CAPÍTULO 27

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XXX

Grace

Trinta minutos atrás

Os tiros que ouvi no salão de recepção haviam parado. Apesar do silêncio sepulcral, tinha alguns murmúrios sendo cochichados. Seja lá o que tivesse acontecido lá, as chances de Greg e Leslie estarem vivas eram muito baixas.

Fui em direção a porta e a fechei com o máximo de esmero possível para não produzir nenhum ruído, a trancando rapidamente. Me afastei e coloquei minhas mãos contra as têmporas, tentando pensar com clareza o que poderia fazer.

A Pistola Taurus 9mm em minhas mãos até poderia ser útil, mas sem uma munição era completamente descartável. Já revirei a maior parte do escritório em busca dos cartuchos e não havia encontrado nada. Essa tarefa seria mais complicada com um lunático armado lá fora.

Me aproximei do pequeno closet, praticamente escondido pelas sombras, atrás da porta. Abri ele e não encontrei nada de muito interessante. Apenas alguns casacos e sapatos velhos que o nosso falecido diretor usava quando era vivo. Tirando o fato que ele se vestia muito mal, era um closet normal.

— Espera aí. - sussurrei - O que é isso?

Tinha uma corrente de ar, leve e pequena, entre os casacos. Meus dedos começaram a afastar as roupas penduradas no cabide para os lados, começando a acelerar meu coração de tanta ansiedade. Assim que a última peça foi tirada da minha frente, avistei o fundo do closet ser revestido por grossas tábuas de carvalho. Isso faria qualquer um desanimar, mas para mim não.

Eu conhecia Victor bem o suficiente para saber que ele tinha um estoque de bebidas escondidas em algum lugar de seu escritório. Esses boatos eram mais velhos que a múmia da irmã dele que as vezes vinha até aqui para uma visitinha costumeira, sempre com aqueles cabelos grisalhos cortados rente a mandíbula com um chapéu grande de jardinagem.

Os dois ficavam direto no escritório e quando saíam de lá dando gargalhadas, o bafo de cachaça era evidente. Ele poderia negar quantas vezes quiser, mas a mim ele nunca conseguiu. Mia e eu, quando nós duas erámos apenas duas meninas bastante atrevidas, sempre tentávamos entrar em seu escritório quando ele não estava lá.

Era uma das inúmeras tarefas que fazíamos ao tentar saber se os diversos boatos dessa região eram verdadeiros. Recanto Feliz sempre teve uma aura estranha e mórbida. Nós duas costumávamos usar isso ao nosso favor. Assustando criancinhas com lençóis brancos cobrindo nossos corpos, fingindo que alguém puxou nosso pé de madrugada ou até mesmo fazendo uma sessão de tabuleiro ouija com os mais novos.

Tudo era usado para eu e Mia rirmos da cara de todo mundo.

Erámos tão felizes e tão unidas que as vezes é difícil pensar que isso se apagou hoje em dia. Não sei se é pelo simples fato de estarmos crescidas e termos que enfrentar uma vida adulta em breve, mas eu adorava passar o tempo com Mia naquela época. Uma Mia companheira e que pensava em mil e umas coisas absurdas para a gente fazer.

— Uma pena que ela decidiu dar em cima de James. - suspirei - Aquela vaca me paga.

Retornei a minha atenção em encontrar o fundo falso do closet, tateando as cegas até achar o contorno retangular de uma passagem secreta. Consegui abrir ela e antes mesmo de visualizar as bebidas, senti o cheiro do licor e do conhaque vindo na direção das minhas narinas.

Era uma espécie de cofre revestido com um material acolchoado, onde uma pequena lâmpada amarelada se acendeu para mostrar algumas das bebidas que Victor nunca mais iria beber novamente. Dentre tantas marcas baratas e de péssima qualidade, avistei uma pequena caixa com cartuchos vermelhos e amarelos.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now