CAPÍTULO 38

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XXX

Greg

Não sei quanto tempo eu fiquei vagando as cegas pela floresta, mas senti que já tinha me distanciado o suficiente de Recanto Feliz assim que minhas panturrilhas começaram a queimar, implorando para uma pausa merecida.

Estive tão absorto em meus próprios pensamentos e medos que estava caminhando à esmo sem nem notar. Meu All Star estava encrustado de lama até os tornozelos, ganhando vida própria conforme avançava em uma marcha ritmíca.

Estava tão entretido nisso, pensando na mulher que havia deixado morrer sozinha para trás e como eu havia sido um covarde acima de tudo. Tinha ajudado a matar Leslie, mesmo que indiretamente e agora eu estava pagando pelos meus pecados com uma consciência pesada que não estava me ajudando em nada além de me deixar cada vez mais para baixo.

— Perdão, Leslie... – falei, imaginando poder falar com ela – Perdão.

Eu havia presenciado tantas coisas em um único dia fora de casa. Longe de toda a civilização reconfortante que eu tanto conhecia e que eu tanto amava. Tinha visto amizades sendo desfeitas por um simplesmente e maldito beijo, intrigas, mortes e um monte de atrocidades que me recusava relembrar.

Metade dessa madrugada já tinha se passado e nem mesmo com o tempo correndo ao meu redor sem eu perceber, estava me ajudando a me manter calmo que a ajuda iria vir pela manhã. A chegada repentina de um ônibus escolar lotado de crianças inocentes e que nunca viram um cadáver em suas curtas vidas, teriam a oportunidade de ver o diretor do acampamento que seus pais haviam pagado antecipadamente sem metade da cabeça para lhe dar boas-vindas.

"Olá, crianças!" Diria ele para elas, abanando uma de suas mãos ensanguentadas para eles. "Não se assustem, isso não é nada demais!"

Abanei minha cabeça, tentando afastar isso enquanto me escorava em uma árvore no meio da escuridão perpétua desse labirinto de pinheiros. Minha imaginação era estranhamente mórbida em imaginar cadáveres reanimados de pessoas que eu vi serem mortas na minha frente. Não me surpreenderia em imaginar Leslie me cumprimentando com metade de seus intestinos para fora com um sorriso no rosto.

— Preciso sair daqui. – falei – Mas como?

Eu estava tentando ir para o norte, onde a estrada mais próxima para Green Black se encontrava, mas estava sendo difícil me guiar com as nuvens ocultando o céu estrelado. Mesmo sendo um garoto da cidade, eu não era burro. Eu sabia muito bem me orientar através das estrelas.

Mia certa vez me ensinou como me achar se caso, por uma infeliz circunstância do destino, eu me perdesse. Nunca pensei que usaria as dicas dela à sério, mas aqui estava eu, encarando para cima com um cartografo olharia um mapa.

X

— É muito fácil se achar, Greg. – disse ela, uma vez em que estávamos jogando conversa fora na varanda de sua casa com o restante dos nossos amigos.

Eram bons tempos. Estávamos recém saindo do ensino fundamental e entrando no ensino médio. Hormônios à flor da pele. Espinhas, muitas espinhas e conversas estranhas de madrugada.

Tínhamos nos juntado na casa dela, enquanto o Velho John estava fora à trabalho. Era aniversário de Carly e tínhamos feito uma festa surpresa particular só nossa. Uma época em que Grace e Mia eram unidas ainda, sem a presença de James espreitando o nosso grupinho como sempre ele fazia. Félix ainda tinha cabelos negros e tentava entrar em uma peça de teatro do colégio pela milésima vez.

As velinhas já haviam sido assopradas um tempo, deixando apenas algumas migalhas do bolo que tínhamos comprado algumas horas atrás. Os balões coloridos ainda enfeitavam a sala e a cozinha, deixando o nosso primeiro gosto de álcool ainda bastante palpável em nossas bocas.

Anoitecer SangrentoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz