A calma depois da tempestade

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A dor que estava a sentir, vinha nada mais, nada menos, do que o Riven. Não tinha nada haver com a dor que sentira hoje de manhã, mas ainda era bastante notável. Sentia que tudo queimava, tudo ardia.

Ele abre a porta mas vê a minha situação e, então tenta fechar a porta mas empeço-o.

"Espera, Riven. Dá-me só uns segundos." Falo entre respirações, a tentar perceber e a controlar esta dor que chegara a mim tão inesperadamente.

"Porque raio... tens sempre que usar o teu poder?" Ele fala também entre pausas, queixando-se devido à dor.

"Sabes muito bem que não o consigo controlar!" Digo irritada. "Se podesse não o sentia." Digo, num suspiro.

"Então vai-te embora e volta quando eu estiver melhor." Ele tenta tirar a minha mão da porta, mas quando me toca, a dor intensifica-se, mas a dele desvanece por meros segundos, o que o faz largar de imediato o meu braço. Agarro rapidamente no seu braço com a minha mão direita, sem o deixar ir.

"Musa, nem penses." Tenta tirar a minha mão.

"Shiu. Deixa-me ajudar-te." Digo com pequenas pausas devido à dor que se intensifica. Entro para dentro do dormitório e fecho rapidamente a porta. Encosto-me à parede e puxo-o para mim, agarrando com a minha mão esquerda o mesmo braço para não o deixar fugir mas também para poder ter mais controle sobre o que estou a fazer.

O que sinto é como uma balança que se vai desiquilibrando. Fica pesada para mim, mas para ele, fica leve, o que, em certo ponto, me trás tranquilidade pois sinto também o seu alívio.

Não era de todo a primeira, nem segunda vez que atenuava a dor a alguém, mas também não me lembro de estar tão concentrada como desta vez. Sentia o meu poder e concentração altíssimos, focados no que estava a fazer. O meu corpo respondeu bem, quis de imediato ajudar-lo, mesmo em antes de eu o se quer pensar. É a conexão. Abro os olhos e sorrio. Não sei porquê, mas sentia-me feliz. Sentia-me positiva e bem, apesar da dor que sentira segundos atrás. Era a calma depois da tempestade.

Não me lembrava de me sentir assim tão bem. Fora como se, de certa forma, o certo que tinha a fazer, era aquilo. Ajudar-lo. Sentia-me realizada e atrevo-me a dizer mais completa do que alguma vez me senti.

Sentia-me tão feliz que nem dei muita importância ao quão próximo o Riven estava de mim. Ele estava, praticamente, em cima de mim com a sua cabeça e braço apoiados na parede em que estou encostada. A sua respiração é rápida e profunda, tal como a minha.

Com uma profunda inspiração, ele desapega-se de mim. "Tens que parar de fazer isso." Diz-me com uma voz baixa mas mais leve do que anteriormente. Olhava-me olhos nos olhos. Um palmo de mão era a distância que distanciava as nossas caras um do outro.

Não o consigo ver muito bem, porque para além de o sol já se estar a pôr, tinha a luz apagada, o que tornava o quarto escuro, apenas iluminado pela restante luz do por do sol.

Conseguia ver o brilhar dos seus olhos esverdeados, que agora pareciam muito mais escuros, a observarem-me. Nunca tínhamos estado assim tão perto e nunca tinha olhado assim tanto tempo para ele. Parecia enfeitiçada no seu olhar e todos aqueles bons sentimentos que alguma vez me fez sentir, vieram à tona pela segunda vez hoje, o que me fez ficar ainda mais intrigada.

Sem quebrar o contacto visual, ele retira, lentamente, o seu braço que ainda estava agarrado pelas minhas mãos, o que me faz despertar.

Tento formular uma frase decente. "Não prometo nada." E não minto. Não iria hesitar em ajudar-lo.

Ele dá um sorriso, mantendo agora uma distância maior entre nós. "Não o devias."

"Não tens de quê."

"Obrigado... Mas não tinhas mesmo de o fazer."

"Não interessa. Só retribuí o favor." Sorrio. "E agora devias de aproveitar para descansar. Não estás livre delas." Coloco a mão na maçaneta da porta. Por um lado, queria deixar-lo descansar, já que por agora, não sentia dores quase nenhumas, mas por outro lado, queria tentar perceber o que estava a sentir, e estar à beira do Riven agora, não me iria ajudar. Sentia-me guiada por impulsos e isso não era bom.

"Mas ainda agora chegaste." Reclama.

"Descansa, a sério. Falamos noutro dia." O assunto da conexão invade a minha mente. Precisava de lhe contar. Ele precisava de saber.

"Não vais mesmo mudar de ideias, pois não?"

"Não. Por isso, vemo-nos amanhã." Abro a porta.

"Nah nah nah, sem visitas enquanto estiver assim. Não penses que vais andar sempre a fazer isto. É mau para mim quanto mais para ti que sentes a dobrar."

"Não te preocupes, sentimentos é comigo. Consigo aguentar-los melhor do que pensas."

"Controlar é que já é outra história..." Ele diz.

Se apenas ele soubesse... Mas ficaria para outro dia.

"Vemo-nos quando estiveres melhor então." Dou um leve sorriso.

Fecho a porta e só aí é que solto a respiração que nem sabia que estava a prender. Sentia-me irrequieta como se estivesse cheia de energia e a minha mente encontrava-se leve, mas ocupada de pensamentos bons. 

Ando num passo rápido até porque agora não conseguia ficar perto do Riven, ou pelo menos, sentir-lo na minha mente. O que me faz sorrir na mesma. Talvez apenas seja da adrenalina a correr-me nas veias, do grande foco, energia e poder que precisei de usar, mas sou rapidamente retirada dos meus pensamentos, quando esbarro em alguém. A minha mente bem como a minha conexão muda logo para o Sam. Sabia que mesmo sem olhar, era ele que se encontrava à minha frente.

FragmentoWhere stories live. Discover now