CAPÍTULO 40

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XXX

Greg

Não consegui tirar um cochilo descente por mais que tentasse. A chuva que batucava contra a lateria do inútil do carro do meu diretor era agradável, combinando perfeitamente com o leve frio que começava a gelar minha pele exposta, mas nada disso era suficiente para me relaxar.

A ajuda estava a caminho, disso eu tinha certeza, mas até eles chegarem aqui muita coisa poderia acontecer. Sei que não é nada bom pensar tão pessimista assim, mas é isso que acontece na maioria das histórias de terror. Um momento de calma antes de algo catastrófico acontecer.

Além disso, a machadada que tinha levado não estava melhorando. Tinha usado um pouco da água da chuva para limpar a ferida, me causando uma dor tremenda, mas nada parecia adiantar muito. Como tinha sido atacado pelas costas, não tinha a menor noção de como aquilo estava e eu tentava ao máximo cobrir ela com uma flanela que havia achado no porta-malas de Victor.

Os minutos pareciam se arrastar longamente e a dor continuava presente, alfinetando minha carne toda hora como lembrete que estava ali e que iria continuar me incomodando se eu não fizesse nada para detê-la.

— Que droga. Parece que o tempo não passa nessa joça.

Meu celular já estava quase sem bateria, mas consegui ver que já era quase quatro horas da manhã. Cerca de duas horas ainda para alguma alma bondosa e caridosa conseguir chegar nesse pedaço de fim de mundo. Suspirei de frustração, jogando minha cabeça contra o assento motorista.

— É Greg, parece que você se tornou uma vela.

Era oficial. Mia e Carter se tornaram um casal e isso só ficava mais evidente com a silhueta dos dois coladas um no outro atrás do para-brisa escuro da caminhonete. Não queria estragar o romance deles tão cedo, mas eu estava praticamente morrendo lentamente com aquela dor latejante nas minhas costas.

O clima estava mais firme agora, apesar da garoa ainda pinicar minha cabeça levemente enquanto arrastava meu corpo cansado para fora do carro. O cascalho estava escorregadio, se fundido com a lama que estava atolando os carros daquele estacionamento. Caminhei até eles, mas parece que eles não estavam prestando atenção na minha chegada com o sono que reinava dentro daquela caminhonete.

Dei três toques fortes contra o vidro do carona:

— Vamos parar com a pouca vergonha aí, pode ser?

O vidro desceu ligeiramente, me dando uma bela visão de Mia com uma expressão sonolenta idêntica ao de Carter que esfregava os olhos enquanto bocejava:

— Não estávamos fazendo nada de malicioso se você quer saber.

— É claro que não estavam, eu cheguei a tempo. - Mia me encarou longamente enquanto Carter começava a ficar corado - Desculpe acordar vocês, mas eu não too muito legal. Aquele idiota me acertou com o machado nas costas e acho melhor der um jeito nisso antes que infeccione.

— Ai, caramba! - falou Mia, preocupada - Esquecemos totalmente de cuidar dos nossos machucados. Foi mal, Greg.

Aquilo fez Carter se pronunciar, tentando mudar desviar a conversa da minha brincadeira maliciosa que havia feito com ele.

— Você não é o único, cara. - disse ele, apontando para algo atrás de suas costas que não consegui ver o que era - Acho que todo mundo aqui em algum momento acabou se machucando. Mas o seu está muito feio?

— Eu não sei, só sei que tá doendo muito.

Mia desceu do carro com sua aljava de flechas postas nas suas costas e com o arco em mãos. Ela deu uma longa olhada ao redor, tentando ver se ainda existia perigo. A flecha escorada em seu arco permaneceu apontada para baixo, dando um indicio que ela não tinha um alvo para mirar e acertar.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now