QUATORZE

149 10 0
                                    

•Charles Shelby•

Ela havia me contado a história. A história toda.

A culpa consumia cada entranha que existia no meu corpo. Por culpa minha, Olívia estava sendo chantageada a se casar com um cara que ela nem conhece, e tudo isso para livrar a nossa família de um erro que eu cometi.

- Eu vou matá-lo. - decretei e vê-la rir após dizer isso, aliviou meu coração aflito, apesar de ser verdade.

- Não vai não, vou ter que pensar em outro coisa para livrar nossa família da encrenca. Somos assim, não é? - Perguntou sorrindo sem mostrar os dentes. - Você faz as merdas e eu conserto antes que o papai descubra... Dessa vez, não pude impedi-lo de descobrir, foi mal.

Mesmo depois de tudo, ela ainda me pedia desculpas.

- Você não vai casar com ele. - Avisei agoniado.

- Me casar com ele não é a opção mais agradável, acredite. - Abriu uma garrafa de água para beber. - Ele me deu três semanas para pensar, mas não prometeu nada em relação as investidas contra nossa família nesse meio tempo. Disse que atacaria os Shelby com toda a força política que possui.

- Desgraçado. Ele está tentando te intimidar, mas Bill Smith não é tão inteligente assim já que revelou que precisa se casar com você. - Respirei fundo. - Não podemos negociar em desvantagem.

- Existem mulheres aos montes na Inglaterra, ele pode muito bem desistir de mim como uma opção e nos dar um ultimato de uma vez, não vamos dar brecha para que ele faça isso. - Ela alegou, o cansaço em seu rosto era nítido. Agora estava clara o porquê das noitadas, dos cigarros e das bebidas. Ela queria esquecer.

- Por mais que isso não me agrade, nem um pouco, a decisão está nas suas mãos. Não quero que se case com ele e prefiro enfrentar humilhação pública ao vê-la como uma Smith. - Eu disse sério e ela assentiu. - Vou respeitar a sua escolha, mesmo que eu não concorde... Não prometo não tentar matá-lo.

- Talvez eu mesma tente.

- A única coisa que não entendi foi o porquê de você ter sido a escolhida, ele poderia muito bem acabar conosco e escolher outra pessoa para casar. Você deve ter alguma coisa que ele precisa.

- Talvez, mas não vamos descobrir até que ele nos fale, e duvido muito que vá.

O silêncio que se seguiu foi assustador, ambos com uma corda no pescoço, desesperados em busca de respostas, de uma fulga.

Andei até a minha irmã e a abracei, como não fazia a anos, então ela desabou. Chorou até que sua garganta implorasse por um minuto de silêncio, até que meu ombro estivesse encharcado de lágrimas, até que seu olhos ficassem vermelhos e inchados... Não me lembrava de tê-la visto chorar por um bom tempo.

- Talvez um certo Wilson precise saber o que está acontecendo com você. Afinal, qual é a daquele cara? - Perguntei tentando amenizar o clima.

Ela riu e fungou.

- Ele é só um cara que eu conheci no pub. - Deu de ombros enquanto passava a costa da mão no rosto.

- E vocês dois...

- Eca, Charles! - Riu e isso me deixou mais tranquilo. - E mesmo que estivesse acontecendo algo entre nós, o que não está, eu não contaria para você.

- Por que não?

- Por que você é meu irmão, é estranho... Além do mais, é fofoqueiro.

Coloquei a mão esquerda sobre o peito, totalmente ofendido.

- Como ousa!?

Ela me deu um tapa fraco no braço e fungou novamente.

- Obrigado por me fazer rir.

Sorri.

- Obrigado por dar um jeito nas minhas confusões.

Ela sorriu.

- Já que perguntou sobre um dos Jones... Te pergunto sobre a outra. O que rola entre você e a Kate? - Olívia foi direta como sempre.

- Ainda não consigo pensar na ideia de que os dois são irmãos, que mundo pequeno. - Comentei.

- Não tenta mudar de assunto.

- Eu não estou.

- Então me responde.

- Não rola nada entre a gente, conheci ela na mesma noite da aposta. - Procurei por um cigarro nos bolsos, mas não havia nenhum. - Ela me encontrou surrado em um beco e me ajudou, só isso.

Minha irmã estreitou os olhos com desconfiança, mas assentiu ao perceber que falar sobre Kate estava no fim da minha lista. Ela respirou fundo e eu a deixei sozinha para descansar, estava nítido que ela realmente precisava disso.

Passei pelo batente da sua porta, saindo do seu quarto e caminhei lentamente pelos corredores vazios do casarão Shelby. Parei e me dei conta do qual rápido eu havia chegado ali, estava na casa de apostas agora a pouco e parece que a raiva serviu como um combustível bem eficiente.

A raiva deixou lugar para a angústia, o que eu declaro como um sentimento bem pior, afinal... A angústia é uma mistura de várias emoções como a raiva, medo, vergonha e culpa.

A angústia é uma merda. E nesse exato momento ela está me consumindo vivo. Estou angustiado porque o meu pai parece não perceber sobre o quão fudidos nós estamos. Estou angustiado porque a minha irmã está tendo que assumir a responsabilidade por uma erro meu. Estou angustiado porque sinto que a única coisa que poderia me acalmar agora seria a simples presença de Kate Jones, maldita garota.

Entrei no meu quarto e respirei fundo ao olhar para o teto.

- Já aprendi a lição, universo! Já pode parar agora! - Gritei para o nada e o nada me respondeu.

As empregadas devem estar me achando louco agora... Eu sou um Shelby, já era de se esperar que eu não fosse muito lúcido de qualquer forma.

Gêmeos Shelby | Peaky BlindersΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα