CAPÍTULO 29

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XXX

Carter

Vinte minutos atrás

Estávamos caminhando quando ouvimos alguns disparos ecoarem ao longe. Meu coração se apertou ainda mais em saber que outras pessoas estavam em perigo naquele momento, mas por mais que quisesse ajuda-las tinha outras questões para resolver agora.

Carly e eu estávamos tentando caminhar pela mata da forma que suas pernas permitiam. Com um andar lento e arrastado, mesmo com o meu apoio, demoramos um tempo considerável em cruzar uma boa parte da floresta. Preferimos ficar próximos da margem do lago, vendo suas águas refletirem um pouco de luz num mar de escuridão angustiante.

— É ele, não é? - perguntou com uma voz fraca a garota.

— Acho que sim.

Demorei para entender que ela estava falando sobre o Homem do Machado. Imaginava que poderia ser Joe, mas acho que não seria do feitio dele despejar balas à toa ao longe. Ele era um caçador e como tal estava nos caçando, silenciosamente, na floresta. Só de pensar nisso, um frio inquietante e mórbido subiu nas minhas entranhas.

Talvez fosse o pessoal do acampamento tentando se defender. Minha mãe havia mencionado uma vez que na sua época Recanto Feliz era cheio de armas de fogo e que Victor sempre se gabava por ter um arsenal delas todinho para ele, já que a temporada de caça fazia com que ele ganhasse uma renda extra em aluga-las para os velhotes que procuravam por emoção e mortes de animais.

Depois do que aconteceu nesse lugar a quase trinta anos atrás, as coisas devem ter mudado drasticamente. Me lembrei que no hall de entrada da Sede havia algumas armas expostas, mas estas deveria estar apenas como decoração. Se minha mãe for esperta o suficiente, talvez ela tenha pegado uma delas para atirar.

Deixei um sorriso fraco escapar da minha face cansada. Era quase impossível que ela pudesse fazer isso. Todo o trauma que ela carregou durante todos esses anos ainda está nela, nas profundezas de seu ser e no fundo dos seus olhos amendoados. Seria difícil imaginar uma cena dessas mas se uma parte esperançosa minha estivesse firme eu poderia apostar todas as minhas fichas que seria a Mia por trás de toda aquela barulheira.

Mia é a pessoa mais apta a proteger o resto do pessoal. Ela está aqui a mais tempo do que eu e conhece como ninguém cada parte desse acampamento. Espero que ninguém tenha se machucado ou, na pior das hipóteses, morrido em suas mãos. Abanei minha cabeça, tentando afastar esses pensamentos para bem longe de mim.

— Talvez seja os seus amigos. - chutei, fazendo a garota me encarar por um segundo - Eles podem estar atirando nele.

— Assim espero. - falou ela, sorrindo com aquelas covinhas tão fofinhas - Mas mesmo que eles matem esse cara, ainda tem o outro.

Assenti.

— Tem razão. – falei - Os problemas estão longe de acabar por aqui.

Me arrependi em soar tão pessimista assim, mas era uma verdade. Essa noite iria durar uma eternidade para cada um de nós até ver nossos algozes mortos. Era uma tarefa difícil e que poderia nos matar, mas era um risco a ser tomado para continuarmos vivos no dia seguinte.

Carly conteu um gemido de protesto e parou de andar. Suas pernas fraquejaram e se não fosse pelos meus braços a segurando, ela teria caído contra o chão. Ela estava fraca e sua pele fria, quase branca como papel, me fazendo pensar que seus curativos improvisados não estavam surtindo muito efeito.

— Carly? - chamei, mas ela não me ouviu - Carly, você tá legal?

Ela não me respondeu. Sua boca se abriu uma vez, mas sua voz delicada e suave não saiu. Seus olhos estavam perdidos no horizonte. Ver aquilo me fez me lembrar da mesma expressão perdida que minha mãe fazia quando estava desorientada.

Anoitecer SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora