Como um fragmento

1.1K 63 20
                                    

Usa a sua magia para iluminar o caminho e pelo menos mandar o nevoeiro embora por onde passávamos. Era escusado dizerem que toda a gente ficou a olhar para nós, por não aceitarmos o desafio, mas por um lado, tratava-se da sucessora ao trono de Solaria, então, quem queria dizer algo, ficou apenas pelos pensamentos, que surpreendentemente até não eram assim tão negativos como pensei que pudessem ser. Alguns alunos até nos seguiram até o final, aproveitando a luz. Chegando a ouvir relâmpagos ao fundo, fez a Stella aumentar o seu poder. A sua irritação para além de ser superficial, fazia sentido. Percebia-a. Ela tinha bastantes motivos para ser cautelosa.

Acabando assim a nossa visita, mais rápida que pensei que fosse ser. "Melhor prevenir do que ter que cancelar todos os meus planos reais. Não têm de quê."

"Realmente, era um bocado perigoso de mais, não acharam?" Pergunta a Terra, a sua ansiedade a se desvanecer.

"Fizeste bem Stella, mais vale ser cuidadosa do que algo acontecer, mesmo que seja um desafio."

"Por isso é que não sou fã da Festa Anual. Há sempre algo que não faz sentido." Ela marcha, num passo pesado para fora da floresta. "Não vêm?" Ela vira-se para trás.

"Sim sim, madame." Diz a Bloom com um sorriso na sua cara, quase correndo para a apanhar.

Depois de um banho tomado e roupas limpas, estávamos como novas. Eu pelo menos sentia-me muito mais tranquila e longe daqueles sentimentos todos que me faziam ficar nervosa.

"Vais voltar connosco, não vais?" Pergunto à Stella.

Ela suspira. "Se não sou eu a salvar aquela gente, quem o irá fazer? Bora lá!"

A minha ansiedade começava a crescer ao chegar lá. Não só pelos variados sentimentos que sinto, mas por saber que irei ter que enfrentar isto outra vez e agora seria ainda pior, pois teria que ficar mais concentrada no que os outros sentiam. Suspiro pela milésima vez hoje. Iria correr tudo bem, penso para mim. Já bastava os maus sentimentos que sentia do exterior, não precisava de também ser negativa.

Depois de termos experimentado a Festa, decidimos ficarmos no início, onde a Bloom e a Aisha poderiam usar mais os seus poderes. Decidi ficar com elas.

Estando já nas árvores, depois de subirmos com a ajuda do poder da Terra, comecemos a avaliar o ambiente. Eram mais pessoas agora do que anteriormente, o que apenas complicava para mim.

Tento respirar fundo e ler apenas os sentimentos e ignorá-los, não deixando me afetar. Não eram sentimentos meus, por isso, iria tentar o meu melhor que não me afetassem negativamente, para além de ser uma forma de poder controlar o meu poder.

"Não será demasiado para ti?" Pergunta a Bloom a ler os meus pensamentos.

"Um bocado, mas quero fazer isto." Digo com afinco.

"Se for, não fiques aqui, não quero que te sintas mal por causa disto..." Preocupa-se.

"Ficarei bem..." Tento tranquilizá-la. "Podem atuar naquele grupo ali." Aponto.

"Depois de ti, Bloom!" Avisa a Aisha.

A Bloom lança uma cortina de fogo para a nossa frente com cuidado para não baixar demasiado ou poderia magoar alguém. Rapidamente, a Aisha apaga o fogo com uma tromba de água, formando, assim, uma névoa húmida que até nos atingia a nós.

O grupo mais próximo estava mais tranquilo, uma completa diferença de sentimentos. A ansiedade não era tão percetível, o que resultava numa mente mais calma e mais fácil de ler. Deixava-me mais tranquila. Consigo ler traços de memórias de um dos alunos. O meu poder amostrava-me o poder do fogo. Fadas do fogo. Por isso a mente mais calma, estavam no seu ambiente. Achava raro conseguir ler tão facilmente uma memória só apenas com um pouco de foco, mas sinto a minha mente mais aberta. Não sentia o meu poder tão preso e escondido. Agora senti-o mais livre, mais amplo.

Mas os meus pensamentos são mudados quanto a minha mente muda para a mente do Riven. Não só a minha mente, mas também o meu corpo, que se arrepiava, como se fosse sensível a ele.

Lá estava ele a entrar pela floresta a dentro. Mas os sentimentos que estava a sentir eram tão diferentes do que costuma a ter. Aonde estava a confiança e a alegria? Agora só sentia ansiedade e nervosismo. O seu olhar vagueava por todo o lado, para as imensas pessoas presentes que paravam para o olhar e para comentarem algo.

