Verdades conflituosas

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Uma hora depois, o Riven dormia pacificamente. Devido aos choques elétricos da Beatrix, tinha como esperado, as costas queimadas. Podia ser muito pior caso não tivesse com o seu equipamento de treino que o protegeu de danos piores.

O que também era esperado, era o interrogatório. Eram necessárias explicações e como não havia sinais da Beatrix em lado nenhum, sobrava eu para o interrogatório. Os professores, bem como a Diretora Downling, não estavam a par de nada e, por isso, queriam explicações, razões e possíveis motivações para o que se sucedera. Seria escusado dizer de que tive de ser totalmente honesta. Não podia, mas também não queria mentir. Estava farta de manter estes segredos que de alguma forma levaram a um agravamento desta situação. Para além de me ter custado contar tudo, principalmente sobre a conexão de que ninguém tinha conhecimento sobre, a não ser o Sam, teria de ser verdadeira, pelo bem de todos. Mencionei desde a nossa aproximação de mim e do Riven, as ameaças da Beatrix e, claro, a minha conexão com ele. 

Depois de sairmos do escritório da Diretora Downling, eu e o Sam, decidimos ir para o dormitório, já que tinha faltado à aula. Ele agora sabia de tudo até ao último detalhe, e a cara dele não mostrou agrado em nenhuma parte de que ouvira.

"Ok, deixa-me ver se percebi bem..." O Sam pára a meio do caminho. Conseguia perceber que estava confuso e ao menos tempo incrédulo. "Supostamente a Beatrix agiu por ciúmes?"

"Eu própria o senti." Paro ao seu lado. "Isso e claro por controle." Esclareço, mais uma vez.

"Mas ciúmes de quê?" Pergunta.

"Ela não pode ver nenhuma rapariga perto dele ou lança as suas garras." Tento brincar um pouco com a situação embora que tudo o que sentia era preocupação e receio não por mim, mas pelo Riven. Ele é que saiu o prejudicado disto tudo.

"Devias de me ter contado. Sabes muito bem do que a Beatrix é capaz."

Fico em silêncio por uns segundos, a remoer nos meus pensamentos. A minha mente estava uma completa confusão. Sentia-me aliviada por ter contado tudo mas simultaneamente também me sentia culpada por não o ter feito à mais tempo. Não dei importância e deixei agravar a situação. Devia de ter tido mais cuidado e não o tive. Outra vez. Mais uma falha minha para registar.

"Mas também não era de admirar, nada com eles os dois dá certo. Aonde eles estam há caos." Diz Sam.

"Ele não tem culpa nenhuma. Ela é que não o deixa em paz." Decido me prenunciar.

"Como sabes que ele não te mente? Que afinal é tudo um jogo deles os dois?" Ataca com as suas dúvidas.

"Não mistures como o Riven é com a malvadez e horrorosidade da Beatrix. Os dois não têm nada haver."

"Musa, não tens a certeza como ele realmente é, e dado à sua história e boatos que percorrem pela escola toda, eu não acreditaria em uma palavra do que ele diz. Até os professores ficaram com dúvidas."

"Eu sei que sim, mas tal como eles devias de verificar realmente em vez de acreditar no que as pessoas dizem. Ou acreditar em mim."

"Musa, porque simplesmente não perco o meu tempo com alguém assim. Já tive demasiadas quezílias com ele. Mas desta vez não escapa de ter uma conversa comigo." Diz com afinco.

"Pra quê? Não basta a Beatrix andar sempre atrás dele e a escola inteira nas suas costas, mais tu? Pra quê?" Pergunto mais uma vez, com os meus braços abertos, já indignada.

Ele respira fundo. "Quero mesmo saber se está a dizer a verdade." Ele dá um passo na minha direção. Consigo detetar preocupação mas claramente um pouco de frustração também. "Não te deixes enganar só porque falaste umas vezes com ele... Não falo assim dele só porque sim, já lidei o bastante com ele para perceber como ele é e, aliás, se ele tivesse mudado não estaria com a Beatrix nem teria acontecido o que aconteceu agora."

