Algumas horas antes de uma alvorada, uma cabana envolta por um bosque denso e escuro está acompanhada de duas figuras encapuzadas, a primeira sob o telhado, deitada e totalmente camuflada, apenas esperando, a outra pessoa se encontra no interior, agora diferente, as janelas estão bloqueadas com tábuas pregadas, os móveis destruídos, amontoados em um dos cantos, o que relembra a tragédia é o sangue seco espalhado pelo chão.
A segunda pessoa, com um capuz escuro, se mantém de pé em uma das paredes, ela segura firmemente uma corda, que passa por uma das janelas e está amarrada em um pequeno filhote de porco, todo rosado e assustado, deixando o animalzinho oposto à porta principal, escancarada; Uma voz sussurada ecoa de leve pelo local -"Calma amiguinho, nada vai acontecer com você, vai ser rapidinho." - essas palavras vem de Barbara, a qual parece entediada e nervosa, como se estivesse naquela posição a um tempinho, uma noite silênciosa que conseguia ser calma e tensa no mesmo momento.
Os pensamentos da garota são barrados por sons, passos que fazem a madeira ranger, de pouco a pouco, braços longos entram pela porta, trazendo uma bizarrice muito maior, caminha bem devagar até o filhotinho, imediatamente Barbara segura sua respiração, olhando para seus pés, e aperta a corda em suas mãos com força -"finalmente a ação chegou, esse arrombado vai pagar."- esses são os pensamentos que passam em sua cabeça, aquela maldita aparição se aproxima do porquinho, que começa a tentar fugir desesperadamente, soltando guinchos altos e finos, corre para todos os lados em agonia, porém, sua força de vontade é inútil, perante os fortes braços daquela que o segura.
A ruiva decide levantar seus olhos lentamente para ter uma noção da situação, e chamar seu companheiro na hora certa, mas ao fazer seu movimento, ela nota, aquela aberração não estava onde deveria, ao subir sua cabeça aos poucos, Barbara começa a enxergar longos membros brancos, com garras ferozes, e levantando o rosto completamente, seu capuz cai, e ela tem um momento aterrorizante, uma criatura deformada, seus quatro membros principais são extremamente compridos, com duas vezes a altura da menina, o monstro olha para baixo, a encarando; A face da criatura é distorcida, com um nariz pontudo e curvado, um sorriso macabro e afiado, orelhas desproporcionais, sua pele é inteiramente pálida com manchas acinzentadas, e por fim, seus olhos, largos e negros, encará-lo é como olhar para um vazio infinito de pavor, um abismo feito de desespero.
Provavelmente aquele era o momento mais medonho e apavorante de toda sua vida, era impossível desviar o olhar, impossível continuar segurando a corda, impossível parar de ofegar, durava minutos, anos, séculos, tudo que ela conseguia fazer era olhar o abismo de volta; O filhotinho corre berrando para o meio do bosque, finalmente livre, em contraparte, a criatura chegava cada vez mais perto, bufava um hálito de morte e sangue, parecia farejar a garota, e derrepente -"PLAFT!"- uma figura cai na entrada, segurando uma espada, retira o capuz, bloqueando a única saída fácil da criatura.
Kayn: -"Cadê o sinal?! Barbara?!"
O garoto parte furiosamente para a aberração, uma investida forte com os ombros, ficando entre sua companheira e o alvo: -"Barbara! Acorda!"- grita e se posiciona com a espada, se preparando para um combate de frente, o demônio parece interessado demais em Barbara, notou a presença de Kayn após segundos de levar a empurrada, e dessa vez, se assemelhando mais com os oponentes vistos antes, ele vai pra cima do azulado, o atacando com as garras, a menina por fim volta à realidade, vendo seu amigo tentando segurar ataques fortes com sua arma, mas levando arranhões, é levado para trás aos poucos.
Barbara: -"O que? Tô aqui!"
Kayn: -"Ajuda aqui!"
Barbara: -"Não olha pro rosto dele!"
Kayn: -"É, eu percebi!"
Ambos cercam o monstro em um dos cantos, desferindo e defendendo golpes, eles formam uma boa dupla de combatentes, essa sequência de ação é quebrada por um poderoso salto que arremessa um guerreiro para cada lado, misteriosamente essa coisa mostra uma obsessão por Barbara, e parte com fúria em direção da mesma, mas é segurado um pouco por Kayn em frenesi: -"Esse desgraçado é forte, vou precisar usar? Vou machucar ela, que porra." - passa rapidamente na mente do garoto, que observa sua amiga se levantar do chão.
Kayn: -"Corre pra fora! Vai!"
Barbara: -"Não vou te deixar aqui!"
Kayn: -"Confia em mim! CORRE!"
Aceitando o que ouviu, ela acelera seus passos, indo para o meio do bosque, em direção da cidade, no momento em que a garota se distancia da besta, parece que a força da criatura foi aumentada drasticamente, como se tivesse ativado um instinto de fúria, parecia que Barbara era sua presa, e ele precisava caçá-la; O azulado começa a ser carregado junto: -"Deixa ela! Olha pra mim!"- imediatamente, subindo nas costas do monstro, trava sua espada na bocarra daquela praga, quase mantendo controle da situação novamente, porém, em saltos e pulsos bizarros -"CRASH!"- a espada é despedaçada com uma poderosa mordida, os fragmentos da arma voam pela cabana, e em um piscar de olhos, Kayn é arremessado para uma das janelas, quebrando e atravessando as tábuas pregadas, no impulso, o garoto tenta parar de pé, mas com o movimento, torce violentamente o pé direito e cai sobre a grama.
Kayn: -"ARGH!"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blood With Dust
AdventureEm um mundo onde a paz foi conquistada por conflitos passados, ressurgem sinais de uma antiga raça hostil, há anos derrotada, enquanto isso, um grupo de destemidos soldados embarcam em uma perigosa jornada de investigação para preservar seu frágil m...