CAPÍTULO 11

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XXX

Mia

Assim que entrei no chalé feminino, percebi o quanto esse pequeno e confortável lugar nunca mudava. Era como se esse dormitório ficasse parado no tempo durante a nossa ausência. Durante todos os anos que estive aqui, nunca vi ele sofrer grandes mudanças.

Era um local amplo e retangular, onde a claridade do dia iluminava as paredes rústicas através de algumas janelas estreitas e uma pequena claraboia octogonal no teto. Cerca de dez beliches ocupavam o espaço em ambos os lados, criando um pequeno corredor com tábuas gastas e poeirentas.

A entrada do lugar tinha um minúsculo hall de entrada, onde servia para colocar seus casacos em alguns ganchos pendurados atrás da porta ou para apreciar algumas fotos antigas das campistas que estiveram aqui nos verões passados.

A maioria delas, eu e Grace estamos presentes. Juntas e fazendo caretas.

__ Podemos escolher qualquer cama? – perguntou Carly, tímida.

__ É claro que sim. – exclamou Grace, desfilando no corredor – Esse lugar é todinho nosso até amanhã.

Coloquei minha mochila com estampa militar na parte de baixo de um dos últimos beliches do velho aposento. Por razões óbvias eu não poderia fazer grandes esforços com o meu ombro esquerdo, então o máximo de coisas que eu poderia fazer ali com um bando de garotinhas era ser a contadora de histórias. Nada mais que isso.

__ Meu Deus, pensei que o Victor fizesse pelo menos uma faxina por aqui. Sei lá... tipo contratar uma faxineira. – reclamou Grace – Mas pelo visto, estou enganada. Que velho inútil.

Ela abriu as cortinas azuladas da janela na minha frente, fazendo toda a poeira que estava impregnada naquele tecido voar lentamente pelos ares contra a luz.

__ Uma faxineira? - falei – Aquele lá é tão mão de vaca que deve usar a mesma escova de dentes uns trinta anos.

Grace riu e começou a escalar a parte de cima do meu beliche, se apossando do colchão duro. Ela parecia uma criancinha sem as amarras dos pais.

Sua mochila cor-de-rosa ficou pendurada na cabeceira da cama, enquanto ela desfez todo o lençol para ficar mais confortável. Abri a janela, tentando afastar aquele cheiro de lugar fechado que tanto odiava, apreciando a vista do lago para me servir de consolo.

"Será que foi uma boa ideia ter vindo para cá? ".

De vez em quando o lago fazia algumas ondulações leves sobre a superfície, apesar de não estar ventando para isso. O ar estava começando a gelar e isso não era uma coisa boa nessa época do ano. Isso sempre indicava que uma chuva estava a caminho.

Observei a serra oeste, onde normalmente o clima chuvoso sempre costumava chegar. O céu estava praticamente limpo, mas havia algumas formações de nuvens ocultas atrás dos picos ondulados da serra que me fizeram pensar que em breve teríamos que nos abrigar.

Até pensei em comentar isso para Carter, o cara que iria liderar nesse verão, mas mudei de ideia. Não estava me importando muito com meus deveres como monitora desse lugar já fazia um bom tempo e não seria agora que isso mudaria.

Meus últimos anos estando aqui foram até bons com as crianças que sempre gostavam de se assustar com minhas histórias bobas ou nadar no Lago Lamery, mas ultimamente não vejo mais essas lembranças com bons olhos.

Talvez seja esse lugar. Isso não tem nenhuma ligação com o passado perturbador daqui, até porque não sou muito supersticiosa com esse tipo de coisa, mas com o que eu já passei aqui. Cada pedacinho de terra que estou encarando ao meu redor tem uma história.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now