Tento não me rir. "Achas que eu, uma fada da mente, não saberia se ele me estivesse a manipular?" Fico incrédula como ele pode ser tão ingénuo ao ponto de nem sequer lhe dar o benefício da dúvida, principalmente depois do que ele me fez e do quanto ele se está a tentar remedir, mas tal como o Sam, deixa-se ser influenciado pelas bocas alheias. "Para além do mais, se ele fosse assim tão horrível, não teria feito o que fez por mim. Nem se quer se tinha preocupado se eu vivia ou não. E por último, se não acreditas problema teu, mas eu sei bem e acredito nele cem por cento, quando me diz que ele está farto dela, portanto Sam, por favor... apenas pára." Suspiro e dou-lhe de costas. Já não o podia ouvir mais e as suas suposições.

Certamente que o conhecia melhor que ele. Tem sido uma boa e surpreendente descoberta. Estou a conhecê-lo como ninguém o pode. Ele deixa-me vê-lo como realmente ele é. Ele consegue ser ele mesmo comigo. Talvez porque o entendia como nunca ninguém o entendeu ou talvez como uma fada da mente acho que ajudava a lê-lo melhor, a ler os seus sentimentos e não aquilo que tenta disfarçar ser. Consigo ir além daquele véu que ele colocara, aquela mascara de menino mau, que realmente era nada mais, nada menos, que uma defesa contra os seus medos e inseguranças.

"Se eu não tivesse visto, irias me fazer igual?" Ouço o Sam.

Viro-me para trás não entendendo ao que se referia.

"Sobre a conexão." Explica.

Fecho os olhos e respiro fundo. Sabia bem que um dos problemas do Sam era a conexão entre mim e o Riven. Conseguia sentir daqui a sua frustração mas também uma ligeira mágoa. Ele estava magoado, por eu a ter.

"Não iria saber também? Porque? Têm algum razão que não possa saber?" Pergunta necessitando de respostas.

"Não passa de uma mera conexão, e nem sequer sei porque a tenho..." Tento acalmar os ánimos.

"Talvez passou-se o mesmo que foi comigo. Algo te intrigou nele?" Supõe.

Suspiro. "Talvez? Não sei, Sam..." Digo com receio. Nem sequer tinha pensado muito nisso.

"Juro que não faço a mínima ideia como te conseguiste conectar com alguém assim..." Ele olha para o chão. Decepção estampada na sua cara.

"Sam..." Tento encontrar palavras para lhe explicar, algo, mas nada sai.

"Quando souberes a razão, diz-nos." Dá meia volta e vai-se embora deixando-me ali, no meio do corredor, com mil pensamentos e sentimentos à flor da pele.

Não sabia o que sentir, mas sei que era uma mistura entre frustração e incerteza. As lágrimas ameaçavam cair. Estava duvidosa e procurava respostas para o porque da minha conexão com o Riven. E por mais que negasse, as palavras do Sam faziam sentido. Tinha que aceitar que havia algo no Riven que me intrigava, que me impulsionava, que me atraía. Não sentia qualquer dúvida e sabia que ele fora sempre honesto comigo, ao contrário do que o Sam possa pensar e isso deixava-me furiosa, porque ainda agora sinto todos os sentimentos que o Riven me fez sentir, desde as suas fúrias até aos positivos sentimentos que senti. Sorrio e guardo aquelas lembranças. Para o que ele precisasse iria estar lá para ele, tal como ele esteve sempre lá para mim.

Mas por agora precisava de descansar um pouco. Só queria desligar o meu poder por uns momentos. Chego e entro no dormitório. Estava sozinha o que me deixou mais confortável. Encosto-me à porta. Com os meus olhos fechados, tento respirar calmamente, respirando algumas vez fundo. Já não conseguia sentir o Sam, o que deixava a minha mente mais limpa de tantos pensamentos negativos.

FragmentoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora