CAPÍTULO 32

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XXX

Grace

O sangue não parava de jorrar pela minha mão. Estava começando a sentir uma leve tontura e náuseas borbulhando meu estomago. Sabia que se não fizesse nada agora, iria morrer de hemorragia.

Avistei o telhado de alumínio do refeitório brilhar levemente contra o luar e a claridade opaca que a Sede estava emanando na penumbra. Me esforcei a me levantar, deixando meus pés se apressarem ao cruzar aquele imenso gramado sozinha e sem nenhum apoio.

— Bando de otários. - resmunguei, berrando em direção a enfermaria - EU NÃO PRECISO DE NENHUM DE VOCÊS! EU ME VIRO SOZINHA!

Não houve resposta. A escuridão não me deixava ver com clareza os dois covardes pelas janelas estreitas da enfermaria. Eles deveriam estar rindo da minha cara, achando graça que fui descartada do grupinho deles. Senti a raiva esquentar minha cabeça. Eles poderiam gritar por socorro quando o assassino os achasse que eu faria questão de não mover um dedo para ajudá-los.

Minha preocupação não era exatamente com eles, mas os constantes barulhos aleatórios que eu escutava além do acampamento. Eram gritos e tiros que eram difíceis de serem decifrados. Talvez fossem do Mirante, mas haviam alguns que ecoavam no lago. Não saberia ao certo que ponto exato que eles eram feitos, mas sabia que eram lugares que deveriam ser evitados.

James havia se embrenhado no meio do mato sem pestanejar já havia alguns poucos minutos. Não ouvi nenhum berro sendo ecoado naquela direção, então era pouco provável que pudesse ser ele por trás de toda aquela sinfonia de morte que estava ouvindo.

Um barulho estranho, como de passos, me faz olhar para trás. Folhas secas rolam pelo gramado e talvez até pudesse ter sido isso, mas o ruído é diferente. Não parece que é de passos. O velho cedro deixa suas sombras ocultarem o que quiser que fosse, me deixando no campo da imaginação no que teria ouvido.

Meus olhos automaticamente desviam para a Sede assim que estou passando por ela. As luzes permanecem acessas e as portas marcadas por fendas verticais estão entreabertas, oferecendo uma falsa sensação de proteção. Por um segundo, pensei ter ouvido um estralo lá dentro, mas não sei se foi meus próprios pés que fizeram isso.

"Estou ficando louca. Só pode".

Estava machucada e sentindo cada molécula minha arder de dor e cansaço. Estava tentando resistir bravamente a tudo isso, mas a verdade é que era difícil manter a pose de durona por muito tempo. Não tinha mais forças para ser autoritária e mandante, reservando todas elas para aguentar as dores que estava sentindo.

O refeitório era uma grande ala ao céu aberto, dispondo várias mesas longas de carvalho para os campistas se sentarem para comer. Uma cobertura de alumínio se erguia acima de mim, protegendo as crianças do sol e da chuva enquanto uma pequena construção de tijolos se projetava mais a frente.

A cantina. Era o lugar que com certeza acharia as coisas necessárias para aliviar os meus machucados.

— Viu, só? - falei, rindo - Eu não preciso de ninguém.

As chaves da cantina ficavam escondidas embaixo do tapete felpudo e empoeirado de boas-vindas. Foi fácil abrir a porta metálica e trancá-la atrás de mim. O próximo passo seria achar alguma coisa para limpar as feridas, tentando evitar uma infecção certeira que me levaria a óbito. Tive o pequeno ímpeto de acender as luzes, mas recuei essa ideia descabida assim que lembrei que estava sendo caçada por um maníaco de machado.

Abri a torneira e mordi meu lábio inferior assim que a água gelada retirava o sangue que manchava minha pele. A pia se tingiu de vermelho e quase gorfei ao ver com mais clareza a irregularidade do corte que o machado fez contra a minha mão.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now