CAPÍTULO 21

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XXX

Mia

Tínhamos que agir. Isso não era uma opção, era um fato. Cada segundo que eu observava passar no relógio grudado da parede da enfermaria era um segundo a menos em que nós poderíamos estar fazendo alguma coisa para sair dessa situação.

A chuva já havia parado algum tempo, deixando a nossa visão do que existia fora das janelas do chão visíveis pela primeira vez desde colocamos nossos pés aqui. Apesar da escuridão ser quase proeminente, o luar dava as caras entre as nuvens e despejava lampejos de claridade sobre os contornos dos outros chalés e das árvores.

Ergui meus olhos para o que estava escondido nas sombras do outro lado do lago, me obrigando a ver a pequena silhueta do Mirante se erguendo no alto de uma colina íngreme. Ela estava tão longe e tão imponente que quase deixei um riso escapar em meus lábios em pensar que aquele lugar tão inóspito pudesse ser a chave para a nossa salvação.

Eram quase nove horas da noite e nada de Carter, Carly ou Grace aparecerem para aliviar as nossas preocupações. Por mais que me esforçasse a pensar positivo, as chances de eles voltarem estavam começando a se tornar escassas. A ideia de salvar Carly não pareceu ter dado certo. Aquilo significava que agora eram só nós contra um serial killer.

Por mais que fosse duro pensar assim, era a mais pura verdade. Com as mortes deles, as próximas vítimas seriam nós e a última coisa que gostaria de estar fazendo era esperar de braços cruzados pela minha morte.

— Muito bem, chega de fazer nada. – falei, chamando a atenção de todos – Precisamos sair daqui.

Leslie ergueu a sua cabeça, me fitando com seus olhos castanhos. Ela esteve calada durante todo esse meio tempo, seguindo o pedido dela para esperássemos seu filho ou qualquer um que cruzasse aquela porta para tomarmos uma decisão juntos. Porém, a medida que os ponteiros avançavam, ficava nítido a esperança dela se tornar um silencioso lamento.

— Não, eles não voltaram ainda. – protestou a enfermeira – Dê mais trinta minutos. Talvez eles estejam a caminho, tentando enganar aquele psicopata na floresta. A gente tem que esperar.

— Leslie, as chances disso acontecer são... – me calei, era difícil demais verbalizar isso, mas acho que ela entendeu o que eu queria dizer. Leslie afastou uma lágrima no canto de um dos seus olhos. – Temos que fazer alguma coisa agora. Seguir o meu plano o quanto antes.

Notei Félix soltar um riso forçado, achando aquilo tão improvável de ser feito quanto uma pessoa voar.

— A sua ideia é suicida demais. – falou ele.

— Então quer esperar para ser morto aqui?

Ele não disse nada, desviando seu olhar para o papel de parede mofado a sua frente com braços cruzados. Greg estava ouvindo tudo com atenção e mesmo com seu braço direito enfaixado com diversas bandagens e seis pontos costurados em sua pele escura, se mostrou mais otimista que todos nós naquela sala.

— Eu vi o que ele é capaz de fazer e Mia também. – explicou Greg, sério – A força dele é insana e a sede de sangue pior ainda. Podemos estar em maior número, mas não estamos nem armados e nem com uma ideia do que fazer caso ele apareça agora. Temos que colocar o plano em prática.

Minha ideia era bastante simples, mas arriscada. Mesmo com o sinal dos nossos celulares inexistentes, havia uma torre de rádio no topo do Mirante que estava inutilizada depois de instarem a rede wifi nos chalés.

O antigo sistema ficou obsoleto demais para essa nova geração, então já fazia alguns anos em que ninguém subia a colina para verificar como anda os instrumentos e principalmente o rádio de comunicação que conectava todas as linhas de rádio próximas em um raio de quase 5 quilômetros.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now