CAPÍTULO 39

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XXX

Carter

Não consegui descrever o sentimento que senti assim que avistei o centro do acampamento totalmente transformado em uma espécie de batedouro ao ar livre.

Quanto mais a velha caminhonete sacudia em direção aquela estrada esburacada e coberta de ervas daninhas, mais eu observava o que restava de um refúgio para crianças se divertirem na natureza.

Meus olhos conseguirão detectar pelo menos três corpos espalhados por todo o gramado, sendo um deles com sua cabeça totalmente destroçada, não restando nada que pudesse ligar ao homem que era responsável por esse lugar. A claridade do chalé incendiado ajudou a iluminar boa parte do caos e me ajudou a localizar uma improvável sobrevivente camuflada em meio ao vermelho vivo da cena sanguinolenta.

— Mia?

Parei bruscamente o veículo em frente à Sede de qualquer jeito, descendo com pressa ao seu encontro. Mia estava sentada em cima do capô do veículo que um dia pertenceu ao Victor. Ela estava com vários respingos de sangue pelo rosto e pela regata branca.

Um desespero imenso se apossou do meu corpo, mas consegui me controlar ao ver que todo aquele sangue não era dela. Apesar de alguns arranhões e escoriações, ela parecia bem.

— Carter? – estranhou ela assim que me viu, descendo do capô – Você tá vivo?

— Você não é a primeira pessoa que me diz isso.

Nos abraçamos e ficamos algum tempo assim, sentindo o momento correr de forma ligeiramente lenta ao nosso redor. Era maravilhoso pensar que ela ainda estava viva depois de tudo que havia acontecido aqui. Sentir o calor dela sobre a minha pele e sua respiração tranquila contra o meu peito me tiraram uma preocupação enorme para trás.

— Que bom que você tá viva. – falei – Pelo jeito você é dura na queda, hein. Dois ataques e o pódio de sobrevivente permanece invicto para Mia Spencer.

— Para de ser bobo. – riu ela – Todos nós merecemos esse pódio só de estarmos vivos até agora.

— Como você é humilde. Gostei.

O sorriso dela deixou sua face mais radiante, mas tive que cortar esse clima agradável com o que vi atrás dela.

— Grace? – indaguei.

Olhei para o corpo da jovem loira desinibida que era Grace em vida, estirada contra o cascalho do estacionamento com várias marcas de perfurações em seu tórax. Os olhos azuis dela estavam abertos e vidrados para a nossa direção, dando a impressão que mesmo depois de morta ela ainda nos observava de forma macabra.

— Ela tentou me matar. – se explicou Mia – Eu só impedi isso.

— Matando ela? – indagou Greg, surgindo logo atrás de mim.

Os olhos dela se iluminaram ao ver seu amigo e ela correu para abraça-lo com força.

— Ai, meu Deus! Vocês são demais! – falou ela – Sabia que conseguiriam escapar dessa.

— Ok, ok. - começou Greg, se contorcendo de dor no abraço dela - Vamos com calma que levei uma machadada nas costas.

— Ai, sinto muito. – Mia se desvencilhou dele – Desculpa, mas parece que faz séculos que não vejo um rosto familiar e de boa índole. Tudo o que vi até agora foi a própria face de um bando de gente psicótica querendo me matar por algum motivo idiota. Não sei o que fiz de tão errado assim, mas se for só porque sou bonita, eu posso entender o motivo.

Anoitecer SangrentoWhere stories live. Discover now