Fragmentos de memória voltavam outra vez a mim. Vinham a mim memórias da Beatrix, dele e até de mim. Conseguia perceber o porque de estarem todos a comentarem sobre ele. As memórias menos boas dele ainda estavam muito presentes. Muitas delas ainda não acreditavam nele. Muitas eram apenas maldosas. Outras apenas ignoraram e continuaram a sua visita.

Isto enfurecia-me. Conseguia sentir a sua indecisão. Não vás. Os bons sentimentos que ainda tinha em mim, devido a ele, tento transmiti-los. Dou-os. Quero apenas que sintas coisas boas. Não estás sozinho. Eu estou contigo.

Memórias do nosso beijo. De quando ele me salvou a vida. Por mim. De como cuidara de mim, não as deixava de sentir. Sentia-as tanto que não as conseguia guardar para mim. Tinha de partilhar com ele também. Os meus olhos e o meu poder focados nele. O meu corpo que se arrepiava a cada sentimento e memória. O meu poder era cada vez maior, mais forte. Demasiado para mim.

A minha cabeça corria a milhões e só dou por ela que estou a flutuar quando ouço os gritos e espantos. Já não estava mais apoiada na árvore. Mas isto não importava. Só ele e eu importava agora. Sentia o meu poder em torno de mim, não apenas dentro de mim, mas envolvendo-me. Inconscientemente, sabia o que estava a acontecer. As asas nas minhas costas falavam por si. Mantinham-me no ar. Eram parte de mim, como sempre fossem minhas. Como se fosse uma extensão do meu poder. Nunca me sentira tão bem como antes. Tudo fazia sentido. A minha mente para além de estar consumida pelo Riven, e da nossa conexão, como um elo que nos ligava, um fragmento que antes quebrado, agora estava completo. Demorou, mas encontrei-te.

Ele olhava para mim com uma expressão de espanto. O nosso poder envolvia-nos agora, como uma eletricidade e ondas roxas que nos deixavam protegidos do exterior. Eramos apenas nós. E finalmente agora conseguia transmitir-lhe tudo o que queria. Cada memória e cada sentimento que o fazia sorrir. Tão bom vê-lo a sorrir. Raramente o fazia.

Regresso ao chão. Ele queria falar mas não tinha palavras para o fazer. Seguro-lhes as mãos. "Não estás sozinho. Tens me a mim agora. Não te irei deixar." Digo as palavras que queria dizer à pouco.

"Não importa o que os outros pensam. O que importa és tu, pois tu sabes o que tu és. Eles não têm que gostar de ti, e tu não tens que lhes dar atenção." Chego-me mais perto a ele, colocando a minha mão direita no seu peito. "Não te esqueças de quem és. Corajoso, bondoso, empático. Tens um bom coração e se eles não conseguem ver isso, não importa. Continua a ser essa pessoa que eu amo, por favor." Era o que eu sentia. Já a algum tempo, e só me tinha apercebido à pouco tempo. Não era um sentimento leve, ardia e irradiava luz por todo o meu corpo, como se ele fosse o que me tivesse faltado desde sempre. Com ele, sentia-me completa.

"Contigo a teu lado consigo tudo. Por achas que não te largo?" Rimo-nos. "Só tu me entendes como ninguém. Só tu que me fazes sentir uma pessoa melhor. Eu sou uma pessoa melhor devido a ti, e por isso, não penses que te vou deixar ir."

"É bom que não desperdices uma fada da mente. Nunca se sabe quando serei precisa."

Não era preciso dizer mais nada. Os seus sentimentos falavam para mim. Os seus olhos brilhavam como nunca. Apenas o físico agora podia se manifestar, envolvendo-nos num beijo repleto de paixão, diferente de todos os beijos que já tivemos. A paixão falava alto do que sempre a senti.

"Amo-te." Ele diz contra os meus lábios.

"Eu sei. Também te amo." De todos os sentimentos que sentia esse era mais alto, o mais presente. O fogo que ardia sem se ver. Apenas se sentia.

Ele risse. "E parece que o teu poder sofreu bastantes progressos." Ele olha em redor. "Asas?"

"Sou mais poderosa do que nunca. Devido a ti, por ti, aceitei o meu poder, deixei-o crescer. Já não sou a mesma..." Mas cambaleei-o para trás, sentindo-me fraca.

"Wow, estás segura, não te deixo cair, ok?" Ele segura-me firmemente. O meu poder voltando ao normal. A minha transformação a ir-se embora. "Nunca."

FIM

FragmentoWhere stories live. Discover now