CAPÍTULO 47

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XXX

Greg

Confesso que não estava 100% lúcido assim que os paramédicos me encontraram largado naquele chão úmido e frio, mas os remédios que eles me deram na veia conseguiram me deixar de certa forma mais sóbrio que jamais pensei que fosse ficar.

Meu corpo foi colocado em uma maca enquanto minha camisa azulada do Recanto Feliz era cortada para que uma simpática enfermeira pudesse analisar melhor a minha situação. Ela sorriu com a melhor das intenções para mim, deixando o perigo daquela facada ser amenizada.

Como estávamos em uma área de difícil acesso, usamos uma das canoas do deque da Casa de Barco para me colocarem mais rápido possível na clareira em que a movimentação dos policiais e dos enfermeiros estavam mais ativos. O céu estava ficando claro lentamente enquanto minhas vistas, pesadas e cansadas, passeavam ao longo das margens escuras do Lago Lamery.

Não sei bem ao certo o que tanto estava me fazendo encarar aqueles pinheiros. Talvez um temor ou algo assim, uma esperança de encontrar aquela entidade que tanto o lunático Homem do Machado afirmou que era real. Mesmo me esforçando ao máximo em querer ver Aquilo que Cresce, não cheguei a vê-lo, o que de certa forma foi um alívio.

"Ele era um psicopata". Pensei, tentando controlar minha mente cheia de inquietação. "Um lunático. Nada além disso".

Senti minha mão ser apertada. Olhei para baixo e reparei como Mia estava tendo os mesmos pensamentos que os meus sem nem precisar falarmos sobre isso. Os olhos dela miraram em mim por um breve instante, me trazendo um pouco de silêncio entre tantas questões gritantes da minha cabeça.

A perna que ela havia levado um tiro estava enrolada em uma bandagem e gaze limpos, onde estava erguida para cima da beirada da canoa para melhor circulação de sangue. Seu nariz estava levemente inchado e começando a tomar colorações arroxeadas, fazendo ela ganhar um aspecto um pouco risível. Acho que ela reparou que eu estava rindo baixinho disso e mostrou a língua para mim como sinal de afronta.

Apesar de estar aparentando uma pessoa que acabou de sair de uma guerra, ela estava bem.

A canoa chegou ao deque. Vários policiais estavam circulando na margem e alguns pararam de rondar o perímetro com as suas armas para nos ajudar a descer da embarcação.

Mia não saiu do meu lado até eu ser colocado em outra maca, desta vez de rodinhas e que estava começando a ser levada para uma ambulância com as portas abertas. Os chalés que eu conheci ontem nos recepcionaram, apresentando uma coloração azulada e avermelhada pelas luzes das viaturas.

— Sabe de uma coisa, Greg?

A voz de Mia chegou aos meus ouvidos, me fazendo girar minha cabeça dolorosamente para ela. Um sorriso zombeteiro estava iluminando sua fadiga.

— O que?

Ela tirou algo oculto em seu coturno, me mostrando o bisturi que eu havia falado para ela usar durante a batalha, mas que não serviu para nada no final das contas.

— Eu não precisei usar isso. – comentou ela.

— Talvez seja porque esse clichê da arma escondida tenha saturado tanto que acabou não sendo usado.

Nós dois rimos disso, enquanto notava os olhares confusos dos três paramédicos que estavam na nossa companhia.

Chegamos na rotatória do acampamento, onde o gramado estava tomado de detetives, peritos e policiais. Estávamos andando no cascalho do estacionamento da Sede, passando pelas suas vidraças estilhaçadas e recheadas de flashes de fotógrafos criminais no local. Um corpo que estava caído no cascalho estava sendo fotografado enquanto uma faixa amarela de isolamento balançava contra a brisa da manhã para que ninguém chegasse perto.

Não precisei deduzir muito para saber que era Grace. Olhei para Mia e ela pareceu não demonstrar um pingo de emoção durante o trajeto que fizemos ao passar pelo corpo de sua antiga amiga.

A ambulância começou a me envolver conforme era colocado em seu interior, onde uma das paramédicas, a simpática, começou a me dar um soro as pressas.

— Em qual hospital iremos levá-lo? – indagou ela para um dos seus companheiros.

— Talvez em Eleonora. – respondeu um cara alto e barbudo - Praticamente todos estão lotados depois do que aconteceu em Green Black.

Minha respiração prendeu de repente, um leve ataque de pânico preenchendo minha ansiedade. Mia estava na porta da ambulância, prestando atenção a conversa deles como se fosse uma intrusa ali, ouvindo tudo as escondidas.

— Meu Deus, parece que o mundo decidiu virar de ponta cabeça do nada. – suspirou a mulher, colocando mais gaze no meu estômago - Isso tudo é muito triste.

— O que aconteceu? – perguntou Mia.

Os dois enfermeiros se entreolharam, decidindo se contariam ou não o conhecimento trágico deles. O barbudo assentiu para a mulher loira de olhos amendoados, onde ela se virou para Mia com um sorrisinho triste.

— Green Black sofreu uma tempestade intensa essa madrugada, querida. – revelou ela – Parece que a rede elétrica pegou fogo ou alguma coisa assim. Não sei bem o que aconteceu, mas um grande incêndio consumiu mais da metade do condado.

De repente, algo me veem à tona.

Uma canção começando a cantarolar na minha mente. Uma velha voz que não era minha, sussurrando palavras baixas e frias em meus ouvidos. Uma voz tão doce e ao mesmo tempo gutural me envolvendo em uma pequena história sobre o responsável por aquela tragédia.

"Ela está tão com fome que sabe o seu nome.

Dê o que ela quer, se continuar vivo quiser

Não pise no chão dela, morrer será o que vai acontecer por causa dela

Sua mente ela vai ter e você nada poderá fazer

O ciclo tem que ser feito, para Aquilo Que Cresce ficar satisfeito

Uma vida tem que viver para que todas possam morrer

Se no fim mais de uma ficar, ela vem te pegar"

Essa última parte me alertou ainda mais. Assim que parei de ouvi-la, girei meus olhos para a entrada da ambulância em busca de Mia. Em busca de tentar ter aquela conexão visual que havíamos tido durante esses últimos acontecimentos, mas algo me impediu de fazer isso.

Pois, Mia não estavalá.

XXX

Notinha do Autor

Confesso que nem sei oque dizer kkk. estou acabando a historia com um aperto no coração. 

Foi muito bom elaborar a historia, brincar com esses cliches de terror e agora vendo que isso esta quase no fim me faz ter um pouco de saudades de voltar e continuar escrevendo o caos que é esse acampamento.

Bom... esse foi um dos caps mais curtinhos que já fiz, sei que estão acostumados com os longos, mas juro que esse gancho para o penultimo (REPITO PENULTIMO) cap irá ser daora.

E então? O que será que aconteceu com a Mia? Será que Aquilo que Cresceu pegou um deles? Aguardem o proximo cap hihihi

Flw

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now