Nem tudo o que parece é

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Quando estávamos a chegar à escola, decidimos que era melhor ser vista pelo Senhor Harvey enquanto a Aisha e a Stella iam procurar a Bloom pela escola. Riven, Terra e Sky foram comigo até à estufa.

A próxima hora resumiu-se num total sermão e questionário entre todos nós, Farah e Silva. A boa notícia era que a Bloom estava de volta.

"O caso de não saberem da Bloom, não é motivo de terem feito o que fizeram, foram descuidados e irracionais." Farah pára e suspira, abanando negativamente a cabeça. "A consequência dos vossos atos está aqui!" Diz, apontando para mim. "Que a situação da vossa colega sirva de lição." Conclui mais um dos seus múltiplos sermões e dirige-se à Bloom. "Enquanto a ti Bloom, o acordo era apenas atravessares a barreira apenas para as missões." Diz, olhando seriamente para ela.

"Foi totalmente irresponsável da minha parte. Eu senti-os e não me contive e fui atrás deles. No fim fiquei muito desorientada, perdi-me no tempo..." Confessa Bloom, atrapalhada e nervosa enquanto explica. "Eu podia ter-vos avisado, mas não consegui, eram demasiados." Diz com a mão na cabeça. "Mas também não valeria de nada, o meu telemóvel partiu-se enquanto estava a lutar." Explica, olhando para abaixo, com os olhos cheios de lágrimas. Mas como se tivesse lembrado de algo, olha para mim, de repente. "Mas eu assumo toda a responsabilidade e as consequências. Irei me remedir e pôr fim a isto. Vou matar o queimado que te fez isso, Musa. Prometo. É a única coisa que posso fazer, salvar-te a vida, como antes também arriscas-te a tua pela minha." Promete Bloom.

Eu queria responder de algum modo mas sinto-me tão confusa e inquieta devido a toda esta situação que nem consigo dizer nada. O Senhor Harvey parece que se apercebeu da minha situação. "Terra, porque não levas a Musa para o dormitório, ela precisa de máximo repouso." Aconselha.

Tento negar. "Não, está tudo bem, a sério. Eu quero estar aqui convosco, ajudar no que posso." Dou um meio sorriso.

"Ajudas e muito se tomares conta de ti. Tiveste um longo dia, tens que descansar." Aconselha também o Sam com a mão nas minhas costas.

"Tenho que concordar com o avança paredes, ele tem razão, Musa." Diz a apontar para o Sam.

"Sam." Clarifica Sam com pouca paciência.

"Sim, eu sei." Diz Riven e lança um sorrisinho.

Acabo por ceder e Terra leva-me ao nosso dormitório. Sinto-me mais calma quando chego ao quarto. Precisava definitivamente de uma pausa daqueles sentimentos todos e de tanta confusão que me estava a causar. Descansar parecia-me ser uma boa ideia agora.

"Não te esqueças de me contar tudo sobre o que vocês estão a pensar em fazer." Relembro.

"Amanhã conto-te tudo, não te preocupes com isso agora." Conclui Terra.

Depois de a Terra ter ido embora de volta à estufa, não conseguia adormecer de jeito nenhum. A minha mente não parava de relembrar o sucedido de hoje, por isso, decidi ouvir um bocado de música para me distrair, mas pouco me ajudou. Eu sabia muito bem que estava assustada, não iria ser fácil desligar-me do que aconteceu.

Eu não tenho medo, ok? Também não terás ecoam as palavras do Riven na minha mente. Pergunto-me como é que ele conseguiu estar tão calmo se segundos antes estava completamente passado. Talvez já estivesse habituado a esse ambiente devido às imensas missões em que participa, pensei para mim, tentando adivinhar. Mas na verdade, era mesmo desses sentimentos que senti dele, que precisava. Necessitava de me manter calma e, por isso, agarrei-me à lembrança do que senti hoje na floresta. Envolvo-me totalmente neles até que tudo o que sinta seja tranquilidade, serenidade e calma. Acabo por adormecer minutos depois.

Acordei durante a noite desconfortável pois estava com ligeiras dores no ombro para além de ter sonhado bastante. Tentei adormecer outra vez, ignorando a dor, mas não consegui. Com o corpo e mente irrequietos decidi pôr-me a pé e ir apanhar ar fresco. Tirei o meu pijama e vesti um fato de treino e um casaco. Peguei nos meus auscultadores e telemóvel e levei-os comigo. Saí do dormitório sem fazer barulho, e poucos minutos depois estava cá fora.

