Caminhei até o quarto delas, tentando pensar em como começar aquela conversa assustadora. E quando finalmente consegui contar, segurando suas mãos pequenas nas minhas, as crianças permaneceram em silêncio.

Amy parecia preparada para a situação, embora, não menos afetada pela dor e o medo. Já Eve, reagiu da pior maneira possível. Ela correu até o quarto de Bonnie e tentou acordá-la aos prantos, sacudindo-a e gritando que não queria ficar sozinha. Por fim, desistiu e apenas se enfiou sob as cobertas com sua mãe adormecida e chorou copiosamente até desmaiar de cansaço.

Eu simplesmente fiquei sentado, assistindo aquela cena dolorosa e terrível, sem coragem de consolar minha filha e sabendo que eu era o culpado de sua dor e desespero.

Não percebi que estava chorando até Amy surgir do meu lado e tocar meu rosto, secando as lágrimas e me acolhendo em seu pequeno abraço.

— Não fica triste, papai — ela disse, contendo as lágrimas — A mamãe sempre vai estar conosco. Ela disse que nunca nos abandonaria.

Cerrei meus braços ao redor da pequena menina, tentando acreditar que aquilo era verdade.

— Obrigado, princesa — sussurrei contra seus cabelos.

O restante do dia foi um inferno, pois eu mesmo tive que ligar para Damon e contar o ocorrido. Pensei que ele iria me xingar de todos os nomes possíveis — e até preferia isso —, mas para minha surpresa, sua voz estava cheia de pesar quando disse:

— Agora nós ficamos sem as duas — sussurrou — Era isso que você queria?

Não pude responder. Como poderia?

Damon apenas desligou na minha cara, deixando-me no completo silêncio do escritório vazio e escuro.

***

Três dias haviam se passado e nada de Bonnie acordar. Tentei seguir a mesma rotina do dia-a-dia, mas eu não tinha cabeça para pensar em planejar aulas para as meninas ou simplesmente pensar em formas de nos proteger daquela Irmandade fora dos portões da fábrica. Foi como se a usina de força que me dava energias, estivesse completamente desligada. E a única que possuía a chave para isso era Bonnie.

Mas como eu voltaria a ser eu mesmo se ela não estava mais aqui?

E as meninas não estavam diferentes de mim.

Amy estava tão triste que havia perdido peso naqueles poucos dias. Ela simplesmente não tinha mais apetite e preferia ficar trancada em seu quarto com a cara enterrada nos livros para tentar esquecer da dor. Eve, por outro lado, não saia de perto de Bonnie, passando o dia todo abraçada à mãe e chorando sem parar. E quando não estava com ela, apenas me dirigia olhares de puro ódio. Acho que mesmo sem ter sido informada, de alguma forma, ela sabia que eu era o causador daquele inferno que ela habitava agora.

Nas poucas vezes em que tentei conversar com ela, Eve agiu com agressividade e lágrimas, gritando que eu era culpado de tudo. Que eu não consegui trazer sua mãe de volta e ela tinha toda a razão.

Aquilo foi o estopim para o inferno dentro daquela casa, pois Amy entrou na briga, tentando me defender e acabou partindo para cima de sua irmã que a empurrou no chão com facilidade, pois ela não oferecia resistência física para isso. E então, eu vi… aquele mesmo brilho raivoso nos olhos de Amy. Ela se levantou e caminhou em direção à Eve com a mão em riste, pronta para sugar cada gota de magia de sua irmã.

Eu que estava apático e sentado no sofá da sala, apenas olhando para o nada e deixando Eve me insultar de todo o repertório infantil e limitado dela, ergui meus olhos para a gêmea mais nova rapidamente.

LAÇOS MORTAIS | Bonkai |Where stories live. Discover now