CAPÍTULO 6

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XXX

Mia

Assim que avistei uma pequena casa de madeira com a pintura descascada surgir imponente em meio a uma plantação de milho, deixei a tensão do meu corpo relaxar.

Estava em casa finalmente e nada mais me importava a não ser estar no conforto do meu quarto. A velha caminhonete do meu pai estacionou próximo da varanda e John, de imediato, correu para fora do carro para me ajudar a sair.

Suas mãos calejadas de tanto trabalhar na lavoura desde criança encontraram as minhas, me dando apoio para colocar meus coturnos sobre a terra batida e empoeirada.

Fingi que os pontos costurados sobre minha carne não estavam doendo, mas acho que deixei transparecer um pouco pela minha expressão neutra para ele. John não falou nada, sabendo que se perguntasse como estou pela milésima vez com certeza iria partir para cima dele.

__ Eu não preciso de ajuda. – resmunguei – Tô ótima. Já falei.

Meu pai fez um exagerado sinal de rendição com as mãos:

__ Tudo bem, esquentadinha.

Ele deveria estar na casa dos cinquenta anos já. Seus cabelos grisalhos estavam começando a se tornar ralos e com entradas bem proeminentes nas laterais de sua testa.

John tinha um belo sorriso com covinhas assim como eu e tinha um gosto horrível por música country que graças a Deus eu não tinha. Ao contrário do que se poderia imaginar, ele se mantinha em forma e não era tão barrigudo como a maioria dos cinquentões de Green Black.

Meu pai seguiu em frente e me deixou caminhar sozinha com a minha mochila lotada de medicações que eu deveria tomar nas semanas seguintes até a varanda. Meu corpo parou assim que cheguei na entrada da porta.

Meus olhos que estavam cansados demais por eu não conseguir prega-los direito nessas últimas noites reuniram forças tiradas do além para ficarem vidrados com o que eu estava vendo logo a frente.

Não sei quem foi que limpou os rastros sangrentos do chão, mas acabaram esquecendo de um deles bem aonde meus pés estão pisando. Uma pequena mancha do meu sangue estava impregnada no tapete. Ele estava seco, onde sua cor se desbotou em um escarlate negro.

__ Tudo bem? – perguntou ele, seguindo meu olhar até o tapete – Ah, é isso. Deixa que eu tiro. Faço a menor ideia de como tirar manchas de sangue.

__ Água fria. Encha em um borrifador e passe na área manchada. Deixe agir por alguns minutos e faça isso de novo mais algumas vezes. Pronto.

Meu pai me encarou com um olhar surpreso.

__ Sim, eu sei. Sou estranha. – respondi, dando de ombros.

__ Minha gênia.

Ele bagunçou minha cabeleira com uma de suas mãos. Nós dois sabíamos que eu detestava isso, mas mesmo assim permaneci quieta. Havia acabado de sair de uma barra e ainda estava sob os efeitos dos analgésicos, então relevei.

Ele chutou o tapete da minha vó para fora da minha vista e abriu ainda mais a porta para eu passar. Apesar de me sentir tranquila, ainda existia uma inquietude em meu peito ao observar aquele hall de entrada.

X

A macarronada que eu fiz estava ótima.

Meu pai não era um grande cozinheiro, então sempre tive de ser um pouco mais criativa na culinária se quisesse comer coisas mais bem elaboradas. Sempre gostei de mexer nas panelas e criar combinações interessantes entre os alimentos, mesmo que a maioria das minhas invenções não deem muito certo.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now