Capítulo 39 O sonho

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A felicidade preencheu seu coração junto das lágrimas e um sorriso separou os lábios de Yava. As pálpebras do elfo, piscaram repetidas vezes mas, um suspiro profundo escapou dele, e lentamente seus olhos se fecharam.

Yava contraiu o rosto com desespero.

-Não!!-Seu grito agudo ecoou no quarto-Não, não pode me deixar...Não!!

Angustiada, sacudiu seus ombros, balançando o corpo pálido que gradativamente diminuía o calor. Tentou erguê-lo com dificuldade chorando muito, não vendo nenhuma reação dele.

Lá fora o dia prosseguia bonito, a brisa perfumada pelas flores enchendo o ambiente. E a dor pouco a pouco deu lugar a uma sensação desconhecida. Uma dormência incontrolável ganhou seu corpo a deixando paralisada. Fez força para manter a mesma posição abraçada ao elfo e não conseguiu.

Por trás da luz brilhante a natureza, reinava íntegra, perfeita, balançando a copa das árvores. O som de animais o colorido das flores contribuía a uma paisagem distinta nunca vista para Yava. Ela não se lembrava de ver algo tão lindo. Oh, sim a floresta verde, mas essa trazia um encanto, uma atmosfera reconfortante e se perguntou se era um sonho. Olhou para si reparando na vestimenta, uma túnica alva descia até seus pés descalços sobre a relva macia e seus olhos foram direcionados para uma estrada de rosas azuis.

O som fluía pelo ritmo cristalino de águas sobre flancos, indicando perto dali uma cachoeira e ela pensou estar em Valfenda, mas sua mente não dava-lhe a precisão de ter visto rosas tão viçosas e cheirosas, nem a identificação do cenário que mesmo belo, trazia traços desconhecidos.

Então, a claridade como um nevoeiro foi ficando mais fraca, dando a visão de uma floresta, como também de movimentos delicados de uma figura feminina, esguia com roupas esvoaçantes e de rara beleza. O ruído de passos ao seu lado levou seu olhar a contemplar a imagem do rei, que com olhos brilhantes sorriu para ela.

Surpresa e preenchida de um intenso sentimento de amor, Yava voltou-se para imagem, sentia que não estava ali ao acaso e com voz suave a ouviu dizer:

-Valar, está com vocês e concedeu-lhe uma nova chance, mas não a chance apenas de se redimirem e sim, de salvar o coração da floresta. Um elfo ama apenas uma vez, um amor puro que vence a morte, a dor e por isso liberta. A profecia, foi o meio que Erú encontrou para chamar atenção para salvá-lo Thranduil. Yava salvou seu coração da geleira eterna de sofrimento, como também os livrou do mal que quis destruir a alma verde da floresta. Estão livres, para viver o amor, e a felicidade em sua plenitude.

Yava deixou as lágrimas caírem, e mirou o rosto belo do rei corado e feliz. E à medida que sensações aconchegantes e ternas os absorviam, a luz passou a ficar fraca, e desvaneceu virando somente um ponto brilhante no infinito.

Yava, sentiu estremecer e abriu as pálpebras, o cheiro perfumado da brisa no quarto ainda podia ser sentido. A cabeça, seguia apoiada sobre o peito do rei na mesma posição. Ela lembrou-se de tudo, e ao ver seu rosto as pálpebras dele se abriram e novamente os olhos safira encontraram os dela. Dessa vez, com um brilho meigo onde seus lábios esboçaram um sorriso fino de profundo amor.

-Eu amo você...-A voz dele saiu baixa, mas com uma força incrível de desestabilizá-la. Agora, não sabia de fato se foi um sonho, ou realidade. O coração agitou-se ao ouvir aquelas palavras que por um instante receou jamais ouvir. -Está me escutando?

Ele insistiu, vendo seu rosto alheio, olhos molhados e lábios entreabertos.

-Eu...-Ela murmurou sem conseguir falar.

-Desde quanto tempo está aqui? -Quis saber ele, e seus dedos acariciaram os cabelos macios.

-Alguns minutos...-Não sabia ao certo, mas ao olhar para o exterior, as primeiras estrelas surgiam no céu. Ela se ergueu fitando o horizonte pelas aberturas, ouvindo o ruído das finas quedas de Valfenda. Sim, foi um sonho. Um sonho tão real, que não tinha palavras para agradecer.

-Pode me dizer mel de abelhas, porque está tão silenciosa?

Houve um fio de ansiedade em sua voz, e ela riu olhando para ele que sentou, apoiando as costas ao encosto da cama.

