Derrubei mesas e bebidas para despistá-los, e mesmo assim continuaram a me seguir.

Depois de fugir daquele jeito, pude ouvir gritos femininos e vidro quebrando, mas não fiquei por muito tempo pra ver.

Foram 5 quarteirões no total, e eu ainda estava sendo perseguido. A quantia apostada foi realmente alta, e não é que eu não pudesse pagar pelo valor, é que eu não o possuía no momento.

Virei em uma das esquinas de uma das mais famosas avenidas de Londres e me deparei sem saída. Literalmente, um beco sem saída.

— Não tem pra onde fugir, cigano. — Virei-me espantado ao ouvir a voz de um dos seguranças do cassino. —Pague ou sofra as consequências de apostar um valor mais alto do que o papai te dá de mesada.

As ruas estavam escuras e desertas, não havia ninguém pra me tirar dessa situação. Minha visão era embaçada e meu corpo parecia uma nuvem de tão leve. Eu estava bêbado, é claro.

— Se sabe quem eu sou não vai me matar. — Embolei um pouco as palavras antes de continuar. — Eu definitivamente tenho o dinheiro, só não agora.

— Matar você!? Isso traria problemas para o chefe. — Suspirou como se o fato de não poder me matar fosse algo trágico. — E ele não é alguém a quem você vai querer irritar. Vai voltar para o lixo que chama de cidade e conseguir o dinheiro, ou o chefe e a família dele vão construir túmulos para os Shelbys. — Se demorou no meu sobrenome.

— Isso não é do meu interesse, senhor. — Ele sorriu, mas logo fechou a cara quando caminhou em minha direção. — Podemos pular a parte que você me bate? Não?

Senti a impacto do soco e cambaleei para o lado em busca de algum apoio, outro soco foi desferido, agora contra minha barriga, e o ar fez falta. Caí tossindo e então recebi múltiplos chutes do homem.

Meu nariz havia quebrado e meu corpo estava cheio de hematomas quando ele ficou satisfeito, jogou-me um cartão com o nome Cassino's Smith e disse um "volte sempre".

— Filho da puta. — Susurrei enquanto ele se distanciava.

Arfava e gemia pela dor na tentativa de me levantar, ele deve ter distendido algum músculo. Finalmente me ponho de pé, ou quase, e ando. Um passo de cada vez.

Durante a difícil caminhada me peguei pensando em como vou dizer a Thomas Shelby que apostei uma grande quantia, que provavelmente só conseguiríamos em seis meses.

Talvez eu me mude pra América e troque de identidade, assim ele nunca vai me achar. Opção tentadora.

Interrompo meus pensamentos quando ouço passos atrás de mim. Giro a cabeça em direção ao som, e me deparo com uma garota de cabelos pretos como o céu acima de nós.

— Você está bem? — Perguntou ela de forma cautelosa.

Analisei seu rosto e pude ver algo brilhar em seus olhos, talvez estivesse tão bêbada quanto eu.

— Estou.

— Não parece.

— As aparências enganam. — Viro-me e tento seguir o meu caminho, mas continuo ouvindo passos atrás de mim. — Oque está fazendo? — Paro abruptamente.

— Garantindo que caso caia, consiga levantar. — Parou ao meu lado e sorriu.

— Não preciso de ajuda. — Digo antes de tropeçar e quase cair se não fosse pela ajuda dela.

— Percebi. — Riu divertida e continuou a me acompanhar. — Meu nome é Kate, aliás.

Suspiro derrotado e a fito andar e observar a rua com atenção, seus cabelos balançam conforme o vento bate e ela parece não se importar de ter que me levar até em casa.

— Não deveria confiar em um homem a essa hora da noite. — Aconselhei.

— Você é um garoto. — Esclareceu de forma tosca. — E nesse estado, até a menor das crianças conseguiria te derrubar.

— Touché.— Rio e suspiro. — Meu nome é Charles.

Após ser deixado na esquina da casa da tia Ada, vou me preparando para o interrogatório. Bato na porta e espero.

— Oque aconteceu?! — Perguntou a mulher a minha frente com um semblante irritado e preocupado. — Vamos, entre logo.

Sou guiado até a sala e espero até que ela coloque um pano sobre sofá para que eu me jogue nele.

— Explique-se. — Exigiu assim que voltou com uma caixa de primeiro socorros em suas mãos.

Contei tudo oque havia acontecido, desde as garrafas de whisky até a garota.

— Alguma chance de buscar refúgio na América? — Perguntei esperançoso.

— Seu pai iria até lá pra te caçar, tenho certeza de que sua irmã se ofereceria pra ir junto. — Suspirou. — Relaxa, o Thommy não seria capaz de matar o próprio filho.

Não tenho tanta certeza.

— Vamos voltar pra Birmingham amanhã. A essa altura, ele já deve saber.

— Você não gosta de mim!? — Perguntei apavorado.

Ela sorriu e começou a limpar meus machucados.

Após um bom banho e um prato de comida, eu já estava deitado na cama lutando contra meus pensamentos.

Thomas Shelby, meu pai, não era o tipo de pessoa com quem você quer se meter. Seu semblante calmo e feição fria são somente disfarces comparados ao que espreita por baixo. E eu teria de enfrenta-lo.

A noite passou rapidamente e logo eu e minha tia já estávamos no carro rumo a Birmingham.

Seria um dia bem longo.

Gêmeos Shelby | Peaky BlindersWhere stories live. Discover now