O céu estava estrelado e a lua cheia. Uma coisa era certa, nada melhor do que ouvir música e observar as estrelas, tentar encontrar constelações, confidenciar com a Lua. Deixa-me serena e, por isso, coloco os meus auscultadores e ligo a música na minha playlist favorita. Música eletrónica era o meu gênero favorito, acalmava-me e deixava-me feliz quando precisava, tudo em um único gênero. Sento-me na relva e fico, assim, durante uns bons minutos a olhar para o céu.

De repente, pelo canto do meu olho esquerdo, vejo uma sombra a se formar. Levanto-me rapidamente, tiro os auscultadores e quando olho bem, apercebo-me que se trata de Riven. "Ai que susto, Riven! Estás maluco? Que é que andas aqui a fazer?" Exclamo assustada e ao mesmo tempo chateada por ele me ter assustado assim, sentindo o meu coração a bater depressa.

"Eu já te estava a chamar à meia hora!" Risse.

"Ah." Percebo. "Estava a ouvir música, por isso é que não te ouvi." Explico, tentando me acalmar. "Mas também tinhas que me assustar assim?"

"Eu não acho que sou assim tão feio, mas que posso fazer, nem todos têm bom gosto." Brinca. 

Ele está muito bem disposto para o meu gosto, penso para mim mesma. Reviro os olhos e pergunto, tentando mudar de assunto. "O que fazes aqui, a esta hora?"

"Posso te perguntar o mesmo." Diz e tira um pequeno frasco de metal do seu bolso direito das calças. Abre e dá um gole. "És servida?" Pergunta e estende o frasco na minha direção.

"Não, obrigada." Cruzo os braços. Afinal já sei a razão devido à sua boa disposição.

"Tu é que sabes, mas iria ajudar-te a dormir." Aconselha, enquanto guarda o frasco. Foi como se tivesse adivinhado a minha razão por estar aqui.

"Como é que sabes que é esse o caso?" Pergunto de certo modo surpreendida.

"Bem, não negaste, pois não?" Pergunta com uma sobrancelha para cima. "Ou é isso, ou pelas dores que tens." Aponta para o meu ombro esquerdo. "Como é que está? Está pior?" Chega-se para a minha beira.

Dou um passo atrás, desta vez claramente surpreendida, por que acertou. "Oh não, estou bem, a sério." nego.

"É obvio que te dói." Diz num suspiro, voz baixa. "Já trocaste a ligadura mais alguma vez depois do Senhor Harvey?" Pergunta.

"Hum, não, não troquei mais nenhuma vez." Digo, mas penso para minha mesma, o porque do interesse dele assim de repente, até parece que está preocupado. Mas com uma viagem rápida à sua mente, sem se aperceber, denoto, de facto, preocupação vindo dele. Não me consigo conter e sorrio, meio que envergonhada e admirada, ao mesmo tempo.

"Que foi? Isto não é motivo para te rires." Diz, seriamente, olhando para mim.

É incrível como ele consegue mudar de um momento para o outro. Tal como ontem na floresta. "Estás preocupado comigo." Fito-lhe o olhar.

Ele olha para mim também. "Claro que estou, já te disse que isso não é para brincadeiras." Diz ainda sério.

"Eu sei, mas sei lá, pensava que o solitário Riven, não se importava com mais ninguém a não ser com ele mesmo."

"Pois, nem tudo o que parece é." Admite.

"Cá para mim acho que bebeste demais, ou estás a ser mesmo sincero. Dou-te o benefício da dúvida."

"Não, não estou bêbado, pelo menos por agora." Sorri. "Bem, e agora vamos à estufa, fazer um novo curativo." Diz-me e começa a andar em direção à estufa.

"O que? Riven, não é preciso, já combinei com o Senhor Harvey amanhã de manhã."

"Musa, olha às horas que já tens esse mesmo curativo. Tens que o trocar e colocar mais Zanbaq." Diz, tentando me convencer.

Reviro os olhos e suspiro. "Está bem, prontos." Lá cedo, não me apetecia estar a contradizer, para além que sei que me iria aliviar as dores.

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