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Danúbia foi embora quando a tarde caiu, mas deixou comigo milhões de pensamentos e questionamentos. Mas decidi fazer o que eu julgava correto, eu iria pedir perdão pelos meus pecados quando estivesse na casa do senhor.

Desci as escadas depois de me arrumar para mais um culto, estava com um salto branco não muito alto, uma bolsa da mesma cor e um vestido amarelo rodado que ia até os joelhos.

O pastor e sua esposa obviamente já estavam na igreja, os dois sempre iam mais cedo.
Thomas vinha em minha direção com um olhar triste e sem graça, parecia não saber se deveria falar comigo ou não. Estava usando maquiagem para cobrir o olho roxo, usava seu terno azul escuro e gravata vermelha de sempre, cabelo molhado e penteado pra trás, por um instante eu quase perdi a noção do tempo o encarando, eu ainda me sentia desconfortável por ter sentimentos por ele, mas sabia que aquela raiva era algo ruim para nós dois.

— Olha, eu só queria dizer que já avisei ao seu motorista que você irá com ele — falava tristemente.

— Por que fez isso? — perguntei num tom normal.

— Eu imaginei que você não iria querer ir comigo — seu olhar triste fitava cada centímetro do meu corpo, mas não era um olhar de malícia, ele estava me admirando respeitosamente — se me permite dizer, você está linda, na verdade você é sempre linda.

— Eu não quero ir com o meu motorista — me aproximei dele e dei um meio sorriso sincero — quero ir com você.

— Mas eu pensei que você-

— Sim — interrompi sua fala — eu disse que precisava de um tempo, mas agora eu não quero mais. Você errou, mas como sua futura esposa, eu devo te perdoar — por algum motivo, colocar pra fora aquelas palavras fazia parecer que eu estava traindo a mim mesma, como se estivesse dando um tiro no meu próprio pé, mas ainda sim eu queria fazer a coisa que julgava certa.

— Obrigado, meu amor!! — movido pela emoção, Thomas me envolveu em seus braços e me girou no ar, seus lábios beijavam meu rosto com carinho repetidas vezes.

Por dentro eu estava apavorada por estar em seus braços, eu não me sentia mais segura com ele, muito menos com seu toque, estava me forçando a parar de lembrar do que Thomas fez comigo e o que fez com aquela mulher, mas eu só sentia nojo.
E quanto mais eu tentava me concentrar em uma memória boa de nós dois, eu só conseguia lembrar ainda mais da dor que ele me fez sentir.

Porém, quando meus pés estavam de volta no chão, fui firme o suficiente para abrir um sorriso pra ele.

— Vamos? — ajeitei minha bolsa branca de couro no meu ombro e fui andando na frente.

[...]

Sentada no banco da igreja, enquanto meu sogro citava um trecho da bíblia, eu via Julie sentada do outro lado do lugar junto com seu namorado, os dedos dos dois estavam entrelaçados, o sorriso da garota era enorme, já o olhar de Dominic, parecia estar pedindo socorro.

Mas se ele não a amava e não gostava de estar ali, então por que estava? Por que se submetia? O que ele tinha a perder?

Logo o pastor fechou sua bíblia e se sentou para que o coro iniciasse, mamãe era a tecladista da igreja, e sempre alcançava corações com seu maravilhoso dom.
Com suas melodias eu me acalmava, me sentia em paz e protegida por ela de alguma forma. E escutando as teclas serem tocadas com delicadeza pela mulher que eu mais admirava, fechei meus olhos e pensei em tudo que havia acontecido, me perguntava o que mamãe faria, apesar de já ter a resposta.

Minha mãe sempre foi uma mulher apaixonada, meu romantismo excessivo e quase que irracional era algo que eu havia herdado dela. A versão jovem da senhora Tessa era repleta de aventuras e descobertas, ela sim foi livre e feliz, teve oportunidade para seguir o caminho que queria, e sempre foi decidida, nunca deixou ninguém escolher seu destino.

O filho do pastorWhere stories live. Discover now