-Desculpe-levou a mãos aos lábios corada. - Eu achei que nunca mais ia acordar.

O olhar dele mudou para curiosidade, e depois franziu o cenho.

-Acha que não somos imortais? A morte não é fácil de atingir um elfo como eu, -fez aborrecido- que diga-se de passagem está envelhecendo.

-Não. -ela chegou mais perto presa em seus olhos. -Você continua perfeito e forte como nunca.

Um gritinho saiu de seus lábios, quando ele prendeu suas ancas com as mãos, a fazendo cair deitada no colo dele.

-É claro que estou e morrendo de desejo. -O sussurro, a fez arrepiar-se e ele subiu as mãos até seu rosto. Abaixou a cabeça quase a sufocando por seus cabelos longos onde selou seus lábios com um beijo profundo. Quebrou o gesto de modo delicado e alisou a bochecha dela com os dedos. -Eu senti tanto a sua falta minha doce criança do verão. Se quis me castigar, fui muito bem punido com sua ausência.

Seu coração nunca bateu tão forte como agora. Nada havia no mundo que pudesse deixá-la tão feliz. Thranduil salvo, ao seu lado a devotar-lhe amor.

-Eu também. Eu te amo...-murmurou e ele sorriu sem tirar os olhos dela. -Você teve um sonho?

Thranduil uniu as sobrancelhas e ponderou uns segundos.

-Acho que sim. - respondeu confuso- quero muito recomeçar, quero você ao meu lado Yava, e que me perdoe. -Lágrimas brotaram o rosto dela novamente o deixando comovido. -Não chore.

-Eu perdi nosso filho. - Soluçou.

Só agora, conseguia jorrar toda a dor que sufocou ao perder a criança. Seu choro ficou convulsivo, assustando o rei da floresta, que sentiu o coração esmagar dentro do peito.

-Linda, flor do campo. Não chore, por favor. -Suplicou triste. Ele a abraçou a consolando, e deixando beijos no topo de sua cabeça. - Quando voltarmos, poderemos ter quantos filhos quiser. Aceita se casar comigo, adaneth? -Yava afogou-se num suspiro. - Casados já somos, falo do casamento dos homens, um véu, aliança para celebrar nosso verdadeiro amor.

-Isso é o que mais desejo. - balbuciou ela, desta vez separando os lábios em um sorriso preenchido de felicidade.

[...]

Quando Bard encontrou Bain, uma visível ruga na testa deixava seu semblante endurecido. Há alguns dias vinha analisando a postura cética, fria do filho como se estivesse de mau humor. Ele preparava a montaria determinado.

- Vai viajar? - quis saber, o vendo de costas sem tomar conhecimento dele.

Com a recuperação do rei elfo, ficou decretado uma grande confraternização entre as raças. Thranduil desejava expor sua gratidão, unir os povos que de alguma forma colaboraram para vencer os elfos negros.

- Sim. - respondeu apertando a cela com um puxão brusco. O cavalo relinchou e Bard franziu o cenho ao ver sua impaciência.

- Pensei que ia ficar para a celebração.

- Não há nada para celebrar. - disse seco e ressentido.

Ouvira comentários sobre Thranduil e a mortal, filha de Onor. Não vira evidências, mas pela forma como o falatório se dava, não demonstrava ser mentira.

- Está assim por Yava? - disparou o arqueiro. Nunca foi tolo. O filho alimentava aquela ilusão. Estava claro.Bain parou o que fazia ainda de costas para ele e pensou uns segundos. - Não adianta fingir. - Prosseguiu Bard. - As histórias estão se tornando fortes. Eu lamento por isso, mas sabe melhor que eu que a filha de Onor, não é o tipo de mulher disposta um casamento e menos ainda, com o rei elfo, que amou apenas uma vez.

- Não importa. Eu não irei pagar pra ver. - soltou emburrado.

Bard meneou a cabeça sem que ele visse, não tendo argumentos. O filho sempre teimoso, e ao voltar-se para outra direção encontrou Legolas.

- Alteza. - cumprimentou Bard e Bain o viu, fazendo um aceno de cabeça.

- Os preparativos estão prontos. Meu pai está muito bem, mas ele reforça que o evento não será apenas para celebrar a vitória e sim, também uma união. - Legolas sorriu piscando o olho. - Ele vai se casar com Yava.

Bard baixou o olhar e Bain fechou o rosto vítima de uma onda de despeito.

No Coração da Floresta (Thranduil Fanfic)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang