Má sorte

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Acordo de manhã cedo, com o despertador a tocar. Acordei apenas uma vez durante a noite, com ligeiras dores mas agora já as sinto bastante, não deixando saudades.

Será que hoje seria o dia que tudo isto acabaria? Pelo menos iria ver o meu pai. O previsto é ele chegar hoje à tarde.

Estava na hora de ir, mais uma vez, fazer o curativo. Teria de ser assim por enquanto, sofrer, por três vezes durante o dia.

Sentia-me com dores de cabeça, e um bocado quente para além das dores que sentia. Mas que bom, piorou, penso irónica para mim. Eu com as dores ainda ia aguentando, o pior é se sentisse muita febre.

Ao vestir-me, vejo no espelho que a infeção se espalhou durante a noite. Olho para o meu ombro esquerdo e observo já a infeção a dirigir-se para o meu peito, consequentemente em direção ao meu coração e pulmão esquerdo, pelo braço, por trás nas costas, mas aonde denoto que avançou mais, foi no meu pescoço, em direção à minha cara, olhos e cabeça. Estaria visto que chegaria primeiro ao meu coração do que chegaria à cabeça. Até ao meu coração parar, reflito para mim. Mas pensar nisto não iria me ajudar em nada a não ser ficar ainda mais triste. Teria que manter a minha esperança de que a minha salvação iria chegar, em breve, em antes que algo horrível acontecesse. Visto-me e apenas levo o meu telemóvel e os meus auscultadores.

Desta vez enquanto estive na Estufa não houve notícias sobre a missão, apenas o que soube, pelo senhor Harvey, era que eles se dirigiam mais para dentro da floresta, mas de acordo com as minhas feridas, tudo se mantinha igual, pois elas continuavam comigo. A infecção tinha avançado mais três centímetros durante a noite. As dores são cada vez mais infernais, mas até já me começo a habituar à dor, de tantas vezes que a sinto, no momento e depois.

"Que tal hoje ficares pelo teu quarto? Combinas com elas e tomam o pequeno-almoço juntas?" Expõe o Sam, com um sorriso.

A ideia parece-me tentadora. Tudo o que precisava era silêncio, não de confusão e sentimentos por todo o lado que olhava. "Ok, parece-me bem. Vou mandar uma mensagem à Terra."

"Eu depois de acabar aqui, tenho aula, mas depois eu passo pelo dormitório, está bem?" Avisa Sam.

"Sim, está bem." Concordo.

"Prontos, vai lá então." Diz-me e dá-me um beijo.

"Até logo." Digo e levanto-me mas lembro-me rapidamente e então viro-me para trás. "Alguma coisa que saibas, diz-me, está bem? Não te esqueças."

"Sim, não te preocupes." Diz, com outro sorriso.

Sorrio também e dirigo-me ao meu dormitório. Ao sair da Estufa, recebo uma mensagem da Terra a dizer que tratava de tudo e que podia ir ter ao dormitório. A ideia de ter que evitar pessoas era um alívio para mim, não estava mesmo nas melhores condições. Escrevo de volta, a agradecer, dizendo que ela é a melhor. Coloco os meus auscultadores, e ouço até chegar lá.

O dormitório está vazio, sinal que foram todas ao refeitório. Fico no meu quarto à espera delas.

Uns dez minutos depois chegam elas.

"Olha só o que nós trouxemos!" Diz a Terra, a abrir a porta do nosso quarto, dirigindo-se a mim.

Abre o tabuleiro e vejo panquecas.

"Panquecas? Mas hoje não é sexta." Eu até não estava com muita fome devido a estar com um pouco de temperatura e desconfortável com a dor, mas aquelas panquecas abriram-me o apetite.

"Foi um pedido especial." Diz a Aisha a chegar à minha beira.

"Oh vocês são uns amores. Obrigada, mas não era preciso." Digo a pegar no meu tabuleiro.

FragmentoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora